Getty Images |
Da BBC News Brasil em São Paulo
Após serem
quase extintas pela caça comercial, as ariranhas estão retornando a rios da
Amazônia.
Os últimos
indícios da recuperação da espécie foram divulgados nesta semana pela revista
científica Biological Conservation.
Liderada
pela bióloga Natália Pimenta, a pesquisa analisou sinais da presença de
ariranhas na bacia do rio Içana, no noroeste do Amazonas, onde ela havia sido
considerada extinta.
O estudo foi
feito após outras pesquisas apontarem uma tendência de recuperação da espécie -
com nome científico Pteronura brasiliensis - em diferentes partes da Amazônia,
como a bacia do Solimões e a região da hidrelétrica de Balbina.
Maior
carnívoro semiaquático da América do Sul, com até 1,80 m quando adulta, a
ariranha é um dos dois tipos de lontra encontrados no Brasil e está na Lista
Vermelha da União Internacional para a Conservação, entre as espécies
consideradas ameaçadas de extinção.
Mordidas de ariranha
O estudo no
Içana teve início após membros do povo baniwa alertarem sobre o retorno das ariranhas
a seu território, dentro da Terra Indígena Alto Rio Negro.
Foto: João Fellet/BBC |
Presidente
da Associação Indígena da Bacia do Içana, André Baniwa diz que moradores
notaram os primeiros sinais da volta dos animais uns dez anos atrás, ao
encontrar carcaças de peixes com mordidas de um bicho que não reconheciam.
Os mais
velhos deram o veredicto: a ñeewi (ariranha, em língua baniwa) estava de volta.
Nos últimos
anos, os sinais aumentaram - e vários moradores chegaram a topar com os
mamíferos.
Membros da
comunidade participaram do estudo sobre o retorno dos animais, que contou com o
apoio das fundações Capes, CNPq, The Rufford Foundation e Idea Wild.
Baniwa conta
que ariranhas não eram vistas na região desde os anos 1940. Na época, eram as
espécies mais cobiçadas no movimentado mercado de peles amazônicas.
Foto: Reprodução/Natália Pimenta |
Comércio de peles de animais
Ao pesquisar
o tema, a bióloga Natália Pimenta encontrou estudos que estimaram em 23 milhões
os animais caçados na Amazônia Ocidental para a extração de peles entre 1904 e
1969.
Foto: Reprodução/IBGE |
O couro de
ariranha - animal amazônico que mais sofreu com a caça comercial, segundo a
pesquisadora - costumava ser exportado para os Estados Unidos ou a Europa, onde
viraria casacos, chapéus e echarpes.
Em um
catálogo de 1946 de uma loja de peles em Manaus, o couro de ariranha é vendido
por 180 cruzeiros - acima do preço de peles de onça (150), maracajá (150) e
caititu (47).
Baniwa diz
que os próprios membros da comunidade caçavam os animais para trocar as peles
por armas e outros bens. Um bom couro de ariranha valia o equivalente a duas
espingardas.
A
modernização das técnicas de caça acelerou o extermínio da espécie.
A partir dos
anos 1960, leis passaram a regulamentar o comércio de peles silvestres no país.
Em 1975, o Brasil aderiu a uma convenção internacional que proibia o comércio
de espécies ameaçadas - entre elas, as ariranhas.
A demarcação
de grandes terras indígenas na Amazônia a partir dos anos 1990 também golpeou a
atividade.
A demanda
pelas peles diminuiu, permitindo que as ariranhas começassem a se recuperar.