Calila Notícias
O fazendeiro Miguel
Arcanjo da Cunha, 81 anos, residente na Fazenda Alagadiça do Meio, distante 12
km da cidade de Barrocas e 12 km do Distrito de Salgadália, município de Conceição
do Coité, conforme ele mesmo gosta de tratar, “divide o meio na estrada que
liga Salgadália a Barrocas”, comunidades localizadas no território do sisal.
Dono de uma fazenda
com aproximadamente 700 tarefas, tendo herdado 250 de seus pais, Miguelzinho
disse que vai dividir tudo com os herdeiros, mas não é possível que no
meio de tanta terra ele não fique com pelo menos esse cantinho. Ele é também
rezador tradicional e tem como guia “Tupã”.
Segundo Miguelzinho
do Alagadiço como é conhecido, já preparou sua ‘morada eterna’ desde 2014 ao
construir um cemitério em um terreno na frente da casa que mede aproximadamente
10 x 10 metros . Seo Miguelzinho não se contentou apenas com a construção,
queria garantia para que seu plano não dê errado, então procurou um cartório e
registrou. O caixão ele disse que também já comprou em uma funerária na cidade
de Serrinha e pagou caro.
Sempre alegre e bastante entusiasmado com a vida, ele
contou ao CN que não perde enterros e observa tudo com o cuidado, verifica os
erros e quer que nada dê errado no seu. “Não tenho pressa para morrer e aqui
estou como o administrador de fazenda e quem manda é o dono dela (Deus).
Obedeço à vontade do meu dono que é Deus e o dia que ele chamar eu vou”.
(Risos)
Como pode ser visto, a área possui muro, cruzeiro, jazigo
conhecido no sertão como “carneira” que está inclusive aberta, protegida
apenas por telhas e ao lado um pequeno quarto para onde quer que sejam levadas
seus santos (imagens).
Ideia de construir o próprio cemitério
Miguelzinho disse em entrevista exclusiva ao CN que a
ideia da construção do cemitério foi por causa da situação incomoda que ele
presencia sempre que vai em enterro no cemitério de Barrocas que não tem mais
espaço e que muitas vezes se desenterra um corpo com pouco tempo de enterrado
para botar outro. “É um mal cheiro danado, tem vez que junta até urubu. O
cemitério tá vencido! Daí resolvi construir um pra mim e já tem gente pedindo
para ser enterrado aqui”, afirmou.
Edilson da Serraria é como ele trata o ex-prefeito de
Barrocas, José Edilson de Lima Ferreira, considerado seu melhor amigo. Ele
contou ao CN que já combinou com Edilson quem morrer primeiro vai despreocupado
que um ou outro vai cuidar do funeral e no seu caso, seu filhos estão
sabendo que Edilson irá fazer todas as despesas e depois levar a conta para
família pagar e garantiu que não é uma conta pequena.
“Não tem coisa pior que ir a sepultamento e o mesmo
atrasar e o povo ficar com fome. Comigo mesmo já aconteceu isso. O enterro
estava marcado para ás dez horas e um filho do falecido atrasou, pois morava em
São Paulo e o sepultamento foi realizado às 15h e não nenhum lugar para comprar
se quer um merenda. Não quero que aconteça no meu velório.Como não vou poder
ver essas coisas, fiz o trato com meu amigo Edilson da Serraria. E se ele
morrer primeiro do que eu faço a mesma coisa com ele”, garante.
Além dos preparativos do funeral (cemitério e caixão)
Miguelzinho disse que tem comprado também um freezer para encher de comida e refrigerante,
e que os filhos já estão sabendo também que é para matar a melhor novilha e a
ovelha mais gorda que tiver no pasto. “O povo tem que comer e beber a vontade
no meu velório e botar um carro de som anunciando o horário do enterro
nas cidades da região, onde tenho muitos compadres e comadres e não
quero que ninguém tenha queixa por não ter sido avisado”.
Miguelezinho está no terceiro casamento
“Seo Miguelzinho” está convivendo com a terceira
mulher, segundo ele começou por Dona Erotides (falecida), que era 15 anos
mais velha do que ele e com teve apenas um filho. Depois viveu 41 anos com Dona
Antônia e agora está com Dona Creusa. Foram 32 filhos, sendo que 22 estão
vivos, e demonstrando que tem boa memória, o CN perguntou se ele lembrava do
nome de todos e de forma decrescente. A resposta veio logo e sem pensar: “Mil,
Zé Raimundo, Marcos, Perdiz, Maria, Netuca, Clarice, Severo, Cesar, Maria
Irene, Luzia, João, Marcinho e Amaro (Diferença de 20 dias do nascimento de um
pro outro), Orlando, Antônia, Tereza e Marcinha (Também diferença de 20 dias),
Diu, Malinha, Edmilson e Batata. O mais velho, Miu tem 59 anos e Batata, o mais
novo, 30”, falou.
A história de Miguelzinho é muito parecida com a de uma
mulher de Coité que guarda em sua casa seu caixão há anos. Motivo: quer ser
enterrada em caixão do bom.