Folhapress
A igreja esteve cheia de fiéis e romeiros durante toda a
semana, que culminou com uma missa no sábado de Aleluia. Na madrugada do
domingo de Páscoa, contudo, o templo católico erguido há mais de 200 anos ardeu
em chamas.
“Estávamos esperando pela Ressurreição, mas o que veio foi fogo”, afirma Ivaney Palhano, 26, coordenador de pastorais da paróquia.
Incrustada em uma das regiões mais inóspitas do sertão da
Bahia, a Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, em Monte Santo (a 350 km de
Salvador), tenta se reerguer após um incêndio que destruiu sua área interna,
despedaçou o telhado e danificou imagens sacras de valor histórico.
O fogo começou por volta das 2h do domingo de Páscoa
(21). Sem estrutura de Corpo de Bombeiros –a unidade mais próxima fica a 170
km– os próprios moradores se uniram para debelar as chamas.
Arrombaram a porta da igreja e quebraram vidros para
salvar imagens sacras. Subiram nos telhados para tentar fazer cessar as
labaredas que queimavam as vigas de madeira e usaram caminhões-pipa para
resfriar as brasas.
Na última terça (30), as portas da igreja foram abertas
pela primeira vez para operários que entraram para retirar destroços, enquanto
beatas aproximavam-se para dimensionar o estrago. “Só tenho vontade de chorar”,
disse a agricultora Rosa Dantas, 64, que vai na missa toda semana.
Pedaços de madeira e telhas quebradas se misturavam a
livros sagrados que ficaram chamuscados e objetos litúrgicos. Além do altar da
igreja, perdeu-se no incêndio um oratório de madeira, um crucifixo e três
imagens sacras.
A polícia fez perícia para identificar as causas do
incêndio, mas os resultados saem apenas em junho. Peças sacras que são
inventariadas pelo Iphan serão vistoriadas por técnicos do órgão federal de
proteção ao patrimônio.
Andando de um lado para o outro, com as mãos cobertas de fuligem, Cristina Barreto, 51, recolhia em meio aos escombros as peças que ainda poderiam ser restauradas. Dentre elas estava uma imagem de são Rafael Arcanjo, da qual só restou parte do corpo.
“É de doer o coração para nós que somos daqui. É uma
igreja com muita história”, afirma Cristina. No formato atual, a Igreja Matriz
data de 1927. No entanto, a fundação da paróquia de Monte Santo e a construção
da primeira capela aconteceu em 1790, época em que missionários capuchinhos
aportaram na região.
Impressionado com a semelhança da serra que margeia a
área do Piquaraçá com o Monte Calvário de Jerusalém, frei Apolônio de Todi a
batizou de Monte Santo e ordenou a construção de um santuário e a instalação de
cruzes no caminho até o topo do monte.
Foi o início de uma tradição de romarias que perdura há
mais de 200 anos e que hoje chega a atrair cerca de 100 mil fiéis na festa de
Todos os Santos, em 1º de novembro.
A fama levou a cidade e sua igreja às telas do cinema e
da televisão. Em 1963, o então jovem cineasta baiano Glauber Rocha filmou em
Monte Santo o seu icônico “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. Nos anos 1980, a
cidade foi locação da minissérie “O Pagador de Promessas”, da Rede Globo.
O incêndio, contudo, pode significar um revés na atração
de turistas e preocupa a paróquia e as autoridades.
O prefeito Edivan Fernandes, o Vando (PSC), diz que o ideal era ter a igreja recuperada até novembro, quando acontece a festa de Todos os Santos. Ele diz ter feito consultas ao Ministério Público para usar recursos da prefeitura na recuperação do templo.
“Não é questão de religião. Esta igreja atrai muitos
romeiros e é vital para a economia da nossa cidade”, afirma.
A paróquia iniciou uma campanha para arrecadação de recursos, mas as doações ainda são diminutas. Fiéis da cidade estão organizando rifas e vão fazer um evento beneficente com shows.
“Vamos pôr mãos à obra e reerguer a nossa igreja. Ninguém
vai esmorecer”, afirma o padre Darlan, administrador da paróquia. Ele diz
confiar na tradição de lutas da cidade que remete a disputas de terra até à
Guerra de Canudos.
Enquanto a igreja não é recuperada, as missas acontecerão
todas as quintas e domingos ao ar livre, na praça Monsenhor Berenguer.
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Agência 3.621
Conta corrente 7.245-1
Diocese de Bonfim Paróquia de Monte Santo
CNPJ 13.833.801/0013-13