Foto: Maiana Belo/G1 |
Uma
associação de Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, ajuda
pessoas traídas a lidar com a dor da infidelidade para evitar qualquer tipo de
violência e até mesmo o suicídio.
De forma leve
e descontraída, a Associação dos Cornos de Lauro de Freitas surgiu há cerca de
oito anos como uma brincadeira, agora, os integrantes da associação querem
mostrar que traição é um assunto sério e a infidelidade não pode custar a vida
do outro, nem a própria vida.
O funcionário
público e fundador da associação, Reginaldo Sales de Oliveira, mais conhecido
como Malhado, conta que o grupo faz trabalho social e prega o fim da violência,
principalmente contra a mulher.
"A gente
faz uma brincadeira mas tem o lado social também. A gente conversa com o
'corno', se reúne e se precisar vamos até a casa da pessoa para tentar entender
a situação e ajudar", diz Reginaldo.
Reginaldo
conta que algumas pessoas mudam a forma negativa de ver a traição e levam o
caso na "brincadeira", sem dar muita importância ao que passou. Outras,
não.
"Tem
muita mulher sendo agredida porque os homens acham que houve traição, ou até
mesmo por ser corno. Nossa associação quer poder conversar com os homens para
que isso não ocorra, as pessoas precisam aprender a tocar suas vidas
independentemente do que tenha ocorrido no relacionamento", disse.
Reginaldo
conta que em alguns casos a pessoa traída fica em depressão ou tenta cometer o
suicídio.
"Depois
que meu amigo Toinho [Antônio Fernando - presidente da associação] quis se jogar
de uma passarela, se matar por causa de uma mulher, começamos a enxergar a
questão de forma mais séria e pensamos como poderíamos ajudar as pessoas
traídas. A gente quer todos os cornos vivos", ressaltou Reginaldo, em tom
de brincadeira.
Outro
integrante da associação, Amarílio Topó, diz que nunca foi traído, mas é
simpatizante do grupo e defende os objetivos da associação.
"Como eu
digo, corno não existe, é uma coisa que as pessoas colocam na cabeça da
gente", brincou.
Brincadeiras à
parte, Amarílio destaca que apesar da Associação dos Cornos fazer piada com os
traídos, é importante ajudá-las a superarem o caso.
"Se tomou
corno, converse. Se for definido o fim, vai cada um para seu lado e vida que
segue. Ninguém é Mulher Maravilha, ninguém é Super-Homem, todos nós temos as
nossas falhas e ninguém é de ninguém", destacou.
A associação
também conta com a participação de mulheres. "Tem gente que nem levou
corno. As meninas tiram fotos, levam as coisas na brincadeira e agitam a
conversa. Elas estão aqui para dar apoio nas ações do grupo, para divulgar e
até para mostrar que tem coisas que devemos deixar para trás na vida, como é o
caso do corno tomado", conta Amarílio.
"Eu sou
casado, não acho que minha esposa me deu ou dá corno, mas estou aqui porque
isso vai além da nossa situação, é uma forma de ajudar as pessoas", disse.
Associação dos Cornos
A associação
surgiu de uma brincadeira com um amigo, integrante do grupo, que já tinha
levado 13 cornos de uma mulher. Em tom de brincadeira, Reginaldo relembra o
caso.
"Ele [o
amigo] morava em Ubatã [no sul da Bahia] com a mulher e descobriu que estava
sendo traído. Nessa traição ele descobriu que tinha tomado 12 cornos. A irmã
dele, com vergonha, mandou ele para aqui [Lauro de Freitas]. Ele foi e mandou
dinheiro para trazer a mulher, e aqui ele levou mais um corno da mulher",
contou.
Após ficar
ciente da traição repetida sofrida pelo amigo, Reginaldo disse que pensou em
criar a Associação e fez o primeiro café da manhã dos cornos no dia 23 de julho
deste ano, quando ficou oficializada a data de comemoração dos
"cornos" da associação.
"A gente
ficava na gozação e ele entrava na brincadeira", conta Reginaldo sobre a
reação do amigo traído.
Apesar da
brincadeira que se tornou o Café dos Cornos, Reginaldo relembra também uma das
atuações sérias do grupo.
"Surgiu
um boato de que a namorada tinha traído ele [um amigo] e ele se irritou com a
mulher. Fomos [integrantes da associação] lá conversar com ele e, quando
chegamos, ele pegou um machado e cravou na geladeira. Na hora, todo mundo
correu, não teve um corno para contar história, depois tivemos oportunidade de
conversar melhor e passar um pouco do pensamento da associação para ele",
relembrou Reginaldo.
Reginaldo
conta que a associação cumpre outro papel social. "Quem a gente oferece
ajuda, a gente inclui nos serviços sociais. Entre nossas ações, a gente sai com
café, pão e faz a distribuição gratuita em hospitais como Irmã Dulce e
Aristides de Maltez [ambos em Salvador]", contou.
"Graças a
Deus, se depender de nós, ninguém vai morrer", conclui Reginaldo.
G1/BA
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