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Fonte: Estadão
Um comunicado fixado no portão do cemitério e postado em redes sociais pede aos
moradores de Eldorado, no Vale do Ribeira, que “deixem para morrer de segunda a
sexta-feira, das 7 às 17 horas”. O que parecia uma brincadeira era um protesto
real dos funcionários da zeladoria do cemitério municipal, o único da cidade de
15,2 mil habitantes, contra o corte no pagamento de horas extras pela nova
administração municipal. “Não vamos mais fazer sepultamentos em feriados e fins
de semana”, dizia o post, assinado pelo coveiro Willian Almeida Bonilho, de 36
anos.
Willian e
seu pai são os únicos funcionários do cemitério municipal e, além de cuidar da
manutenção do local, exercem também a função de abrir as covas e realizar os
sepultamentos. Na sexta-feira, 3, eles foram surpreendidos ao receberem o
pagamento com o corte nas horas extras relativas a plantões de sábado e
domingo.
Inconformado,
Willian fez a postagem em sua rede social e pôs uma cópia no portão do
cemitério, com o aviso de que não trabalhariam mais nos fins de semana. “Como
ninguém sabe quando vai morrer, eu e meu colega teríamos que ficar presos, sem
viajar, nos fins de semana, a pedido da nova administração. O que nos resta é
pedir a todos que deixem para morrer de segunda a sexta-feira.” No último fim
de semana, eles não trabalharam, mas não morreu ninguém.
A postagem
foi compartilhada por moradores e chegou à prefeitura que, nesta segunda-feira,
6, chamou o funcionário às falas. “Ele e o pai são funcionários concursados e
cuidam bem do cemitério, mas o Willian foi açodado, não precisava ter feito
isso”, disse o chefe de gabinete Geraldo Benedito de Moraes.
O que houve,
explicou, foi um corte em horas extras que eram “presenteadas” a muitos
servidores e inflavam a folha de pagamento. “Havia um abuso que, inclusive,
está sendo objeto de apuração pelo Ministério Público, mas o corte feito pela
atual gestão não atinge as horas efetivamente prestadas em serviços
essenciais.”
Revezamento. De acordo com Moraes, os dois
servidores do cemitério vão se revezar para cobrir os fins de semana e, quando
exceder a jornada 40 horas semanais, as extras devidas serão pagas. Segundo
ele, a cidade é pequena e não tem mortes todo dia. “Às vezes passam 15 dias sem
morte e, desde que ele fez a postagem, não morreu ninguém.”
Willian
confirmou o entendimento com a prefeitura e, além de retirar o aviso no
cemitério, substituiu o post na rede social. Em nova mensagem, ele diz que a
questão das horas extras está resolvida e os plantões dos fins de semana no
cemitério vão continuar. “Ao contrário do que eu disse na minha postagem
anterior, se você quiser morrer em sábados, domingos e feriados, saiba que
estamos lá esperando a todos”, escreveu.
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