Margareth Vicente ficou abalada com a descoberta da doença, mas a enfrentou com otimismo: "Fiquei careca, usava lenços lindos, sempre de batom" |
Os seios são fontes de várias simbologias em diferentes
culturas. Motivo de inspiração e desejo, são também o órgão da amamentação, da
feminilidade e do prazer. A mama, contudo, adoece. O câncer é o mal que mais
acomete essa glândula — 28% do total de tumores —, sendo o tipo que mais
provoca a morte de mulheres no Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional de
Câncer (Inca), a estimativa é de 60 mil novos casos por ano em mulheres cada
vez mais jovens. Quanto mais cedo, porém, o diagnóstico, mais chances de cura.
A entidade informa que, quando descoberto no início, há 95% de probabilidade de
recuperação total.
“O
câncer de mama é uma patologia que, se diagnosticada precocemente, tem mais
chances de ser tratada e diminui a possibilidade de tratamentos, como a
quimioterapia e até a mastectomia”, explica Fernanda Salum, mastologista do
Hospital Universitário de Brasília. O tratamento do câncer de mama foi uma
dolorosa batalha para a coordenadora parlamentar de relações institucionais
Patrícia Goulart, 52 anos, que perdeu duas irmãs para a doença. “Uma delas teve
um câncer que não era compatível com o remédio, enquanto a outra apresentou
sintomas muito agressivos e não teve tempo. Passei por todas as etapas,
começando com o autoexame, e tenho certeza de que as medidas preventivas me
fizeram estar aqui hoje”, conta.
Após quase um ano de quimioterapia e recuperação de uma mastectomia para tirar os dois seios, Patrícia finalmente se curou. Hoje, vê as cicatrizes com naturalidade e pretende tatuar flores no local da cirurgia. Nos próximos 10 anos, ela precisa de medicamentos com hormônios. “Mas agora é vida normal. Sou divorciada, saio com frequência, conheço pessoas diferentes e, sim, eu paquero. Tive vergonha, mas hoje tenho orgulho do meu novo modelo de corpo”, comenta. Os lenços que Patrícia usou enquanto estava sem cabelos foram repassados a uma amiga. Hoje, a “sacolinha da sorte” está com a sexta “dona”. “A gente passou de uma para a outra, como um símbolo de luta, mas de sorte também.”
Após quase um ano de quimioterapia e recuperação de uma mastectomia para tirar os dois seios, Patrícia finalmente se curou. Hoje, vê as cicatrizes com naturalidade e pretende tatuar flores no local da cirurgia. Nos próximos 10 anos, ela precisa de medicamentos com hormônios. “Mas agora é vida normal. Sou divorciada, saio com frequência, conheço pessoas diferentes e, sim, eu paquero. Tive vergonha, mas hoje tenho orgulho do meu novo modelo de corpo”, comenta. Os lenços que Patrícia usou enquanto estava sem cabelos foram repassados a uma amiga. Hoje, a “sacolinha da sorte” está com a sexta “dona”. “A gente passou de uma para a outra, como um símbolo de luta, mas de sorte também.”
Com o
objetivo de chamar a atenção e divulgar histórias como a de Patrícia, surgiu,
na década de 1990, no Estados Unidos, a campanha Outubro rosa, hoje difundida
em diversos países. No Brasil, a primeira iniciativa partiu de um grupo de
mulheres, em 2002, e foi marcada pela iluminação rosa do Obelisco do
Ibirapuera, em São Paulo — em 2 de outubro, na comemoração dos 70 anos do
encerramento da revolução, o monumento ficou iluminado com a cor da campanha.
Anos mais tarde, entidades relacionadas ao câncer de mama iluminaram de rosa monumentos e prédios em diversas cidades. Aos poucos, o Brasil foi ganhado a simbólica cor em todas as capitais e o mês de outubro tornou-se símbolo da luta pela prevenção e tratamento. “A gente vê que, em outubro, aumenta a solicitação por mamografia. A fila cresce e a quantidade de exames, também”, diz Fernanda Salum. O Ministério da Saúde registra um crescimento de 35% na realização de exames, que passou de 3 milhões, em 2010, para 4,1 milhões em 2016. Até julho deste ano, foram realizados um total de 2,1 milhões de testes.
Anos mais tarde, entidades relacionadas ao câncer de mama iluminaram de rosa monumentos e prédios em diversas cidades. Aos poucos, o Brasil foi ganhado a simbólica cor em todas as capitais e o mês de outubro tornou-se símbolo da luta pela prevenção e tratamento. “A gente vê que, em outubro, aumenta a solicitação por mamografia. A fila cresce e a quantidade de exames, também”, diz Fernanda Salum. O Ministério da Saúde registra um crescimento de 35% na realização de exames, que passou de 3 milhões, em 2010, para 4,1 milhões em 2016. Até julho deste ano, foram realizados um total de 2,1 milhões de testes.
