Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Arquivo Agência Brasil |
Agência Brasil - Confirmado para o Ministério da
Justiça (que agregará a Segurança Pública e parte do Conselho de Controle de
Atividades Financeiras, o Coaf) , o juiz federal Sergio Moro disse que o
governo do presidente eleito Jair Bolsonaro não fará discriminação de qualquer
tipo. Também afirmou que o novo governo será severo na punição contra os crimes
de ódio.
“Eu jamais
iria ingressar em um governo se houvesse uma sombra de suspeitas de que haveria
alguma política nesse sentido”, afirmou o juiz federal durante entrevista à
Rede Globo na noite de ontem (11). “O governo deve ter uma postura rigorosa
contra crimes em geral e também crimes de ódio.”
Moro disse
ainda que jamais ouviu de Bolsonaro qualquer afirmação que denotasse
discriminação. “Eu acompanhei todo o processo eleitoral. Eu nunca vi da parte
do presidente eleito uma proposta de cunho discriminatório em relação às
minorias. Eu não imagino, de qualquer forma, que essas minorias estejam
ameaçadas.”
De acordo
com o juiz federal, não haverá mudanças. “Nada vai mudar. Eu tenho grandes
amigos que são homossexuais, algumas das melhores pessoas que conheço são homossexuais.
Não existe nenhuma perspectiva de que vai mudar.”
Corrupção
Questionado
se defenderia o afastamento de um ministro suspeito de corrupção, Moro afirmou
que “se a denúncia for consistente, sim”, a pessoa deve ser afastada. Ele
lembrou que ouviu de Bolsonaro que não haveria proteção no seu governo em meio
a eventuais suspeitas. “[Ele, o presidente eleito, disse que] ninguém seria
protegido.”
Em seguida,
o juiz federal foi categórico. “Eu não assumiria um papel como ministro da
Justiça com risco de comprometer a minha biografia.”
Isenção
Responsável
pelos processos da Lava Jato na 13ª Vara Criminal de Curitiba, Moro reiterou
que a decisão de ingressar no governo eleito é posterior às medidas anteriores,
tomadas por ele, como o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
por corrupção e lavagem de dinheiro.
“Existe essa
fantasia de que o ex-presidente Lula, que foi condenado por corrupção e lavagem
de dinheiro, teria sido excluído arbitrariamente das eleições por conta do
processo penal. Mas o fato é que ele foi condenado porque cometeu um crime”,
afirmou o juiz federal, lembrando que proferiu a decisão em 2017.
O Conselho
Nacional de Justiça, na semana passada, pediu explicações a Moro sobre sua
suposta atividade político-partidária enquanto ainda exercia a magistratura.
Ele negou qualquer irregularidade na sua conduta.
Crime Organizado
Moro disse
que sua meta é adotar medidas de combate ao crime organizado, sustentadas em
investigações sólidas, prisão dos líderes, isolamento dos chefes do esquema e
confisco de bens.
“É assim que
se desmantela a organização criminosa”, afirmou o juiz federal. “Não é uma
coisa simples”, acrescentou. “Não se pode construir uma política baseada em
confrontos.”
Questionado
sobre a proposta do governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC),
de colocar snipers (atiradores de elite) para “abater” criminosos armados de
fuzil, sem que haja implicação legal para os policiais, Moro disse que o
assunto tem de ser tratado com “mais cautela” e que pode futuramente “sentar e
conversar com o governador eleito”.
Futuro
O juiz
federal negou que pretenda se lançar à sucessão presidencial, em 2022. Ele
disse que exercerá uma função técnica e não política. “O grande motivador foi a
oportunidade de ir a Brasília e de poder ter uma agenda anticorrupção e
anticrime organizado.”
Moro disse
também que não se vê fazendo política no futuro. “Na minha visão, estou
assumindo um cargo, predominantemente um cargo técnico”, disse. “Estou falando
aqui que não vou ser [candidato à Presidência da República].”
Sobre
eventuais divergências com o presidente eleito, Moro disse que buscaria um
acordo. Se não for possível, Bolsonaro poderia substituí-lo. “Quem foi eleito
foi o senhor presidente”, ressaltou. “Se tudo der errado, eu vou ter de
procurar me reinventar no setor privado de alguma forma.”
Com a
perspectiva de ser nomeado para o Supremo Tribunal Federal (STF) a partir da
abertura das vagas dos ministros Celso de Mello e Marco Aurélio de Mello, em
2020 e 2021, respectivamente, o juiz federal afirmou que é uma “possibilidade
para o futuro”.