Foto: Jorge William / Agência O Globo |
O Globo
RIO — A
ministra Damares Alves negou que estaria deixando o cargo no governo Bolsonaro
. Segundo informações da revista "Veja", a titular da pasta da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos teria pedido demissão, alegando
cansaço e saúde debilitada após quatro meses no ministério, além de ameaças de
morte.
— Informo
que não pretendo sair do governo — disse em nota ao GLOBO.
A ministra,
que coleciona polêmicas à frente do cargo, disse ainda em entrevista ao
programa " Jornal da Manhã", da rádio Jovem Pan (leia mais abaixo) na
manhã desta sexta-feira que vem recebendo ameaças de morte e que se mudou para
um hotel, em Brasília.
O novo
endereço, porém, tem sido mantido em sigilo por questões de segurança. O
Gabinete de Segurança Institucional (GSI) orientou ainda a ministra a não
antecipar informações sobre sua agenda, que é bastante movimentada, com viagens
frequentes para eventos oficiais.
Na
entrevista à rádio, Damares reforçou que fica no cargo "até o dia que o
presidente Bolsonaro precisar de mim, entender que eu sou útil, e até minha
saúde aguentar."
"Quando
fui convidada para ser ministra, já estava pedindo aposentadoria, estava
parando por um processo de cansaço, de exaustão. O problema não são as ameaças,
é o processo de cansaço e exaustão. No momento que estava parando, aceitei.
Nenhum ministro está trabalhando menos do que 15h por dia neste governo. De 15h
a 18h por dia", complementou a ministra.
"Não
vou deixar o governo, não. Tenho muita coisa para fazer, para
desenvolver."
Em sua conta
pessoal no Twitter, ela afirmou novamente que fica até quando o
"presidente Bolsonaro quiser e Deus me der saúde. E olha, tenho
muita".
Ameaças desde o começo do governo
"No momento
da posse, vocês todos ficaram sabendo que havia ameaças a mim e ao presidente
Jair Bolsonaro. Houve até uma situação de bombas, e foram encontrados artefatos
em uma igreja no DF. A partir daí, eu fiquei numa análise de risco e fiquei
tendo cuidado. Tive que sair de casa, fui pra um hotel, estou no hotel até hoje
e fazendo uma análise do momento em que posso voltar pra casa. Essas ameaças
vêm via Facebook, redes sociais. Mas sempre fui vítima de ameaças, não é porque
sou ministra, não", contou.
Ela atribui
os ataques ao fato de lidar com "temas polêmicos, como o crime
organizado".
"Vamos
lembrar que pedofilia é crime organizado. Legalização das drogas, que eu me
coloco de forma veementemente contra, tem crime organizado. Crianças
desaparecidas, tráfico de mulher também", elencou.
E concluiu,
dizendo que as ameaças estão sendo investigadas.
"Estou
tendo todo o cuidado possível. Confesso que elas não me assustam, não."
Ministério recheado de mulheres e
polêmicas
Desde que
assumiu o ministério, para o qual nomeou uma maioria de mulheres nas suas
secretarias que tratam de temas tão diversos quanto ensino domiciliar, suicídio
e automutilação, a pastora vem colecionando polêmicas.
Além de
vídeos antigos, em que fala sobre sexo com animais e faz lobby, com as mãos
"sujas de sangue", contra o aborto, o começo de sua gestão foi
marcado por outros registros, como um em que ela diz que "menino veste
azul e menina veste rosa", no dia da cerimônia de posse.
Jesus no pé de goiabeira
Uma das
primeiras polêmicas envolvendo a ministra foi um vídeo, que circulou antes que
ela tomasse posse, em que Damares diz durante um culto evangélico que viu Jesus
Cristo em cima de um pé de goiaba, aos 10 anos, quando pensou em se matar. A
"revelação", segundo a então assessora de Magno Malta, aconteceu nos
fundos da casa de seu pai. Damares conta que subiu na árvore e preparava para
tomar um veneno quando "avistou Jesus caminhando em sua direção".
Damares
desistiu, ainda, de lançar o livro
"Jesus sobe no pé de goiaba” , sua
autobiografia. O livro teria sido lançado em dezembro.
'Menino veste azul e menina veste
rosa'
No dia de
sua posse, em 2 de janeiro, um vídeo tomou as redes sociais. Nele, Damares afirma que é inaugurada agora uma "nova
era" no país, em que "menino veste azul e menina veste
rosa" . As imagens foram gravadas
no dia da cerimônia de transmissão de cargo na qual Damares assumiu a pasta. No
discurso de posse, a ministra já havia afirmado que "menina será princesa
e menino será príncipe".
'No casamento, mulher é submissa ao
homem'
Em diversas
situações, a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares
Alves, afirmou que a mulher é submissa ao homem no casamento. Mas comentou que
isso é uma questão de fé e que não a tornaria menos capaz de ser ministra.
'Mãos sujas de sangue' contra aborto
Outra
polêmica veio à tona com a circulação de
um vídeo antigo, de 2013, em que Damares
aparece com as mãos sujas de tinta, imitando sangue , como parte de uma campanha para que a então
presidente Dilma Rousseff vetasse um projeto de lei, depois aprovado, que
determinava o atendimento a vítimas de violência sexual pelo SUS. Entre as
medidas previstas, estava a profilaxia da gravidez, que pode ser a distribuição
de píluas do dia seguinte — o que o movimento que Damares aderiu criticava.
Masturbação de bebês
Em um vídeo
recuperado por uma emissora holandesa,
Damares afirmou que, no país europeu, é recomendado masturbar meninos a
partir dos sete meses de idade . De
acordo com a pastora, os cientistas europeus teriam influenciado autoridades
brasileiras — notadamente a prefeitura de São Paulo — a ensinar o que é ereção
e masturbação de bebês.
— Na Holanda
os especialistas, que fizeram não sei quantas universidades, ensinam que o
menino deve ser masturbado com sete meses de idade, para quando chegar na fase
adulta possa ser um homem saudável sexualmente, e a menina precisa ter a vagina
manipulada desde cedo para que ela tenha prazer na fase adulta — afirmou no
vídeo.
Hotéis fazenda 'de fachada' para
'transar com animais'
Em outro
vídeo de 2013, Damares afirmou que
muitos hotéis fazenda no Brasil são de “fachada” e, na verdade, são
locais para “turista ir transar com animais” . A ministra relatou que denúncias
teriam sido recebidas pela Câmara e pelo Senado. No discurso, ela criticou um
exercício de redação em que os alunos deveriam escrever um texto a partir de
uma imagem chamada "O Fazendeiro Solitário", que mostrava um homem ao
lado de galinhas.
— Olha o
tamanho do órgão sexual do fazendeiro solitário. E olha como estão as galinhas.
Apologia ao sexo com animais — afirmou.
'Deixamos a teoria da evolução entrar
nas escolas'
Em uma
entrevista, também em 2013, Damares
contestou o ensino da Teoria da Evolução nas escolas . Segundo ela, a
Igreja perdeu espaço na sociedade brasileira ao "deixar" a
"teoria da evolução entrar nas escolas". Quando perguntada sobre o
papel da Igreja e dos fiéis na política, a ministra deu a entender que os
evangélicos precisavam "ocupar a ciência". Após a divulgação do
vídeo, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, contestou a
afirmação, defendendo que "não se deve misturar ciência com
religião".