Xando Pereira | Ag. A TARDE |
Com 516 anos de exploração por parte das
civilizações que ocuparam o Brasil há mais de cinco séculos, o rio São
Francisco está passando pela mais severa crise hídrica contemporânea. Hoje, o
Velho Chico chegou aos menores níveis de reserva, o que afeta diretamente
milhões de pessoas que dependem das suas águas.
No dia do santo padroeiro do rio, celebrado hoje, a
situação é crítica para as pessoas que dependem das suas águas para viver. Este
é o caso do técnico em agropecuária José Cerqueira. Morador da margem de
Sobradinho em Sento Sé, ele vê com tristeza a situação do rio, que já foi o
grande provedor de uma imensa região. "Não conseguimos mais produzir nosso
alimento e muitas famílias passam fome", disse, acrescentando que já
chorou várias vezes, vendo a água diminuir a cada dia.
A escassez hídrica do rio será tema do IV Encontro dos
Comitês Afluentes do Velho Chico, no Hotel Catussaba, em Salvador, amanhã e
sexta-feira.
Salvação
Contudo, para o presidente do Comitê da Bacia
Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, ainda existe salvação,
"desde que o programa de revitalização seja efetivamente tirado do papel e
que todos, incluindo os órgãos públicos, os empreendedores da iniciativa
privada e os usuários, se empenhem em cumprir o Plano de Recursos Hídricos da
Bacia".
Capitaneado pelo CBHSF, esse plano foi
concluído em 2016 e prevê ações até o ano de 2015, com valores estimados em R$
35 bilhões. "A maior parte deste total é de recursos orçamentários, já
previstos pela União e os estados", afirmou, destacando que, para evitar o
colapso, devem ser canalizados para a bacia do São Francisco.
Outro ponto importante é a necessidade de aprovação da
emenda constitucional classificando o cerrado e a caatinga como patrimônio
nacional, como foi feito com a mata atlântica e a Amazônia. O fortalecimento
dos comitês das bacias estaduais, a criação de sistemas de outorga confiáveis,
a classificação dos rios e o estabelecimento da cobrança pelo uso das águas
superficiais e as subterrâneas são, segundo ele, fundamentais.
Com recursos obtidos a partir da cobrança pelo uso da
água na calha principal do rio, o CBHSF implementa projetos hidroambientais,
sendo que 43 já foram concluídos e 14 estão em andamento. "Devemos estar
preparados para extremos climáticos", concluiu.
Sobradinho
Como reflexo da estiagem que se agrava desde 2012 na
Bahia e em diversos outros estados da região Nordeste, a vazão defluente da
barragem de Sobradinho vem sendo reduzida nos últimos anos aos níveis mais
críticos da sua história.
A crise hídrica deixou o lago de Sobradinho com 4,87% das
águas do volume útil nos primeiros dias de outubro. Em 29 de setembro esse
número era de 5,23%, com redução registrada dia a dia. Desde a semana passada,
a sua vazão defluente passou para 580 m³/s, enquanto que a vazão de entrada no
reservatório era de 290 m³/s.
A redução da vazão para 550 m³/s estava
autorizada pela Agência Nacional de Águas (ANA) desde o mês de julho. O Ibama,
por sua vez, tinha consentido este patamar desde o mês de agosto. Essa é a
menor vazão defluente desde a construção do reservatório de Sobradinho na
década de 1970, planejado para gerar energia e regular a vazão das águas.
Nesse período, a Chesf fez testes de adaptação ao longo
dos trechos abaixo das barragens, reduzindo a vazão de forma gradativa para que
os locais de captação fossem se adequando a menor volume de água no leito do
rio.
A meta desejada com a redução da vazão defluente é
preservar a pouca reserva existente, de modo que até a chegada das chuvas na
região as barragens tenham água suficiente para abastecer a população
ribeirinha e das cidades que dependem do Velho Chico.