Henry Romero / Reuters
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Assim como seu gênero musical tradicional, o tango, a
seleção Argentina prezou pela dramaticidade exacerbada em sua classificação
para a segunda fase da Copa do Mundo, em partida contra a Nigéria. Depois de
abrir o placar com um golaço de Messi, ainda na primeira etapa, a seleção
sul-americana levou o empate no início do segundo tempo, em pênalti infantil
cometido por Mascherano. A salvação veio apenas no final, graças ao improvável
pé direito do lateral esquerdo Rojo, que atuava como zagueiro e chegou na área
para marcar um gol de centro-avante, selar o placar de 2 a 1 e classificar seu
time para as oitavas de final, quando terá pela frente a França.
Mergulhada numa crise após a derrota por 3 a 0 para a
Croácia, a Argentina chegou para o confronto envolta em boatos de que o time
teria rompido com o técnico Jorge Sampaoli. Ao contrário do controverso 3-4-3
usado contra os croatas, a escalação da albiceleste voltou ao tradicional 4-4-2
para o encontro decisivo com a seleção africana.
A Nigéria, num 3-5-2, começou mais recuada, estava mais
preocupada em não dar espaços. A equipe sul-americana tentava subir tocando e
tabelando, mas parava na defesa nigeriana, que buscava segurar o empate para
garantir sua classificação.
Aos 14 minutos, Lionel Messi finalmente desencantou. Após
receber um lançamento perfeito de Banega, o craque do Barcelona dominou com a
coxa, ajeitou para a perna direita e chutou cruzado para abrir o placar e
marcar seu primeiro gol na Copa da Rússia.
Ao contrário da primeira partida, diante da Islândia,
quando esteve desligado do jogo, Di María estava atento contra a Nigéria,
partindo em arrancadas pelo lado esquerdo do campo. Do outro lado, Messi
procurava tabelas, e a Argentina mantinha a posse de bola para não se expor e
procurar espaços sem pressa.
Em arrancada rápida, Di María foi derrubado na entrada da
área por Balogun, que levou cartão amarelo. Na cobrança, Messi bateu no lado do
goleiro Uzoho e acertou a trave. Acuada e com a postura defensiva que adotou em
suas primeiras partidas, a Nigéria não conseguia atacar.
No final do primeiro tempo, numa disputa na pequena área, o
zagueiro Rojo acertou a perna involuntariamente na cabeça de Iheanacho, que
caiu feio no chão. Por sorte, a queda não passou de um susto, e o atacante do
Leicester seguiu jogando.
O começo do segundo tempo foi o pior possível para a
Argentina. Aos três minutos, Balogun caiu na área em disputa de bola com
Mascherano, e o juiz turco Cuneyt Cakir marcou um pênalti questionável. Moses
desclocou Armani e empatou o jogo.
Nervosa, a Argentina demorou para reagir, começando por
Sampaoli, que fez tirou um exausto Di María para a entrada de Meza aos 26
minutos, mesmo com Aguero e Dybala no banco de reservas. Mais cedo, Pavón
substituíra Enzo Pérez, que não conseguiu entrar no jogo.
Num show de horrores, Rojo tentou bloquear um cruzamento,
cabeceou mal, e a bola resvalou em seu braço. Após muita reclamação, Cakir foi
consultar o árbitro de vídeo e não deu o pênalti. Na sequência, Higuaín recebeu
na entrada da pequena área e isolou a oportunidade de fazer 2 a 1.
A salvação argentina veio a três minutos do fim. Em bela
jogada pela direita, Mercado cruzou para o lateral canhoto improvisado como
zagueiro Rojo surgir na posição de centro-avante, no centro da área, e, de
direita, emendar de primeira para o fundo da rede. De um camarote no estádio,
Maradona, que havia cochilado no primeiro tempo, celebrava como um autêntico
hincha argentino.
Sem se omitir, Messi buscou a bola, segurou o jogo, tentou
atacar e ate deu carrinho no campo adversário. No final, na garra, com um
golaço de seu craque, com o sangue escorrendo da cara do líder Javier
Mascherano, com o maior ídolo da história de sua seleção na arquibancada, a
Argentina se classificou ao som da melodia do sofrimento dos tangos mais
lúgubres. E o sonho do tricampeonato albiceleste segue vivo.