O presidente do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA),
Gesivaldo Britto, e outros cinco magistrados foram afastados do cargo por 90
dias na manhã desta terça-feira (19), em Salvador. A decisão decorreu de uma
operação da Polícia Federal para combater um suposto esquema de venda de
decisões judiciais, além de corrupção ativa e passiva, lavagem de ativos,
evasão de divisas, organização criminosa e tráfico influência no estado.
Foram
afastados das funções por 90 dias, prazo que pode ser prorrogado, e estão proibidos
de acessar o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) e de se comunicar com
servidores:
–
Gesivaldo Britto – desembargador presidente do TJ-BA;
– José Olegário Monção, desembargador do TJ-BA;
– Maria da Graça Osório, desembargadora e 2ª vice-presidente do TJ-BA;
– Maria do Socorro Barreto, desembargadora e ex-presidente do TJ-BA (2016-2018);
– Marivalda Moutinho, juíza de primeira instância
– Sérgio Humberto Sampaio, juiz de primeira instância.
– José Olegário Monção, desembargador do TJ-BA;
– Maria da Graça Osório, desembargadora e 2ª vice-presidente do TJ-BA;
– Maria do Socorro Barreto, desembargadora e ex-presidente do TJ-BA (2016-2018);
– Marivalda Moutinho, juíza de primeira instância
– Sérgio Humberto Sampaio, juiz de primeira instância.
Foram presos:
– Adailton
Maturino dos Santos – advogado e se apresenta como cônsul da Guiné-Bissau no
Brasil;
– Antônio Roque do Nascimento Neves – advogado;
– Geciane Souza Maturino dos Santos – advogada e esposa de Adailton Maturino dos Santos;
– Márcio Duarte Miranda – advogado e genro da desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago.
– Antônio Roque do Nascimento Neves – advogado;
– Geciane Souza Maturino dos Santos – advogada e esposa de Adailton Maturino dos Santos;
– Márcio Duarte Miranda – advogado e genro da desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago.
Em nota, o
TJ-BA informou que foi surpreendido com a ação e que ainda não teve acesso ao
conteúdo do processo. Segundo o comunicado, a investigação está em andamento,
mas todas as informações dos integrantes do TJ-BA serão prestadas,
posteriormente, com base nos Princípios Constitucionais.
Ainda na
nota, o órgão informou que o 1º vice-presidente, desembargador Augusto de Lima
Bispo, assumirá a presidência da Casa temporariamente, seguindo o regimento
interno. (Confira nota na íntegra no final da reportagem).
O G1
entrou em contato com a defesa dos presos e dos magistrados afastados, mas até
a última atualização desta reportagem, não obteve resposta.
Conforme a
decisão que autorizou as buscas, prisões e afastamentos, o inquérito foi
inicialmente aberto para apurar possível venda de sentença no Tribunal de
Justiça, em 2013 e 2014, pelos desembargadores Maria da Graça Osório e
Gesivaldo Britto, hoje presidente do tribunal.
No
entanto, conforme o Ministério Público Federal (MPF), a análise de dados
telefônicos e bancários obtidos com autorização judicial revelou “uma teia de
corrupção, com organização criminosa formada por desembargadores, magistrados e
servidores do TJ-BA, bem como por advogados, produtores rurais e outros atores
do estado, em um esquema de venda de decisões para legitimação de terras no
oeste baiano, numa roupagem em que se têm em litígio mais de 800 mil hectares”.
Segundo o
processo, a área citada é cerca de dez vezes a capital do estado, Salvador.
Conforme o
pedido do MPF de prisões, afastamentos e buscas, as medidas seriam “o único
meio de debelar mecanismo de dissimulação e ocultação das eventuais vantagens”.
O ministro
Og Fernandes, relator do caso, considerou que há “elementos de convicção
harmônicos e coerentes entre si” para a autorização da medidas.
