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Agência O Globo
Cientistas descobriram que
a concentração de uma substância indicativa de danos oxidativos aumenta na
urina à medida que as pessoas envelhecem e pode ser medida facilmente em
amostras humanas. Tendo como base este novo marcador, eles esperam poder criar
um exame de urina simples capaz de mostrar o quanto nossos corpos envelheceram,
revelando nossa idade biológica no lugar da cronológica, e assim ajudando a
prever risco de desenvolvimento de doenças relacionadas à idade e até mesmo de
morte.
Embora todos que tenham
nascido no mesmo ano também tenham aproximadamente a mesma idade cronológica,
os corpos de diferentes pessoas envelhecem em ritmos diferentes. Isso significa
que, apesar de o risco de muitas doenças aumentar com o tempo, a relação entre
nossa idade em anos e nossa saúde e longevidade é um tanto frouxa. Desta forma,
enquanto muitas pessoas vivem vidas longas relativamente livres de doenças,
outras sofrem com males crônicos e morrem prematuramente. Então, se nossa idade
em anos não é o indicador mais confiável do envelhecimento de nossos corpos, o
que seria?
Alguns cientistas
consideram o envelhecimento normal como uma doença, em que nossas células
acumulam danos ao londo do tempo. A taxa de dano celular, porém, varia de
pessoa a pessoa e pode ser ditada pela genética, estilo de vida e ambiente em
que vivemos. E estes danos celulares podem ser um indicativo mais acurado de
nossa idade biológica do que o número de anos passados desde que nascemos.
Assim, encontrar uma
maneira de medir a idade biológica pode ajudar a prever o risco de
desenvolvimento de doenças relacionadas ao envelhecimento e até a morte. E
também é preciso poder medir a idade biológica para saber se estratégias e
tratamentos para frear o envelhecimento – uma possibilidade no futuro – estão
tendo efeito.
E um dos mecanismos que se
acreditam ditar o envelhecimento biológico envolve um elemento vital para nossa
sobrevivência – o oxigênio, no que é a chamada teoria dos radicais livres no
envelhecimento.
- Os subprodutos do
oxigênio gerados durante o metabolismo normal podem causar danos oxidativos na
biomoléculas das células, como no DNA e no RNA – explica Jian-Ping Cai, um dos
autores do estudo que descreve o possível exame de urina para o envelhecimento,
publicado nesta terça-feira no periódico científico de acesso aberto “Frontiers
in Aging Neuroscience”. - À medida que envelhecemos, sofremos mais e mais danos
oxidativos, então os níveis dos marcadores de oxidação aumentam em nossos
corpos.
Um destes marcadores, com
o “cativante” nome de 8-oxo-7,8-dihidroguanosina - ou 8-oxoGsn, numa abreviação
– resulta da oxidação de uma molécula fundamental em nossas células, chamada
RNA. Em estudos anteriores com animais, Cai e colegas descobriram que os níveis
de 8-oxoGsn na urina aumentam com a idade. Para ver se isso também era verdade
com humanos, os pesquisadores mediram as concentrações de 8-oxoGsn em 1.228
pessoas com entre dois e 90 anos de idade usando uma técnica de análise rápida
conhecida como cromatografia líquida de ultra alto desempenho.
- Observamos um aumento
dependente da idade no 8-oxoGsn urinário nos participantes com 21 anos ou mais
– conta Cai. - Assim, o 8-oxoGsn urinário é um promissor novo marcador para o
envelhecimento.
Curiosamente, os níveis de
8-oxoGsn eram aproximadamente os mesmos tanto em homens quanto em mulheres, com
exceção das mulheres pós-menopausa, em que eles eram ainda maiores. Segundo os
pesquisadores, isso pode ter sido provocado pela queda nos níveis de estrogênio
que acontece durante a menopausa, já que este hormônio feminino tem conhecidos
efeitos antioxidantes.
Os cientistas também
acreditam que a técnica de análise rápida usada no estudo pode ser muito útil
em pesquisas de grande escala sobre o envelhecimento, já que com ela é possível
processar amostras de até dez participantes por hora.
- O 8-oxoGsn urinário pode
refletir a real condição de nossos corpos melhor que nossa idade cronológica, e
pode nos ajudar a prever o risco de doenças ligadas ao envelhecimento – conclui
Cai.