Carolina
Vicentin/Metrópoles
No ano passado, o pai do meu companheiro faleceu, em
decorrência de um câncer. Foi a primeira pessoa mais próxima dos meninos a nos
deixar, muito embora não vivêssemos na mesma cidade e o contato só ocorresse
durante viagens ocasionais.
Após o ocorrido, Miguel, de 4 anos, volta e meia falava de
morte. “O vovô Nestor morreu?”, era a pergunta que ele mais fazia, sem entender
muito o significado, eu imagino.
Na semana passada, contudo, tivemos uma conversa longa e
franca sobre o assunto. “Mamãe, eu vou morrer?”, ele me questionou um dia,
enquanto voltávamos para casa. Eu engoli o desespero inicial – você?! Credo,
não gosto nem de imaginar – e tentei dar a resposta da forma mais natural
possível. “Vai, filho. Todo mundo, um dia, vai.”
E, então, ele veio com uma avalanche de perguntas: o que é
morrer? É como dormir? Por que não deu para consertar o vovô Nestor? Por que o
nosso coração para de bater?… Enfim, ele pareceu satisfeito e perdeu o
interesse no assunto.
A professora de psicologia do UniCeub, Suely Guimarães,
explica que, nessa faixa etária (3, 4 anos), o entendimento sobre a morte é
bastante restrito. Entre os 5 e os 7 anos, a compreensão aumenta, mas é comum a
criança achar que a pessoa vai “desmorrer”. “Somente por volta dos 12 anos – e
ainda dependendo do desenvolvimento cognitivo e intelectual – a criança adquire
uma percepção mais completa do assunto”, diz ela.
Segundo Suely, a maioria das famílias têm medo de falar e
até evita o assunto – um erro. “Na nossa cultura, é um tabu, uma falha, algo a
ser evitado a todo custo. Temos a tendência de ocultar isso das crianças, como
se elas não fossem capazes de entender a morte como algo que faz parte da
vida”, critica a professora.
Mas,
como, então, falar disso?
A especialista recomenda aos pais e cuidadores aproveitar
as oportunidades – a morte de um bichinho de estimação ou de uma planta em
casa, por exemplo. “A explanação deve ser natural, simples, em uma linguagem
clara”, detalha.
O uso de metáforas na conversa – do tipo: virou uma
estrelinha, um anjo ou foi para o céu – não é aconselhável, sob o risco de
deixar a criança ainda mais confusa. “Eles não fazem a mesma interpretação
poética que os adultos”, reforça.
E, ao contrário da sabedoria popular, levar a criança para
o hospital (no caso de um parente em estágio terminal) ou para o velório pode
ser importante – a menos que o pequeno não queira. “É preciso bom senso, por
exemplo, em situações onde a pessoa está muito machucada. Mas, no geral, pode
ser a última oportunidade de a criança ver o familiar vivo”, esclarece.
No velório, enterro ou cerimônia de cremação, a dica é
explicar para a criança o que vai acontecer: haverá pessoas tristes, adultos
chorando, trata-se de um momento de despedida e emoção.
Suely também afirma ser importante que um adulto menos
emocionalmente envolvido com a situação cuide da criança – que, em algum
momento, vai se entediar e querer sair correndo. “Se houver pessoas muito
abaladas, gritando, é válido afastá-la para que a cena dramática não seja
associada à morte”, finaliza.