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Alexandre
Lyrio, do Correio 24h
Bloco Balada, 2010. As cordas já arrastavam pelo chão, mas
o tesão de Rodrigo* e Juliana* atingia níveis estratosféricos. Haviam se
conhecido há mais ou menos uma hora. Veio a vontade de fazer xixi e ela subiu
pelos fundos do carro de apoio. Ele, em vez de aguardar na fila do sanitário
masculino, subiu junto no feminino. Misturava-se ali música, suor (muito suor),
luxúria, cerveja, medo e lança-perfume. Química completa.
“A gente tava doidão de lança. Mais ou menos na altura de
onde é hoje o Camarote Salvador. Ela subiu e eu subi atrás, na doida, sem olhar
para os lados. Foi ali mesmo. No carro de apoio”, narrou Rodrigo. Depois de
botar o bloco na rua, desceu como se nada tivesse acontecido. “Depois levei ela
pra casa de minha mãe e meti dança”. Foi a primeira e última vez que se
viram.
Por essas e outras, dizem que o Carnaval é a festa do
diabo. Mas, se foi Deus que inventou o sexo, a avenida é o céu. No Carnaval, a
libido chega ao ápice, a santinha perde o juízo e o superman “foge foge” com a
mulher maravilha onde quer que seja. “Quem tem limite é município”. Aliás, as
plaquinhas sexuais estão por todos os lados este ano, penduradas em homens e
mulheres.
Pequena sequência: “Não tenho fantasia. Apenas realizo”.
“Troca de óleo grátis”. “Uber pool: pego você e seus amigos”. “Não sou pavê”.
“Não lavo, nem passo, agora só cozinho”, entre outras que vão ainda mais direto
aos finalmente. Muitas vezes, apenas uma provocação carnavalesca. Mas, e quem
faz à vera como Mariana*? Eis que, no Carnaval de dois anos atrás, quando
aguardava sua vez no banheiro químico, na região do Porto da Barra, deu de cara
com um peguete das antigas.
“Já próximo ao Hospital Espanhol, encontramos os banheiros
químicos. Eis que uma das portas se abre e, sim, o infeliz que eu não via há
quase três meses ressurgiu ali”, relatou. Não, eles não transaram no banheiro
químico. O “amor” se consumou em um local mais confortável, apesar de alguns
incômodos. E não era a possibilidade de ser visto.
“Lembro que a gente se beijou sem muita conversa. Eu sou o
tipo de pessoa que não posso beber e encontrar um casinho (risos). Foi
instantânea a vontade de transar. Pra nós dois. Fomos andando para o outro lado
da rua, para o lado da praia. Andamos até o Forte de Santa Maria. Eu não lembro
se tive preocupação de observar quem estava ao redor, acho que não. Deitamos
sobre a grama”, narrou Mariana, prestes a contar os detalhes sórdidos.
“Lembro de nós dois completamente nus na grama que, por
vezes, me espetava de um jeito insuportável. Uma coisa que eu lembro bem é que
não teve premilinares”, sublinhou. Os que se aventuram a “fazer, fazer amor” na
avenida e arredores apontam uma série de locais possíveis. Os preferidos são
Morro do Cristo, Morro do Gato, e as praias de Ondina que ficam atrás dos
hotéis. Volta e meia, vídeos de atos sexuais nesses locais caem nas redes.
Justamente atrás dos hotéis, Adriano* se pegou com gosto
com uma qualquer. Eles e “um monte de casal que estava por lá”. “Eu tava com
ela desde metade do circuito. Nem perguntei o nome. Chegou em Ondina, descemos
para as pedras. Tinha um monte de casal”, diz Adriano, que ainda reuniu forças
para retornar para a avenida. “Voltamos e ainda curtimos o resto da madrugada.
E outra, cada um ainda ‘pegou’ outras pessoas. Naquela noite, foi só amor!”,
riu.
Rapidinha – O medo de ser descoberto contribui para o
tesão, mas, em muitos casos, têm como consequência o conhecido “sexo de
coelho”, como relata Pedro*. No pânico do flagrante, ele optou pela boa e velha
rapidinha. “Depois de meia hora se pegando, a cidadã disse que queria fazer
xixi. Colei com ela e entramos naquela rua ali perto das Gordinhas, em Ondina.
