Ronald Júnior fará sua primeira mostra em Salvador (Foto de Almiro Lopes) |
A primeira exposição assinada por Ronald, em março do ano
passado, foi um acontecimento em Campo Formoso, Centro Norte da Bahia, cidade
em que é radicado. Sua obra – a maior parte pinturas em tinta acrílica sobre
telas - ganha duas formas de exibição.
A primeira é um documentário que vai abordar
justamente a sua primeira exposição e será exibido na mesma cidade. A segunda
será a exposição Oju (‘olhos’, em iorubá) em agosto, no Palacete das Artes, em
Salvador. Hoje, seus quadros são vendidos até por R$ 8 mil.
Para produzir, Ronald simplesmente vai para a rua e
pinta. Normalmente, registra gente. Transpõe para a tela as cenas e pessoas que
vê, sempre com seu traço diferenciado e olhar abstrato. “O abstrato é o que
faz me divertir. É o que faço para brincar”, observa. Também faz
esculturas em madeira e argila a partir de materiais que encontra na rua.
“Minha obra não tem retoques. Sempre parece que tá
faltando algo. A ideia é que eu nunca fique conformado e brigue com ela. Eu
fico com raiva e brigo com todas as minhas obras. Eu brinco e brigo. Aí o
resultado é esse”, explica. Nascido em Salvador e “naturalizado por Campo
Formoso” depois que os pais se mudaram para o interior em busca de emprego,
Ronald saiu da capital em 2004, aos 7 anos.
Os retratos, reais ou imaginários, são destaques na obra de Ronald (Foto: reprodução)
|
Capoeira e futebol
Passou três anos em Capim Grosso e depois foi morar em
Campo Formoso. Apaixonado por capoeira e por futebol (torcedor do Vitória e
louco pelos ‘meninos da vila’ revelados pelo Santos), Ronald coloca todo esse
universo nas telas. “A capoeira foi o meu primeiro contato com arte, com
cultura. Depois o futebol me trouxe malícia. Está tudo aí na minha obra”, diz.
Ronald chegou a tentar jogar profissionalmente em clubes
como Vitória da Conquista, Galícia e o próprio Vitória, onde chegou a
participar de alguns jogos das divisões de base. Mas o lateral esquerdo
frustrado achava, lá no seu íntimo, que também tinha alguma aptidão para
desenhar. “Meus cadernos da escola eram todos cheios de desenho e nada de
estudo”.
É nessa hora que a mãe o interrompe. “Nunca gostou de estudar. Os cadernos eram cheios de rabiscos e nada de conteúdo das aulas”. O problema era que só o próprio Ronald achava que tinha futuro como artista. “O pessoal achava tosco. Os professores também. Eu era sempre reprovado nas aulas de artes. Os desenhos tinham uma identidade só minha, por isso ninguém entendia”.
Nessa época, aos 14 ou 15 anos, enquanto se questionava
sobre as lesões que o impediam de jogar futebol, Ronald já estudava grandes
mestres das artes visuais como Picasso e Salvador Dalí. “Eu via que os caras
faziam algo diferente e queria fazer algo diferente também”. Em determinado
momento, chegou à conclusão de que seu futuro estava nas artes plásticas.
No ano passado, Ronald realizou sua primeira exposição, na cidade de Campo Formoso (Foto: reprodução) |
Choque de realidade
Isso aconteceu quando visitou pela primeira vez o
Palacete das Artes, mesmo local que vai expor daqui a alguns meses. “Um dia, a
gente tava em Salvador e meu pai disse: ‘Hoje a gente não vai pro cinema. Vamos
dar uma volta para ver o que tem nos museus’. Pronto! Aquele passeio mudou a
minha vida”.
