Em caminhos por onde um dia passaram Antônio Conselheiro e seus beatos, José Alves da Silva, 64, surge em meio a uma estrada de terra na zona rural de Canudos, a 410 km de Salvador.
Usando chapéu e gibão de couro, ele vem montado em um cavalo também encourado. Ao seu lado, plantações de bananas emolduram a paisagem na qual predomina o verde. Acima, nuvens escuras escondem o forte sol do sertão
Depois de sete anos de estiagem, o semiárido nordestino registrou entre novembro do ano passado e abril de 2019 um volume de chuvas que chegou ao patamar da média histórica da região.
Em Canudos, que fica numa das regiões mais inóspitas e secas da Bahia, as chuvas vieram em março. No povoado de Riacho do Cipó, onde os moradores mantêm uma comunidade agropastoril de fundo de pasto, com criação de gado solto, a recuperação da vegetação animou os criadores.
Em Monte Santo (a 350 km de Salvador), onde as chuvas concentraram-se no início de abril. Antônio dos Reis, 74, que plantou milho, feijão de corda e melancia.
“A melancia resistiu. É pequena, mas dá para gente fazer um lanche. As que não ficaram boas, a gente dá para os porcos”, diz Reis.
Se não garantiram a safra nas áreas mais secas, as chuvas fizeram os principais reservatórios de água do Nordeste voltarem a encher, reduzindo as limitações na captação de água para agricultura.
No rio São Francisco, o chamado reservatório equivalente (soma da capacidade de todos os lagos da bacia) chegou a 57%, o maior nível desde o segundo semestre de 2012. Maiores do Nordeste, a barragem de Itaparica chegou a 31% e a de Sobradinho, a 48%.
Em Canudos não foi diferente. Erguido nos anos 1960 sobre as ruínas do antigo arraial onde lutaram e morreram Antonio Conselheiro e 25 mil sertanejos, o açude de Cocorobó saiu de 17% em novembro para 55% em abril e está a apenas cinco metros de voltar a sangrar.
A água encharcou o perímetro irrigado de 12 km, onde os sertanejos plantam banana, coco, quiabo e coentro que diariamente saem em caminhões para atender o mercado de Salvador.
As limitações para captação foram cessadas –cenário completamente diferente ao pico da seca na região, em 2017, quando a água para irrigação ficava disponível apenas três horas por semana.
“Ficou tudo inundado, um presente de Deus para nós”, diz José Alves da Silva, que planta banana em uma área equivalente a dois campos de futebol nas margens do açude Cocorobó.
O aumento do volume de água do açude também fez mergulhar o antigo arraial de Canudos, cujas ruínas da igreja e cemitério haviam reaparecido em 2017 depois de quase 18 anos totalmente cobertas.
Também fez do açude ponto de encontro de adolescentes. Com a fartura de água, saltavam do alto da torre de captação da barragem, mergulhavam e aproveitavam o sol que se punha nas águas doces do sertão.
Veja a reportagem completa no Folha de São Paulo
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