Uns 50 metros lá pra dentro tinha uma topic branca parada. Naquele pique do
carnaval eu levantei ela e meti dança, só que no pânico do movimento da rua a
gente interrompeu”.
Depois, o pânico foi outro. “Fiquei num pânico bruto porque
acabou rolando na jante (sem camisinha). Fiz um exame semana seguinte e não
pegou nada. Dois meses depois também. Graças a Deus! Até dia desse eu tinha o
Facebook dela. Mas foi loucura de carnaval mesmo. Não faço uma onda dessa mais
de jeito nenhum”. Mas, tem gente que faz e ainda suborna as pessoas para isso.
Marcos* estava atracado com uma jovem mineira que acabara de conhecer em um camarote.
No meio do show do Harmonia, dentro do próprio camarote, a situação estava
insustentável.
R$ 50 por umazinha - “Ela tava de saia. Ali no meio do show
não rolava. Eu tava doido e chamei ela para o banheiro. Mas tinha uma fiscal na
porta. Paguei R$ 50 para a fiscal. Ela saiu primeiro e ficou monitorando a
barra com a fiscal. Mandou um zap e eu me piquei. Mas foi tenso. Deu até dor de
barriga”, lembra Marcos. E Joana*, minha gente, que costuma ser um “exemplo”
durante o Carnaval: “Não costumo ficar com muitas pessoas durante a folia.
Gosto mesmo é da farra, da diversão e de dançar até a exaustão”.
Até que um paulista fez a bichinha perder o tino. “A gente
se olhou e se curtiu desde o primeiro momento. Andamos do Morro do Gato até o
final do circuito e, de lá, seguimos para o Rio Vermelho, onde transamos na
praia e o resto da noite no motel. Foi maravilhoso e sem nenhuma pretensão. Não
teve troca de telefones e eu nem sabia direito o nome dele. Carnaval tem dessas coisas”. Tem. E como tem.
Márcio* que o diga. Especialmente quando tá com fantasia
para o bloco Mascarados. Ano passado, nem precisou tirar a máscara. Na avenida,
havia se pegado com Eduardo, que conhecia de vista mas nunca rolava nada. Na
ebulição do Carnaval, a timidez se arrebentou nas pedras de Ondina. “Ele era
uma figura que eu já olhava na boate. No Carnaval, quando ele me viu, me puxou
logo para atrás do Othon. Começaram os amassos e evoluiu para o que você já
sabe. Tinha outros casais fazendo a mesma coisa. Voltamos para a avenida. Até
hoje a gente se encontra e se pega de novo”.
Sexóloga faz apelo por bom senso: “Ao menos usar preservativo”.
Para a educadora sexual Cris Arcuri, é muito difícil
“educar” as pessoas sexualmente nesse período. Especialmente porque elas estão
sob efeito de álcool e outras drogas. “As pessoas já saem de casa condicionadas
a fazerem tudo o que quiserem”, diz. De qualquer forma, ela faz um apelo pelo
bom senso. “Eu acredito que deve-se ter mais bom senso e para tudo existe
momento e local adequado, inclusive para a prática do sexo”.
Mas se acontecer com você, novamente, tente ter o bom senso
de, ao menos, usar preservativo. “Campanhas de uso de preservativo e de abuso
excessivo de álcool deveriam ser expostas o ano todo. Salvador respira
festividade e sedia eventos populosos. Não existe divulgação e nem distribuição
de preservativo. É preciso conscientizar as pessoas que o maior bem que elas
possuem é o corpo delas, e portanto, tem que cuidar”.
Bom, caso você chegue ao cúmulo de não usar camisinha, a
sexóloga orienta que procure o posto de saúde em até 72 horas para fazer a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (Pep).
São medicamentos antirretrovirais que agem evitando a sobrevivência e a
multiplicação do HIV no organismo. O tratamento dura 28 dias e a pessoa deve
ser acompanhada pela equipe de saúde por 90 dias. “Importante dizer que a PEP é
uma medida preventiva de emergência e, por isso, não serve como substituta à
camisinha”. Para outras doenças sexualmente transmissíveis não existe medida de
emergência.