Um
grupo de alunas com idades entre 13 e 17 anos deu início a um movimento que
contesta as regras de vestuário do Colégio Anchieta, um dos mais antigos de Porto Alegre. O abaixo-assinado nomeado
“Vai ter shortinho, sim” é destinado a coordenadores e diretores, e foi lido
por uma das autoras durante um ato que reuniu dezenas no intervalo do turno da
manhã, nesta quarta-feira (24).
As alunas dizem que a instituição não permite
o uso de shorts nas dependências da escola. “Eles falam que não é lugar de usar
shortinho. Mas essa é a nossa roupa. A gente tem o direito de usar a roupa que
a gente quiser”, observa Marina Stein, 14 anos.
Algumas relataram situações de
constrangimento. “Tem vários casos de meninas que já foram retiradas da sala de
aula, e pediram que elas vestissem uma calça de moletom ou que fossem para
casa, porque com aquela roupa não dava para ficar”, acrescenta ela, que é
estudante do 9º ano do Ensino Fundamental.
A petição online foi criada na
tarde de terça (23) e já soma mais de 6 mil assinaturas, até a tarde desta
quarta (24). No texto, as meninas pedem “que a instituição deixe no passado o
machismo, a objetificação e sexualização dos corpos das alunas e a mentalidade
de que cabe às mulheres a prevenção de assédios, abusos e estupros”.
“Já
ouvi de alguns coordenadores de que é desconfortável que a gente use shorts
porque os meninos ficam olhando. Mas isso é um pensamento machista. Não sei se
é da própria escola ou não, mas é uma opinião machista”, sustenta Giulia
Morschbacher, 15 anos, autora do texto.
A cartilha da escola diz que as alunas devem vestir “blusa de manga,
calça, bermuda, vestido ou saia”. “A bermuda tem que ser no joelho. Não pode
regata, não pode nem chinelo”, reclama Chiara Paškulin, 16 anos, estudante do
2º ano do Ensino Médio.
Diante
da repercussão e da intensa mobilização nas redes sociais, ela e outras meninas
convocaram um ato para o intervalo desta quarta (24). Com cartazes e vestindo
blusa preta e shorts, elas protestaram no pátio da escola e ganharam apoio de
meninos também.
“Esse assunto surgiu há muito tempo e todo ano eu sempre questiono essas
normas do vestuário. Eles [diretores do colégio] estão com uma ideia um pouco
errada do movimento. Eles acham que a gente quer usar só porque os meninos
podem usar. Mas não é isso simplesmente. A gente quer se inserir na sala de
aula esse tipo de discussão. Sobre feminismo, sobre questões de gênero”, afirma
Giulia, que também é aluna do 2º ano do Ensino Médio.
Logo depois do ato, algumas alunas foram chamadas para uma reunião com
o representante do Diretório Acadêmico da escola. "Eles foram bem receptivos
e disseram que vão conversar com outras equipes, de outras áreas da escola, e
nos dar uma resposta. Mas a gente vai continuar", frisa a estudante.
O G1 entrou em contato com o Colégio
Anchieta, que, por meio da assessoria de comunicação, explicou que em todo
início de ano letivo é encaminhado aos pais um material que fornece todos os
detalhes do regimento da escola, inclusive as normas de vestuário. A
instituição também se manifestou através de nota.
Confira
na íntegra:
"A assessoria de comunicação esclarece
que o Colégio Anchieta está acompanhando a reivindicação dos alunos de trazerem
para discussão temas da atualidade presentes no contexto educativo e social.
Por isso, reitera que está dialogando com a comunidade anchietana (alunos,
pais, professores, funcionários) sobre as questões em pauta, de acordo com seus
princípios e valores, bem como, seu modo de ser e proceder”.
G1.com
Tópicos:
NOTÍCIAS