Ali, conheceu a professora Margareth Abreu, para quem
mostrou seu trabalho. “Ela foi sincera: ‘Olha, esse trabalho aqui não entra em
um museu, nunca!”. Na verdade, se tratou de uma crítica construtiva. “Me deu um
choque de realidade”. Ela aconselhou Ronald a estudar mais. Assim ele fez. “Eu
ia muito na linha do expressionismo abstrato, que desconstruía os desenhos
bonitinhos. Ia muito na linha do Basquiat (Jean-Michel Basquiat, artista
americano). Mas hoje me abri para outras possibilidades”, destaca.
Para os artistas baianos, por exemplo. “Eu ficava nessa
onda de estudar o povo de fora, mas não conhecia Mário Cravo Júnior, Juarez
Paraíso, Mestre Didi, Carybé. E até mesmo da fotografia, como Pierre Verger, e
da literatura, como Jorge Amado. Todos esses estavam perto de mim. Foram eles
que me deram os caminhos para encontrar uma identidade”, admite.
Mas, qual essa identidade? Também fotógrafo e
documentarista, ele descobriu que seu trabalho como artista seria registrar as
pessoas. Fazer retratos humanos. “Eu gosto de registrar o povo. Dar
visibilidade a quem não tem visibilidade”, define-se. Ele faz isso brincando
com o abstrato. Os personagens estão sempre aparentemente tristes, os olhos
fixos.
Normalmente, são pessoas que posam para seus quadros.
Isso quando não são fruto da imaginação. “Quando eles são reais, registro da
forma que eles posam. Não sei por que sempre estão tristes. Deve ser porque ali
eles sabem que têm a oportunidade de demonstrar um olhar questionador de suas
realidades, apesar de serem pessoas extremamente alegres no dia a dia”.
Fantasia e realidade se misturam nas criações do rapaz que sonhava ser jogador de futebol (Foto: Reprodução) |
Choque de realidade
Isso aconteceu quando visitou pela primeira vez o
Palacete das Artes, mesmo local que vai expor daqui a alguns meses. “Um dia, a
gente tava em Salvador e meu pai disse: ‘Hoje a gente não vai pro cinema. Vamos
dar uma volta para ver o que tem nos museus’. Pronto! Aquele passeio mudou a
minha vida”.
Ali, conheceu a professora Margareth Abreu, para quem
mostrou seu trabalho. “Ela foi sincera: ‘Olha, esse trabalho aqui não entra em
um museu, nunca!”. Na verdade, se tratou de uma crítica construtiva. “Me deu um
choque de realidade”.
Ela aconselhou Ronald a estudar mais. Assim ele fez. “Eu
ia muito na linha do expressionismo abstrato, que desconstruía os desenhos
bonitinhos. Ia muito na linha do Basquiat (Jean-Michel Basquiat, artista
americano). Mas hoje me abri para outras possibilidades”, destaca.
Para os artistas baianos, por exemplo. “Eu ficava nessa
onda de estudar o povo de fora, mas não conhecia Mário Cravo Júnior, Juarez
Paraíso, Mestre Didi, Carybé. E até mesmo da fotografia, como Pierre Verger, e
da literatura, como Jorge Amado. Todos esses estavam perto de mim. Foram eles
que me deram os caminhos para encontrar uma identidade”, admite.
Mas, qual essa identidade? Também fotógrafo e
documentarista, ele descobriu que seu trabalho como artista seria registrar as
pessoas. Fazer retratos humanos. “Eu gosto de registrar o povo. Dar
visibilidade a quem não tem visibilidade”, define-se. Ele faz isso brincando
com o abstrato. Os personagens estão sempre aparentemente tristes, os olhos
fixos.
Normalmente, são pessoas que posam para seus quadros.
Isso quando não são fruto da imaginação. “Quando eles são reais, registro da
forma que eles posam. Não sei por que sempre estão tristes. Deve ser porque ali
eles sabem que têm a oportunidade de demonstrar um olhar questionador de suas
realidades, apesar de serem pessoas extremamente alegres no dia a dia”.
O Correio 24h