O uso da plataforma robótica em
procedimentos cirúrgicos no Brasil tem se expandido em diversas especialidades médicas. Na ginecologia, mais
especificamente no tratamento da endometriose, doença que atinge cerca de sete
milhões de brasileiras, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não é
diferente: a tecnologia reúne muitas vantagens.
A visão tridimensional e mais nítida proporcionadas pela utilização do robô dão ao médico mais precisão durante o procedimento, que em geral apresenta menos riscos de complicações, menor dor no pós-operatório e recuperação mais rápida para a paciente. Na Bahia, a expectativa pela primeira cirurgia robótica para tratamento da doença a ser realizada no Estado é grande.
De acordo com o cirurgião Ramon Mendes, membro do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR), o fato da plataforma só ter chegado ao Estado este ano, de poucos médicos serem qualificados e habilitados a operar o robô, de muitos pacientes ainda desconhecerem as vantagens dessa modalidade cirúrgica e da cirurgia robótica ainda não ser coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS) justificam a não-utilização da tecnologia para tratamento da doença no estado até o momento, diferentemente do que tem acontecido em estados como São Paulo, onde a plataforma já chegou há mais tempo.
Para retirar os focos de endometriose, o robô conta com pinças que entram no abdome da paciente por meio de pequenas incisões, controladas pelo cirurgião em um console, onde o médico tem à sua disposição imagens de alta definição, em três dimensões, que proporcionam uma visualização bastante clara, além de precisão nos movimentos. A cirurgia robótica é uma evolução da videolaparoscopia, procedimento minimamente invasivo usado no tratamento da endometriose. “Enquanto na cirurgia laparoscópica o cirurgião precisa segurar as pinças, na cirurgia robótica ele comanda os instrumentos remotamente, sentado, sem tremor. Além disso, somente as pinças robóticas têm rotação semelhante a um punho, o que facilita, por exemplo, suturas muito delicadas”, detalha Ramon Mendes.
Sobre a doença
A endometriose é uma doença crônica inflamatória que acomete entre 10 e 15% das
mulheres em idade fértil (15 a 49 anos). Ela se manifesta quando fragmentos de tecido endometrial não são expelidos pela menstruação e acabam migrando para outras regiões do corpo pela corrente sanguínea, tais como bexiga, trompas, ovários, intestino, apêndice, pulmão e até mesmo o cérebro, entre outros.
De acordo com o ginecologista e cirurgião Marcos Travessa, membro do IBCR, da mesma forma que o endométrio que está na cavidade uterina cresce como resposta aos hormônios femininos, o endométrio ectópico (localizado fora do seu local habitual) também aumenta de tamanho. “Quando está no útero da mulher que não engravidou, o endométrio se descama e sai em forma de menstruação, voltando ao seu estado normal, porém, quando esse tecido se aloja em outras partes do corpo ele não tem como sair e acaba ‘sangrando para dentro da cavidade abdominal’, gerando um quadro de dor acentuada”, detalha.
As implicações da doença são variadas e preocupantes. Uma delas é o fato da endometriose ser a principal causa de infertilidade nas mulheres. A cirurgia, independentemente da modalidade, geralmente, é o melhor caminho para a paciente que quer ter filhos e não consegue por causa da endometriose. Estatísticas regionais revelam que 60% das mulheres inférteis na Bahia são portadoras da doença, principal causa de infertilidade feminina no mundo todo.
Além disso, a endometriose apresenta repercussões sociais graves. “Muitas mulheres ficam acamadas e sentem dores intensas no período menstrual. Outras tantas precisam recorrentemente ir a unidades de emergência para serem medicadas. A doença pode dificultar muito ou impedir que a mulher tenha uma vida sexual ativa, devido à dor durante a relação. Enfim, trata-se de uma doença que precisa ser muito bem tratada”, afirma Marcos Travessa.
Vale destacar que, em algumas mulheres, a endometriose não apresenta sintomas específicos, o que pode retardar o diagnóstico. Em outros casos, porém, a paciente pode ser acometida por dores incapacitantes. Não há cura para a endometriose, mas se a mulher se submeter ao tratamento adequado, os incômodos e consequências podem ser diminuídos drasticamente, evitando, inclusive, que a paciente tenha sua capacidade fértil comprometida.
Qualificação para o tratamento
De acordo com o ginecologista e cirurgião Marcos Travessa, é fundamental que a sociedade e, em especial, os médicos, conheçam a fundo o que há de mais moderno relacionado ao tratamento da endometriose. “Precisamos mudar o grave cenário relativo a esta doença”, frisou o médico. Com esta motivação e o objetivo de “jogar luz” sobre a endometriose, de modo que mais médicos atuantes no estado da Bahia possam diagnosticar precocemente a doença e consigam evitar complicações e repercussões relacionadas,, o Instituto Crispi de Cirurgias Minimamente Invasivas e o Centro de Endometriose da Bahia vão realizar o I Mutirão de Endometriose em Salvador.
Assessoria de Comunicação