Bom
humor
A jornalista Margareth Aparecida
Vicente, 56, venceu a doença. Aos 50, quando se submeteu a exames de rotina,
recebeu o diagnóstico do tumor, em fase inicial. Ela diz que, no começo, ficou
abalada, mas depois resolveu encarar tudo com bom humor. “Eu tinha duas opções:
ou fazia o tratamento de mal com o mundo, ou fazia o tratamento de bem com
tudo, o que facilitaria muito a minha vida”, ressalta. “Fiquei careca, usava
lenços lindos, sempre de batom, sempre de maquiagem, não parei de trabalhar”,
afirma, sorridente. No caso de Margareth, os médicos fizeram uma cirurgia
chamada quadrantectomia, em que é retirado somente o quadrante onde o tumor
está localizado. Quando se pensa na doença, logo vem à mente a retirada total
do seio, mas isso não é uma regra. “Se o câncer for pequeno e a mama, não tão
pequena, a gente consegue retirar o tumor preservando o seio”, frisa Fernanda
Salum.
Na luta pela cura, Margareth percebeu a dificuldade no acesso às informações sobre a doença e na forma como as mulheres lidavam com a situação. Foi então que criou o blog Mama Mia, para falar da experiência e divulgar conhecimento sobre a patologia. “Passa a ser uma missão. O meu blog é para ajudar as pessoas de maneira bem-humorada e descontraída. Eu fazia entrevistas com médicos, esclarecendo o que é mito e o que é realidade”, conta. A partir daí, a jornalista entrou para um grupo de mulheres que têm ou tiveram câncer. Hoje, é coordenadora da turma e já ajudou mais de 4 mil pessoas a passarem pela doença com a cabeça erguida. “Somos todas amigas que se amam, trabalhamos juntas para ajudar mais mulheres, compartilhamos informações que a gente não conversa com o médico, como dicas para cabelo, unha, pele”, relata.
Na luta pela cura, Margareth percebeu a dificuldade no acesso às informações sobre a doença e na forma como as mulheres lidavam com a situação. Foi então que criou o blog Mama Mia, para falar da experiência e divulgar conhecimento sobre a patologia. “Passa a ser uma missão. O meu blog é para ajudar as pessoas de maneira bem-humorada e descontraída. Eu fazia entrevistas com médicos, esclarecendo o que é mito e o que é realidade”, conta. A partir daí, a jornalista entrou para um grupo de mulheres que têm ou tiveram câncer. Hoje, é coordenadora da turma e já ajudou mais de 4 mil pessoas a passarem pela doença com a cabeça erguida. “Somos todas amigas que se amam, trabalhamos juntas para ajudar mais mulheres, compartilhamos informações que a gente não conversa com o médico, como dicas para cabelo, unha, pele”, relata.
Prevenção
Além da mamografia, o Outubro rosa alerta para a
importância do autoexame. Segundo pesquisa do Inca, de 2016, 66,2% das
descobertas da doença ocorrem pelas próprias pacientes. O coordenador-geral de
Oncologia do Hospital Santa Lúcia, Fernando Maluf, ressalta a importância do
autoexame, mesmo em quem tem menos de 40 anos. “A incidência em mulheres novas
vem aumentando”, informa. “A mamografia anual para essas mulheres não é
necessária, exceto nos casos de histórico familiar.” Segundo Maluf, uma em cada
10 mulheres tem ou vai ter o tumor. “A incidência vem crescendo entre 5% e 10%
nos últimos 10 anos. A população está envelhecendo, e isso (a doença) está
muito relacionada à obesidade, ao sedentarismo. Os tumores femininos talvez
sejam os que mais têm apresentado crescimento”, adverte.
Os
sinais do corpo
Apesar de o câncer ser uma doença, na maioria das
vezes, com desenvolvimento silencioso, algumas mulheres sentem mudanças no
corpo. Os sintomas incluem nódulo na mama, secreção com sangue pelo mamilo e
alterações na forma ou na textura do mamilo ou da mama. O tratamento depende da
fase do tumor. Pode incluir quimioterapia, radioterapia e cirurgia.
“Envolve, na maioria, cirurgia e radioterapia. Em
70% dos casos, também são feitos tratamentos anti-hormonais”, explica o
coordenador-geral de Oncologia do Hospital Santa Lúcia, Fernando Maluf. Esses
procedimentos se tornam mais complicados conforme o estágio do tumor. “Quando
está avançando e é agressivo, ou quando a mulher não faz acompanhamento, a taxa
de cura cai para 50%, 40%.”
É consenso entre especialistas e mulheres curadas
que a doença não deve ser encarada como um bicho de sete cabeças. Em 19 de
outubro, é comemorado o Dia Internacional contra o Câncer de Mama, que, mais
uma vez, lembra a todas de cuidar da própria saúde.
“A incidência vem crescendo entre 5% e 10% nos
últimos 10 anos. A população está envelhecendo, e isso (a doença) está muito
relacionada à obesidade, ao sedentarismo”
Fernando Maluf, médico oncologista
Fernando Maluf, médico oncologista
*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa