Foto: Luís Alvarenga |
A Justiça Federal poderá ficar impedida de julgar ações
contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a partir de agosto. Isso
porque, conforme informou a Associação de Juízes Federais (Ajufe) ao EXTRA, o
pente-fino feito nos benefícios por incapacidade — como aposentadoria por
invalidez e auxílio-doença — causou uma corrida dos segurados ao Judiciário.
De acordo com a entidade, a verba anual repassada à Justiça
Federal (Tribunais Regionais Federais - TRFs) para assistência judiciária
gratuita, que inclui as perícias médicas — cerca de R$ 172 milhões — não foi
suficiente para bancar a enxurrada de ações que pedem revisões da perícias de
reavaliação feitas pelo INSS ao longo do pente-fino. Segundo a Ajufe, cerca de
R$ 211 milhões já foram gastos com exames médicos judiciais em 2018, em casos
de segurados que pretendem reverter o cancelamento de seus benefícios.
Para cada perito, por exemplo, a Justiça paga o mínimo de
R$ 62,13, e máximo de R$ 200 para cada procedimento realizado em juizo.
Segundo o juíz federal Fernando Mendes, presidente da
Ajufe, 90% do que é repassado para a assistência jurídica a pessoas carentes é
gasto com o pagamento de perícias médicas e, após o pente-fino do INSS, o
dinheiro não tem sido suficiente para bancar as milhares de novas ações que
chegam todos os dias ao Judiciário.
"Quase todo o orçamento para a assistência gratuita
vai para o pagamento de perícias médicas e, após o pente-fino, aumentou
consideravelmente a quantidade de ações contra o INSS que pedem a reversão do
cancelamento. Porém, o orçamento não será suficiente e, em agosto, os processos
vão parar", afirmou.
Mendes explica que, sem o dinheiro para pagar os médicos
peritos judiciais, é impossível elaborar o laudo de condições laborais do
trabalhador, que é essencial para o julgamento. Desta maneira, sem o principal
documento, juízes ficarão impossibilitados de dar prosseguimento às ações que
já tramitam na Justiça Federal.
"A falta de dinheiro para a perícia não impede que o
segurado ingresse com uma nova ação contra o INSS, porém, a que está em
tramitação ficará travada, sem condições de ser julgada", disse Mendes,
para quem as revisões sem critério feitas pelo INSS geram uma judicialização
desnecessária.
Procurado, o INSS nao se posicionou sobre o assunto. A
Ajufe, contudo, informou que deve realizar uma reunião com o INSS e com o
Ministério do Planejamento para tratar da questão do excesso de ações
judiciais, mas ainda não há uma data estabelecida.
Cortes no pente-fino
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) já cancelou R$ 9,6 bilhões em auxílios-doença e aposentadorias por invalidez no pente-fino realizado nos benefícios por incapacidade concedidos pelo órgão. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), os cancelamentos foram feitos, em sua maioria, porque foram encontradas irregularidades nas concessões.
A previsão é que, até o fim do ano, sejam economizados mais
R$ 15,7 bilhões com a continuidade da revisão dos benefícios.
No Brasil, desde o início do processo (no segundo semestre
de 2016) até 30 de junho de 2018, foram realizadas 791.471 perícias (431.582 de
auxílios-doença e 359.889 de aposentadorias por invalidez). Entre os benefícios
analisados, 341.746 auxílios e 108.512 aposentadorias foram cessados.
No Rio, foram feitos 65.434 exames (37.975 de
auxílios-doença e 27.459 de aposentadorias por invalidez). Entre os benefícios
reavaliados, 27.624 auxílios-doença e 7.033 aposentadorias foram cessados. O
processo de revisão já gerou uma economia de R$ 1,1 bilhão nas revisões de
auxílio-doença.
Ao todo, no Estado do Rio, 43.470 auxílios e 88.754 de
aposentadorias por invalidez serão revisados até o fim do ano.