Dia 3 de maio é considerado pelas Nações Unidas
como o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa. Mas há pouco que se
comemorar, como mostra um relatório da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF):
2014 foi um ano de graves retrocessos no que diz respeito à liberdade de
expressão e informação.
O Brasil, que até 2013 era o país mais perigoso das
Américas para o exercício do jornalismo, retrocedeu uma posição e está em 99°.
Não é exatamente por mérito próprio, mas porque o México deu uma aula de
coerção no período. "Assassinatos, sequestros, ataques físicos e ameaças
passam quase inteiramente impunes, aumentando o medo e a auto-censura",
critica o texto que acompanha o relatório da ONG.
Além disso, o México sofre com alta penetração do
crime organizado entre a classe política e agentes da lei, o que torna o
próprio Estado cúmplice de uma série de atentados contra a vida de
profissionais da mídia. "Os mecanismos federais para a proteção de
jornalistas e agentes de direitos humanos não são suficientemente rápidos nem
efetivos para ajudar comunicadores em perigo", segue o texto. Assim como
no caso brasileiro, a mídia mexicana carece de pluralidade e as rádios e
televisões comunitárias são alijadas das frequências legais. Portanto, estão
sujeitas a perseguições, sem proteção estatal.
Se o relatório apresenta um consolo ao Brasil é um
elogio aberto ao Marco Civil da Internet, considerado pelos Repórteres Sem
Fronteiras como "pioneiro em matéria de proteção dos direitos civis"
na web. A ONG destaca ainda que jornalistas foram vítimas de "inúmeras
arbitrariedades" nas manifestações que sacudiram o país nos últimos anos e
lembra a implicação de autoridades locais nesse cerceamento à atividade da imprensa
- não só direta, mas também por compactuar com a "impunidade em sua
repetição crônica".
Próximos do Brasil estão Estados como Quênia,
Uganda, Líbano e Israel. Este último caiu cinco posições, principalmente por
conta da Operação Limite Protetor, que causou a morte de mais de 2,3 mil
palestinos e de 15 jornalistas. Os Repórteres Sem Fronteiras acusam o Estado
hebreu de censurar a imprensa durante a invasão da Faixa de Gaza, além de
atirar deliberadamente balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio contra
jornalistas palestinos.
Pé da lista
No pé da lista, aparecem países que exercem
controle absoluto sobre a mídia, como China, Síria, Turcomenistão, Coreia do
Norte e Eritreia. Não há perspectiva de melhora nestes casos, aponta o
relatório. Pelo contrário, entre os 20 países que menos respeitam a liberdade
de expressão "quinze foram piores neste ano do que no anterior".
Mas a piora não é uma exclusividade desses maus
alunos. Na verdade, dois terços dos 180 países avaliados retrocederam em
matérias de liberdade de imprensa. Para realizar a medição, a RSF utiliza um
sistema de pontos: quanto mais intensos e frequentes os atentados contra a
liberdade de expressão, maior a pontuação. Em escala mundial, o placar chegou a
3.719 pontos em 2015 - uma alta de 8% em relação a 2013 e 10% sobre 2012.
Maior regulação, mais liberdade
Como nos últilmos cinco anos, o país que mais
respeita a liberdade de expressão é a Finlândia, seguida por Noruega e a
Dinamarca. Não à toa, são os países que têm o maior número de leitores de
notícias e o maior volume per capita de órgãos de mídia - de todos os espectros
ideológicos. Mas, acima de tudo, são os que têm os mais fortes sistemas de
regulação da mídia.
Nos países escandinavos, os conselhos de regulação
da mídia funcionam como um "misto de ombudsman e tribunal", como
define um artigo publicado pela Columbia Journalism Review, em 2012. Um leitor insatisfeito
apresenta uma crítica contra determinado veículo, que tem direito de resposta.
Um grupo voluntário formado por jornalistas, editores e leitores avalia a
pertinência dos argumentos e determina se o veículo infringiu princípios éticos
da profissão.
Em caso positivo, o órgão de mídia é obrigado a
publicar uma retratação no mesmo espaço e com mesmo destaque dado à notícia
inicial. Quem financia os conselhos são os próprios grupos midiáticos. Mas isso
não implica poder decisório maior do que o dos outros membros do conselho. E
pensar que, no Brasil, controle social da mídia virou sinônimo de
autoritarismo...
Fonte: www.portugues.rfi.fr
Dia 3 de maio é considerado pelas Nações Unidas
como o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa. Mas há pouco que se
comemorar, como mostra um relatório da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF):
2014 foi um ano de graves retrocessos no que diz respeito à liberdade de
expressão e informação.
