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Ivan Dias
Marques (ivan.marques@redebahia.com.br)
O luto é um
tabu tanto quanto a morte. Cada um tem uma forma e seu tempo para lidar com as
emoções que a situação traz. Assim, não há um método universal para tratar o
luto. É o que acredita a psicóloga Maria Júlia Uchôa, com formação específica
em Luto pelo Instituto de Psicologia 4 Estações, um dos principais do país no
assunto. Confira a entrevista:
Como se deve auxiliar uma pessoa
enlutada? O trabalho do psicólogo é essencial?
Quando a
gente pensa em morte, temos consciência de que não é algo esperado. Ela exige
uma mudança e uma adaptação muito grande. Não existe uma receita para superar o
luto. É preciso garantir um espaço de escuta de todas as emoções que isso
causa. A família e os amigos são muito importantes. Tem pessoas que conseguem
superar sem o auxílio de um psicólogo, depende de cada um. Toda vez que for
complicado, que o luto estiver atrapalhando a vida, o sono, o psicólogo entra
em cena.
Qual o maior desafio na superação do
luto?
Existem algumas fases, não são lineares, e
esse é o maior desafio. Desde raiva, depressão, não aceitação da morte, até
chegar à aceitação. A pessoa pode, aparentemente, aceitar rapidamente, mas na
primeira data importante, as emoções podem voltar. A sociedade determina um
período de luto. Tem o afastamento do trabalho, as missas e parece que as
coisas precisam voltar ao normal. Só que o luto precisa durar o que tiver que
durar. O primeiro ano é o mais complicado por conta das datas. São muitas
primeiras vezes: aniversário, Natal, datas comemorativas. O luto não é uma
coisa simples.
O que pode dificultar a superação de
uma perda?
Existem
fatores de risco. Rede de apoio frágil, pessoas que moram sozinhas, relações
mais estreitas - como mãe/filho -, perdas abruptas, todos com uma chance maior
de enfrentar um luto complicado, que leva bastante tempo pra seguir a vida.
Quais as especificidades do caso da
Chapecoense que você observou?
É um caso
que mexeu com a sociedade inteira e, às vezes, as pessoas não têm condições de
apoiar umas às outras. A morte já é um tabu, ninguém quer falar sobre o
assunto. Rituais religiosos, culturais ou da família ajudam a criar um
fechamento de ciclo. Houve homenagens, se falou, isso facilita a superação do
luto.
Tópicos:
SAÚDE