![]() |
Foto: Reprodução |
Agência
O Globo
A expressão de genes, isto é, sua atividade, na área do
cérebro ligada ao vício é afetada de formas diferentes em homens e mulheres que
se engajam repetidamente no chamado binge drinking, expressão em inglês para
beber muito num curto período de tempo.
Estudo publicado nesta segunda-feira no periódico científico
“Frontiers in Genetics” com base em experimentos com camundongos revela pela
primeira vez que, no caso das fêmeas, o comportamento perturba o funcionamento
de genes ligados à produção de hormônios e à função imunológica, enquanto nos
machos é a sinalização nervosa que é prejudicada.
- Demonstramos que o binge drinking recorrente altera
significativamente as vias moleculares no nucleus accumbens, região do cérebro
ligada à adicção – resume Deborah Finn, professora de neurociência
comportamental da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, EUA, uma das
autoras do estudo. - Uma comparação das vias ativadas revela diferentes
respostas de cada sexo, similares às relatadas em pesquisa recente com
camundongos machos e fêmeas testados durante a fase de abstinência após
intoxicação crônica com álcool.
Segundo a pesquisadora, os achados podem ter um impacto
significativo no tratamento do alcoolismo ao enfatizar a importância de
desenhá-los dependendo do gênero do paciente.
- Estas descobertas são importantes por aumentarem nossa
compreensão das vias e redes moleculares de machos e fêmeas que podem ser
influenciadas pelo repetido binge drinking – acrescenta Deborah. - Este
conhecimento pode nos ajudar a identificar e desenvolver novos tratamentos
direcionados para desordens de uso de álcool por pacientes homens e mulheres.
O binge drinking recorrente é um fator de risco para o
desenvolvimento de dependência alcoólica. Diante disso, Deborah e colegas
decidiram investigar se o comportamento produziria diferentes respostas nos
cérebros de camundongos macos e fêmeas como foi observado previamente em
experimentos de fases de abstinência.
Para tanto, os cientistas analisaram a expressão genética
na área do cérebro ligada ao vício, o nucleus accumbens. Expressão genética é o
processo em que genes específicos são ativados para produzir determinadas
proteínas para uso das células, como a fabricação de material para a produção
de novos tecidos ou hormônios. Já a regulação genética governa a intensidade e
tempo da expressão genética.
- Examinamos o efeito do binge drinking repetido na
expressão 384 genes previamente identificados como importantes em desordens de
adicção e humor – conta Deborah. - Do total de 106 genes regulados pelo binge
drinking, só 14 foram afetados em machos e fêmeas, representado os alvos comuns
do comportamento. Curiosamente, apenas quatro destes 14 genes foram regulados
na mesma direção, e os 30 genes mais regulados pelo binge drinking em cada sexo
eram notadamente diferentes.
Analisando mais a fundo os dados, os pesquisadores
avaliaram os prováveis efeitos gerais que a regulação e expressão destes genes
teriam nos organismos de macho e fêmeas.
- Nossos resultados sugerem que o binge drinking repetido
têm efeitos muito diferentes nas respostas neuroadaptativas no nucleus
accumbens de machos e fêmeas, com diferentes vias biológicos sendo ativadas em
cada sexo – diz Deborah. - A análise destas vias sugerem que a sinalização
hormonal e a função imunológica são alteradas pelo binge drinking nas fêmeas, enquanto
a sinalização nervosa foi o alvo central do binge drinking nos machos.
Isto teria importantes implicações no tratamento do vício
em álcool e enfatiza a necessidade de montar terapias farmacológicas
individualizadas para pacientes homens e mulheres.
- Demonstramos que a manipulação farmacológica em ambos os
sexos de uma via biológica que só foi afetada pelo binge drinking em machos não
reduziu o binge drinking das fêmeas, e só diminuiu nos machos – explica a
pesquisadora. - Levar em consideração o sexo é crítico para o desenvolvimento
de potenciais terapias farmacológicas para o tratamento de desordens de uso do
álcool. Estudos futuros deverão determinar se essas mudanças diferentes na
expressão de genes correspondem também a diferenças comportamentais ou
fisiológicas.
Tópicos:
SAÚDE