(foto: Mateus Parreiras/EM/DA Press) |
Mateus Parreiras/Em.com.br
O medo de
ser varrido sem qualquer chance de escapatória por uma onda de rejeitos de
minério ficou mais evidente em Minas após o emblemático rompimento da Barragem
do Fundão, em Mariana, em 5 de novembro de 2015. E voltou a se tornar pesadelo
de gente que vive aos pés desses grandes maciços destinados a represas de
resíduos depois que a Barragem de Casa de Pedra, em Congonhas, apresentou
infiltrações graves. A estrutura precisou passar por intervenções urgentes e
implantar um sistema de evacuação de emergência para que as cerca de 4.800
pessoas que residem a apenas 250 metros do complexo treinassem procedimentos de
salvamento.
A exemplo
dessas comunidades, muitas convivem com o medo de ser dizimadas como em Mariana,
onde houve 19 mortes – uma das vítimas nem sequer teve o corpo localizado. Esse
tipo de receio persegue diariamente quem mora, por exemplo, abaixo da Barragem
de Capão da Serra, em Nova Lima, e vê obras sendo feitas no alto do
represamento sem saber a que se destinam. Da mesma forma, habitantes de alguns
bairros de Rio Acima, na Grande BH, ameaçados pelos rejeitos tóxicos da
barragem abandonada da Mundo Mineração, um perigo que pode contaminar até mesmo
o Rio das Velhas e comprometer o abastecimento da Grande BH.
De acordo
com a procuradora de Justiça e membro da força-tarefa Rio Doce – que acompanha
e cobra pelo Ministério Público de Minas Gerais ações após a tragédia do
rompimento da Barragem do Fundão –, Andressa Lanchotti, há pelo menos 400
barragens de rejeitos no estado, sendo que quase 10% precisam ser monitoradas
de perto devido aos perigos de ruptura, com efeitos graves para o meio ambiente
e núcleos humanos. “Usamos o inventário da Fundação Estadual de Meio Ambiente
(Feam), estudos técnicos do MP com indicadores de quais estruturas estão em
risco, dados estatísticos de processos, inquéritos civis e chegamos ao número
de 37 barragens. Mas não dá para falar com segurança que além dessas não
tenhamos outras em situação de risco”, afirma a procuradora, que destacou a
necessidade de ampliar a fiscalização e de aprovar as leis que tramitam na
Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) há dois anos para que haja um
fortalecimento desse controle de implantação e garantias dos empreendimentos. A
Feam aponta a existência de 50 barragens sem garantia de estabilidade, nem
todas de rejeitos.
A falta de
informações tem assustado pessoas de comunidades que ficam abaixo da área do
represamento de 47 metros de altura da Barragem de Capão da Serra, também conhecida
como Barragem de Pasárgada, em Nova Lima, na Grande BH. Há pelo menos 50
residências no traçado considerado de risco. O temor aumentou principalmente
quando os operários que faziam as intervenções pintaram grandes seções com
tinta branca, marcando locais bem no meio da estrutura de alvenaria que segura
2,23 milhões de metros cúbicos de rejeitos e água sobre suas casas. “O pior é
não saber. Não avisaram nada para ninguém. Aí, quando vi que estavam pintando
os locais de intervenção bem no meio da represa, o medo de a casa onde vivo com
minha família ser atingida cresceu demais. Fui até lá com um GPS e depois medi
o nível da minha casa. Está perto, mas espero que não me atinja”, disse um
morador do condomínio Pasárgada, que alega razões particulares para não ter o
nome revelado.