Apesar do
Brasil não estar localizado em uma zona de choque de placa tectônica –
principal causa para a incidência de abalos sísmicos no mundo -, o município de
Guaratinga, no extremo sul baiano, tem sofrido com a incidência de tremores na
região nos últimos dias. Em menos de 15 dias, um novo tremor de terra de 2,1
graus de magnitude na escala Richter foi registrado na cidade, na manhã de
segunda-feira (11). O último tremor foi sentido pelos moradores no dia 28 de
janeiro e teve 2,5 graus.
De acordo
com o geólogo e professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal
da Bahia (Ufba), Marco Botelho, os dois fenômenos podem ser considerados de
baixa gravidade, já que não apresentou aspectos graves para a população, como
rachaduras no solo. “Se o chão estivesse rachado seria problemático, pois
poderia ser um forte indício de fraturas perigosas na região”, ponderou.
O
especialista alerta para a necessidade de realização de estudos para entender
as causas dos tremores e riscos para os moradores. “Não dá para ter uma
exatidão, mas, a partir de estudos, podemos compreender de uma forma maior o
que está acontecendo”, destacou.
“Existe uma
cordilheira [uma cadeia de montanhas] bem no meio do oceano Atlântico,
perpendicular a essa cadeia você tem falhas. São quebras nas rochas, planos de
fraqueza que se estendem por quilômetros, algumas chegam a atingir a costa
brasileira. Um exemplo clássico disso são os tremores que acontecem no Rio
Grande do Norte. Os terremotos são gerados pela fricção das rochas uma contra
outra que propagam ondas elásticas em todas as direções. Então, se temos esse
tipo de fratura dentro do território brasileiro ele pode sim ser um emissor de
terremotos”, explicou.
Ainda de
acordo com o geólogo, a segunda alternativa seria avaliar a zona geológica da
região. “Não sei se é o caso agora, mas há regiões de rochas carbonáticas
sujeitas a quedas de cavernas e desabamentos. Isso também pode ocasionar
terremotos”, analisou.
Após o
primeiro tremor, a cidade ainda teve uma rocha que se desprendeu de uma
montanha, no dia 4 de fevereiro. O caso ocorreu na localidade de Córrego do
Ouro, zona rural do município. Para Botelho, o desprendimento pode estar
relacionado ao primeiro tremor que ocorreu na cidade há duas semanas. “Com a
gravidade, a rocha que está fraturada pode cair. Os terremotos podem causar
esses desabamentos, não o contrário”, considerou.
Em relação
ao pânico da população, Botelho explica que o medo pode ser controlado com a
divulgação de informações. “A Defesa Civil pode e deve alertar sobre os perigos
e gravidade dos fenômenos”, sugeriu. O geólogo ainda recomenda que a população
não fique dentro de imóveis que tenham rachaduras em novos casos de tremores de
terra. Além disso, ele destaca a importância de manter uma distância segura das
áreas montanhosas e rochosas da cidade.
Ao Bahia
Notícias, a Defesa Civil de Guaratinga, que solicitou um estudo geológico à
prefeitura (veja aqui), informou que a prefeita Christine Pinto (PSD) se reuniu
com técnicos do governo do estado na segunda-feira (11), para tentar viabilizar
o deslocamento de uma equipe da Defesa Civil da Bahia a fim de acompanhar a
situação no município.
Bahia Notícias