Atrizes de entretenimento adulto posam com camisetas em homenagem a August Ames, que se suicidou em dezembro do ano passado (Foto: Reprodução/Vixen.com) |
BBC Mundo
A morte de cinco jovens atrizes pornô em apenas três meses
nos Estados Unidos estremeceu a indústria de entretenimento adulto e lançou um
alerta sobre os riscos que essas mulheres enfrentam. Agora, o setor fez um
chamado por respeito e apoio a atrizes que estão lidando com questões
emocionais, vício em drogas ou intimidação online.
Primeiro, Shyla Styles faleceu em circunstâncias
desconhecidas em novembro, durante uma visita a sua família. Em seguida, em
dezembro, August Ames se suicidou. Outras três atrizes, Yuri Beltrán, Olivia
Nova e Olivia Lua, morreram semanas depois. Olivia Lua estava em reabilitação
por problemas com uso de medicamentos e drogas.
O suicídio de Ames, em particular, chamou a atenção. A
atriz, de 23 anos, foi encontrada enforcada em um parque. Ela havia se queixado
de uma grande quantidade de ataques nas redes sociais a acusando de homofobia,
depois que se recusou a participar de uma gravação com um ator bissexual,
conhecido por não usar proteção. "A maioria das garotas não grava com rapazes
que fizeram pornô gay, por segurança", falou Ames, no Twitter.
Após sua morte, foi criado um movimento em sua homenagem,
chamado Projeto August, para oferecer ajuda a atrizes pornô que estejam sendo
pressionadas, abusadas ou insultadas pela sua profissão. Será "um sistema
de apoio para artistas dessa indústria, um recurso para que, se alguma delas se
encontrar à beira do abismo, possa encontrar ajuda", afirmou Kevin Moore,
viúvo de Ames.
O projeto também questiona se a indústria do cinema pornô
está fazendo o suficiente para prevenir esse tipo de risco para as atrizes,
oferecendo boas condições de trabalho, além de apoio e atendimento de saúde.
"Precisamos lutar conjuntamente contra o estigma,
porque todas nós temos estado sob ataque", declarou Tori Black, duas vezes
ganhadora dos prêmios AVN de Atriz do Ano, a principal premiação da indústria
de entretenimento adulto. "O que aconteceu com essas garotas poderia ter
ocorrido com qualquer uma de nós em um momento de dificuldade".
August Ames, em foto com seu marido Kevin Moore, havia se queixado de receber mensagens abusivas nas redes sociais (Foto: Reprodução/Getty Images) |
Velhos preconceitos
Apesar de a pornografia sempre ter sido alvo de estigmas,
as atrizes dizem que as redes sociais exacerbaram a situação, as deixando mais
suscetíveis a trolls (pessoas que são ofensivas na internet) e comentários
desumanizantes. "Sou uma mãe e uma atriz pornô e isso é muito
complicado", diz Tori Black, que voltou à atuação pornô depois de uma
pausa de sete anos para se dedicar à família. "Eu posso postar a foto mais
inocente, cotidiana, totalmente vestida e ainda assim alguém comenta: 'Não tem
vergonha? Você tem filhos!'"
Para Black, os raivosos e trolls são um reflexo da
amplificação de preconceitos muito antigos, que veem a sexualidade como algo
degradante. É só mudando essa cultura gradualmente, diz Black, que as atrizes
poderão ter o respeito que merecem. "Escolhemos esta indústria porque o
sexo é algo que nos comove e nos apaixona, da mesma maneira que um músico é
atraído pela música", explica.
As atrizes de entretenimento adulto também afirmam que o
estigma em torno delas produz um efeito direto sobre sua capacidade de receber
assistência. Os terapeutas e outros profissionais de saúde têm a tendência de
tratar o fato de trabalhar nessa indústria como a causa dos problemas dessas
mulheres, em lugar de ver isso como uma profissão, afirma Tasha Reign, presidenta
do Comitê de Defesa de Atores de Filmes para Adultos (Adult Performer Advocacy
Committee) ou APAC, na sigla em inglês.
Para Reign, a indústria precisa mudar. "Estas mortes
provocaram uma empatia de fora para dentro, mas também há muitas coisas que a
indústria pode fazer para oferecer um lugar melhor para as jovens
atrizes". Reing e a APAC tentaram aplicar protocolos de capacitação
obrigatórios para novas atrizes, para garantir que conheçam seus direitos.
Angela White com o prêmio de atriz do ano, à esquerda; Tasha Reign, presidente do Comitê de Defesa de Atores de Filmes para Adultos, à direita. (Foto: Reprodução/Getty Images) |
Mudanças
A indústria pornô tem passado por mudanças importantes. Uma
delas é a enxurrada de sites de compartilhamento de vídeos pornô, muitas vezes
gratuito e pirateado. Isso significou tanto a sobrevivência de conteúdos mais
degradantes como uma redução dos salários.
Para as atrizes, esse novo mundo de conteúdo acrescentou
nova camada de complexidade sobre como se sentem em sua profissão. Isso inclui
a pressão para sair da zona de conforto, algumas vezes aceitando papeis que não
fariam em outras circunstâncias.
A indústria pornô também teve seu próprio movimento #MeToo,
de denúncia de casos de assédio, com numerosas acusações dentro e fora do set.
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