Foto: REUTERS/Nacho Doce / BBC News Brasil |
Da BBC News Brasil em São Paulo
Enquanto
sindicalistas discursavam no maior carro de som durante a manifestação contra o
bloqueio de verbas para a educação nesta quinta-feira (30/5), em São Paulo, um
grupo de seis estudantes do primeiro ano do ensino médio acompanhava as falas à
distância.
Pareciam
desconfortáveis com a presença de bandeiras de partidos e a defesa de outras
causas por parte dos manifestantes, entre as quais a rejeição à reforma da
Previdência e a liberdade para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Estou
aqui porque critico o Bolsonaro, que faz um governo horrível e tira verba da
educação. Mas não sou a favor do PT, que também prejudicou o país, e nem de
Lula", disse Eric Freire, de 15 de anos, que participava pela primeira vez
de um protesto contra a política educacional do governo.
"Aqui
tem muitos sindicatos que, quando convém, apoiam os estudantes, mas que também
apoiam políticos envolvidos em corrupção", afirmou a colega Ísis
Cavalcante.
Autoridades
não estimaram o número de pessoas presentes; para organizadores, foram
"mais de 200 mil", muitos dos quais professores e estudantes. As
manifestações ocorreram em várias cidades do país e sucederam protestos
ocorridos em 15 de maio, confrontados por atos pró-Bolsonaro no último domingo
(26).
Foto: MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/Getty Images / BBC News Brasil |
Para o grupo
de seis estudantes entrevistados, a presença de outros movimentos e causas no
protesto "é parte da democracia e não deslegitima a manifestação, nem os
milhares que não estão carregando bandeiras".
Mas, como
aquela turma, muitos manifestantes ouvidos pela BBC News Brasil e que não
pertenciam a qualquer grupo organizado se diziam preocupados com a
possibilidade de que o movimento perdesse foco e público caso passasse a se
confundir com a esquerda tradicional.
O próprio
presidente Jair Bolsonaro já havia associado os manifestantes a militantes
políticos de esquerda ao comentar a primeira leva de protestos contra o
bloqueio de verbas para universidades federais, em 15 de maio. Na ocasião, ele
disse que os manifestantes eram "idiotas úteis" que estariam servindo
de "massa de manobra de uma minoria de espertalhões".
Bolsonaro
diz que o bloqueio de verbas é um "contigenciamento" (suspensão
temporária) e se deve à queda na arrecadação de impostos. Segundo o governo,
foram retidas 30% das verbas discricionárias (não atreladas a despesas
obrigatórias) das universidades federais.