Auxílio da tecnologia: candidato usa o Tinder para conquistar eleitores

Foto: Divulgação
Agência O Globo


Filho de imigrantes indianos, o democrata Suraj Patel, de apenas 34 anos, está tentando desbancar a veterana Carolyn Maloney — deputada federal por Nova York desde 1993 — nas primárias do Partido Democrata, que acontecem nesta terça-feira. Apesar da pouca idade, Patel tem na bagagem participação na campanha eleitoral de Barack Obama em 2008 e atuação na Casa Branca durante os dois mandatos do ex-presidente. Mesmo assim, a máquina do partido está ao lado de Carolyn e, com poucos recursos para combatê-la, o jovem concorrente adotou estratégias pouco usuais, como recorrer a aplicativos de paquera, como o Tinder, em busca de eleitores.
Apesar de inusitada, a abordagem faz sentido, sobretudo para o público-alvo de Patel, de adultos jovens que raramente atendem chamadas telefônicas e evitam ou bloqueiam a publicidade tradicional em televisão, rádio, jornais e internet. De um bar em East Village, Patel e voluntários de sua campanha passam o tempo livre nos aplicativos Tinder, Grindr e Bumble, dando “swipes” — curtidas em perfis de outros usuários — de forma frenética, relata o “New York Times”. O objetivo não é encontrar parceiros sexuais, mas informar os jovens sobre a importância de participarem das primárias democratas.
A tática foi batizada como “Tinder banking”, em referência ao “phone banking”, método usado tradicionalmente por políticos americanos, com voluntários que telefonam para os eleitores do partido. Patel e os colegas de campanha criaram contas nesses aplicativos usando fotos atraentes, normalmente que não são deles, e começaram a buscar por “matches” — quando dois usuários se “curtem” mutuamente. Patel, por exemplo, usa fotografias do irmão.
"É como um catfishing (golpe usado na internet onde contas falsas são criadas para enganar outras pessoas emocionalmente)", admite Patel. "Mas você diz para as pessoas quem você é".
Assim que a pessoa responde, esperançosa com o avanço de uma paquera, Patel e os voluntários se apresentam, perguntando sobre a participação política. Segundo a porta-voz da campanha, Lis Smith, o “Tinder banking” faz parte de uma gama de ações para encontrar os eleitores “onde eles estão”. Nas primárias de 2016 em Nova York, apenas 2% dos jovens adultos de 18 a 34 anos participaram.
"Claramente as formas tradicionais de campanha, com ligações telefônicas ou batendo de porta em porta, não funcionam mais por aqui", comentou Lis, à BBC. Além do “Tinder banking”, a campanha busca votos em estúdios de ioga e distribui apoios para copos nos bares de Manhattan, Brooklyn e Queens.
Críticas por enganar as pessoas
A eficácia da abordagem ainda não pode ser medida, mas o “Tinder banking” recebeu uma chuva de críticas. Pelo Twitter, David Nir, diretor do site ativista Daily Kos, classificou a tática como “repugnante”, por “usar a fraude para ganhar votos”. A blogueira Amanda Smith, que participa ativamente de aplicativos de paquera, afirma que a estratégia é “cínica e perigosa”.
"Quando você é uma mulher num aplicativo de paquera, todas as vezes que curte alguém você investe na ideia de que esta é a pessoa que ela diz ser, e que não vai te estuprar ou te assassinar", criticou. "Você é enganada todas as vezes. Isso só reforça que ninguém é quem eles dizem ser".
Lis, por sua vez, defende a campanha, explicando que todas as contas são claramente identificadas no perfil e que a reação do público tem sido “consistentemente positiva”, ajudando no contato com centenas de eleitores em potencial.
"Não estamos surpresos que o establishment político esteja esnobando a nossa campanha por buscarmos novas táticas, mas estamos dispostos a assumir alguns riscos", comentou Lis.
A estratégia de Patel foi inspirada numa iniciativa de duas jovens voluntárias britânicas, Yara Rodrigues Fowler e Charlotte Goodman, que criaram com sucesso um robô no Tinder para a campanha do Partido Trabalhista nas eleições do ano passado no Reino Unido. Em artigo publicado no “New York Times” no início do mês, elas explicaram por que a ideia funcionou.
“O Tínder é um canal de comunicação íntimo”, escreveram. “Quando você está voltando para casa depois do trabalho e alguém te para na rua, você está ocupado, não quer ouvir. Mas no Tinder, as pessoas querem conversar e falam abertamente. Não é incomum divulgar uma preferência sexual tabu na mensagem de apresentação. E a política é pessoal”.


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