O Brasil, que até 2013 era o país mais perigoso das Américas para o exercício do jornalismo, retrocedeu uma posição e está em 99°. Não é exatamente por mérito próprio, mas porque o México deu uma aula de coerção no período. "Assassinatos, sequestros, ataques físicos e ameaças passam quase inteiramente impunes, aumentando o medo e a auto-censura", critica o texto que acompanha o relatório da ONG.
O Brasil, que até 2013 era o país mais perigoso das Américas para o exercício do jornalismo, retrocedeu uma posição e está em 99°. Não é exatamente por mérito próprio, mas porque o México deu uma aula de coerção no período. "Assassinatos, sequestros, ataques físicos e ameaças passam quase inteiramente impunes, aumentando o medo e a auto-censura", critica o texto que acompanha o relatório da ONG.
Além disso, o México sofre com alta penetração do
crime organizado entre a classe política e agentes da lei, o que torna o
próprio Estado cúmplice de uma série de atentados contra a vida de
profissionais da mídia. "Os mecanismos federais para a proteção de
jornalistas e agentes de direitos humanos não são suficientemente rápidos nem
efetivos para ajudar comunicadores em perigo", segue o texto. Assim como
no caso brasileiro, a mídia mexicana carece de pluralidade e as rádios e
televisões comunitárias são alijadas das frequências legais. Portanto, estão
sujeitas a perseguições, sem proteção estatal.
Se o relatório apresenta um consolo ao Brasil é um
elogio aberto ao Marco Civil da Internet, considerado pelos Repórteres Sem
Fronteiras como "pioneiro em matéria de proteção dos direitos civis"
na web. A ONG destaca ainda que jornalistas foram vítimas de "inúmeras
arbitrariedades" nas manifestações que sacudiram o país nos últimos anos e
lembra a implicação de autoridades locais nesse cerceamento à atividade da imprensa
- não só direta, mas também por compactuar com a "impunidade em sua
repetição crônica".
Próximos do Brasil estão Estados como Quênia,
Uganda, Líbano e Israel. Este último caiu cinco posições, principalmente por
conta da Operação Limite Protetor, que causou a morte de mais de 2,3 mil
palestinos e de 15 jornalistas. Os Repórteres Sem Fronteiras acusam o Estado
hebreu de censurar a imprensa durante a invasão da Faixa de Gaza, além de
atirar deliberadamente balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio contra
jornalistas palestinos.
Pé da lista
No pé da lista, aparecem países que exercem
controle absoluto sobre a mídia, como China, Síria, Turcomenistão, Coreia do
Norte e Eritreia. Não há perspectiva de melhora nestes casos, aponta o
relatório. Pelo contrário, entre os 20 países que menos respeitam a liberdade
de expressão "quinze foram piores neste ano do que no anterior".
Mas a piora não é uma exclusividade desses maus
alunos. Na verdade, dois terços dos 180 países avaliados retrocederam em
matérias de liberdade de imprensa. Para realizar a medição, a RSF utiliza um
sistema de pontos: quanto mais intensos e frequentes os atentados contra a
liberdade de expressão, maior a pontuação. Em escala mundial, o placar chegou a
3.719 pontos em 2015 - uma alta de 8% em relação a 2013 e 10% sobre 2012.
Maior regulação, mais liberdade
Como nos últilmos cinco anos, o país que mais
respeita a liberdade de expressão é a Finlândia, seguida por Noruega e a
Dinamarca. Não à toa, são os países que têm o maior número de leitores de
notícias e o maior volume per capita de órgãos de mídia - de todos os espectros
ideológicos. Mas, acima de tudo, são os que têm os mais fortes sistemas de
regulação da mídia.
Nos países escandinavos, os conselhos de regulação
da mídia funcionam como um "misto de ombudsman e tribunal", como
define um artigo publicado pela Columbia Journalism Review, em 2012. Um leitor insatisfeito
apresenta uma crítica contra determinado veículo, que tem direito de resposta.
Um grupo voluntário formado por jornalistas, editores e leitores avalia a
pertinência dos argumentos e determina se o veículo infringiu princípios éticos
da profissão.
Em caso positivo, o órgão de mídia é obrigado a
publicar uma retratação no mesmo espaço e com mesmo destaque dado à notícia
inicial. Quem financia os conselhos são os próprios grupos midiáticos. Mas isso
não implica poder decisório maior do que o dos outros membros do conselho. E
pensar que, no Brasil, controle social da mídia virou sinônimo de
autoritarismo...
Fonte: www.portugues.rfi.fr