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Claudio
Fernandes/Metrópoles
O presidente Michel Temer disse ser vítima de uma
“avalanche” que o transforma “como se fosse um sujeito corrupto” e afirmou ter
levado mais de um mês para afastar os quatro vice-presidentes da Caixa acusados
de corrupção porque não sabia da recomendação feita pelo Ministério Público
Federal (MPF) ao Planalto. “Não vou sair da Presidência com a pecha de sujeito
que incorreu em falcatruas. Não vou deixar isso”, bradou o emedebista em
entrevista à Folha de S.Paulo publicada neste sábado (20/1).
Segundo Temer, a comunicação do MPF “foi um ofício ao chefe
da Casa Civil, que, por sua vez, encaminhou ao Ministério da Fazenda, que
encaminhou à Caixa”. O presidente alegou que “essas coisas não se faz [sic] a
toque de caixa”. Então, só quando soube da recomendação do Banco Central, ele
decidiu afastar quatro dos 12 vices por 15 dias. “Tomei a cautela de afastá-los
para que o Conselho da Caixa possa examinar o assunto, dando-lhes o direito à
ampla defesa”, disse.
Temer afirmou que não conhecia os pormenores da investigação:
“Como confesso que não conheço até hoje. Na minha função, não consigo
acompanhar caso por caso”. Mesmo assim, tirou dos cargos na Caixa,
temporariamente, Antônio Carlos Ferreira (Corporativo), Deusdina dos Reis
Pereira (Fundos de Governo e Loterias), Roberto Derziê de Sant’Anna (Governo) e
José Henrique Marques da Cruz (Clientes, Negócios e Transformação Digital).
Os quatro vices são acusados de vazar para políticos
informações privilegiadas sobre o andamento de pedidos de empréstimos e também
de negociar cargos em uma estatal como moeda de troca para liberação de
crédito. De acordo com a auditoria independente contratada pela Caixa, há
indícios de que um dos executivos, Roberto Derziê Sant’Anna, teria fornecido
informes a respeito de operações do banco ao próprio Temer e ao ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.
“O que li nos jornais é que eu teria feito solicitação ao
vice-presidente Derziê. Sempre tive com ele uma relação de natureza funcional.
Qualquer solicitação, pergunta, indagação sempre estiveram no âmbito
funcional”, afirmou o ministro na quarta (17).
Temer, por sua vez, negou ter feito qualquer pedido ao vice
afastado. “Ele não disse em relação a mim. Se disse alguma coisa relativamente
a eu pedir e exigir isso, claro que está mentindo”, apontou o presidente. “Em
primeiro lugar, jamais, grife, jamais, e coloque em sua cabeça em letras
garrafais, pedi coisa de emenda ou dessa natureza. O Derziê conheço
formalmente, não tenho relação pessoal. Jamais fiz nenhum pedido”, assegurou.
O presidente afirmou ficar impressionado com o que chamou
de “guerra de natureza moral”. “De repente, chego à Presidência e sou vítima de
uma avalanche que me transforma como se fosse um sujeito corrupto. Que permite
a você fazer essas perguntas que está fazendo. Como se eu fosse um sujeito
capaz das maiores barbaridades, ditas por um vice-presidente (Derziê) que tem
relação formal comigo, cerimoniosa”, disse.
A investigação independente recomendou, ainda, que o
presidente da Caixa, Gilberto Occhi, seja investigado, mas Temer alegou não
tê-lo afastado porque “não chegou nada mais concreto além disso”.
Por fim, o presidente comentou o controverso encontro com o
diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, às vésperas de entregar as
respostas para 50 perguntas da investigação que apura irregularidades em
portos: “Eu discuti sobre segurança pública. O que me surpreende é que o
presidente não pode falar com o diretor-geral da Polícia Federal. Como se fosse
criminoso. Eu já estava com as perguntas respondidas. São tão desarrazoadas,
singelas, simplórias que não tinha nenhuma preocupação”.