Segundo o
ministro, o esquema consiste na atuação de advogados e servidores como
intermediadores de decisões vendidas por juízes e desembargadores da Bahia, a
fim de realizar um gigantesco processo de grilagem na região do oeste baiano,
com o uso de laranjas e empresas.
Um único
cidadão, o borracheiro José Valter Dias, tornou-se o dono de uma fazenda de 360
mil hectares, cinco vezes a área de Salvador.
A suposta
grilagem foi alvo de apuração no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O caso
teria a participação da empresa JJF Holding, com capital de R$ 581 milhões, na
qual José Valter Dias tem 5% do capital.
A
desembargadora Maria da Graça Osório teria dado liminar para favorecer a
empresa por R$ 1,8 milhão. Um homem que revelou a operação, diz o processo,
teria sido executado à luz do dia.
“O que se
pode perceber pelas informações contidas nos autos e pelas informações do MPF é
que se vislumbra a possível existência de uma organização criminosa, na qual
investigados atuaram de forma estruturada e com divisão clara de suas taregas
para a obtenção de vantagens econômicas por meio da prática, em tese, dos
crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro”, disse o
relator Og Fernandes.
Falso
cônsul
Um dos principais suspeitos no esquema, o empresário Adailton Maturino, cuja esposa detém cerca de metade das ações da JJF Holding, é apontado como o idealizador do esquema no TJ da Bahia.
Um dos principais suspeitos no esquema, o empresário Adailton Maturino, cuja esposa detém cerca de metade das ações da JJF Holding, é apontado como o idealizador do esquema no TJ da Bahia.
Maturino
se apresenta falsamente como cônsul da Guiné-Bissau e juiz aposentado, segundo
o processo. Ele tem 13 CPFs em seu nome e relações com o borracheiro que se
tornou “de forma repentina” dono de uma terra imensa na Bahia.
A
embaixada, segundo o ministro Og Fernandes, chegou a emitir ofício qualificando
Adailton como diplomata e cônsul honorário. Mas, o Ministério das Relações
Exteriores informou que o governo brasileiro “não autorizou, em qualquer
momento”, a designação como agente diplomático.
“É falsa a
informação contida nos ofícios (…) enviados pela embaixada de Guiné-Bissau no
Brasil”.
De 2013 a
2019, Adailton Maturino teria movimentado R$ 33 milhões sendo que não se
comprova a origem de R$ 14 milhões. Diálogos mostram, segundo a decisão, “uma
enormidade de gastos” de Adailton com festas e luxos, incluindo contratação de
shows de cantores famosos.
“O MPF
argumenta que Adailton sentou-se na primeira fileira na posse de Gesivaldo
Britto na presidência do TJBA”, diz o processo.
Leia a íntegra do Tribunal de Justiça da Bahia
O TJ-BA
foi surpreendido com esta ação da Polícia Federal desencadeada na manhã desta
terça-feira (19/11/19). Ainda não tivemos acesso ao conteúdo do processo. O
Superior Tribunal de Justiça é o mais recomendável neste atual momento para
prestar os devidos esclarecimentos. A investigação está em andamento, mas todas
as informações dos integrantes do TJBA serão prestadas, posteriormente, com
base nos Princípios Constitucionais.
Pelo
princípio do contraditório tem-se a proteção ao direito de defesa, de natureza
constitucional, conforme consagrado no artigo 5º, inciso LV: “aos litigantes,
em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ele inerentes.”
Ambos são
Princípios Constitucionais e, também, podem ser encontrados sob a ótica dos
direitos humanos e fundamentais. Logo, devem sempre ser observados onde devam
ser exercidos e, de forma plena, evitando prejuízos a quem, efetivamente,
precisa defender-se.
Quanto à
vacância temporária do cargo de presidente, o Regimento Interno deste Tribunal
traz a solução aplicada ao caso concreto. O 1º Vice Presidente, Desembargador
Augusto de Lima Bispo, é o substituto natural.
G1/BA