Foto: Reprodução, Radar 64 |
Quatro meses
após o registro das primeiras manchas de óleo nas praias da região, o Nordeste
enfrenta uma situação de dupla poluição em parte do seu litoral com a presença
de microrganismos e substâncias químicas consideradas prejudiciais à saúde
humana.
De um lado,
a baixa cobertura de saneamento e o descarte irregular de esgoto faz com que um
terço das praias da região sejam consideradas ruins ou péssimas em
balneabilidade, análise que leva em conta a presença de bactérias presentes nas
fezes humanas e de animais.
De outro,
mesmo após a estabilização da chegada de novas manchas no litoral, praias da
região ainda convivem com o óleo que ficou incrustado na areia, nas pedras e
nos recifes de coral.
Um grupo
formado pela Marinha, pela ANP (Agência Nacional de Petróleo) e pelo Ibama
informa que o cenário é estável, mas ainda há vestígios esparsos de manchas nos
estados de Alagoas, Sergipe e Bahia. Ao todo, já foram retiradas de cerca de
5.000 toneladas de óleo dos 11 estados atingidos (todos os nove do Nordeste
mais Espírito Santo e Rio de Janeiro).
Na Bahia,
por exemplo, ainda há óleo em praias de Cumuruxatiba, no extremo sul do estado,
e em Subaúma, balneário do litoral norte.
Na
paradisíaca Japaratinga, uma das praias mais visitadas de Alagoas, homens d a
Marinha ainda limpam a fina areia branca para retirar fragmentos de petróleo. A
praia está localizada na APA (Área de Proteção Ambiental) Costa dos Corais, a
maior unidade de conservação federal costeira do Brasil.
O desastre
ambiental do derramamento de óleo não mudou a dinâmica de monitoramento das
praias. Em geral, os órgãos ambientais de governos e prefeituras fazem apenas
uma análise biológica das águas.
Órgãos
ambientais como os da Bahia e de Pernambuco realizaram análises químicas
pontuais para verificar o teor de substâncias derivadas do petróleo como
benzeno, tolueno e xileno, consideradas prejudiciais à saúde humana.
Testes
laboratoriais encomendados pelo governo de Pernambuco mostraram que não havia
compostos orgânicos do petróleo nas 16 praias que foram atingidas com maior
intensidade pelas manchas.
O Inema,
órgão ambiental da Bahia, constatou ausência de substâncias tóxicas na água.
Ainda assim, o órgão recomendou aos banhistas que evitem o banho de mar ao
observarem presença de óleo nas praias.
Diretor do
Instituto de Biologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), o professor
Francisco Kelmo, considera que os resultados das análises são insuficientes
para garantir que as praias estejam próprias para banho.
Ele lembra
que, mesmo em menor quantidade, as manchas têm voltado a aparecer em algumas
praias. Em outras, pode haver ainda pelotas de óleo enterradas sob a areia ou
grudadas nas pedras.
“Essa novela
não acabou. A situação ainda é preocupante e o mais seguro é aguardar alguns meses até que seja feita a
remoção completa do óleo nas praias”, afirma o professor, lembrando que o
contato do óleo com a pele pode gerar dermatites, enjoos e vômitos.
BALNEABILIDADE
Em relação à
análise biológica das águas, levantamento do jornal Folha de S.Paulo revela
que, dos 435 praias em que houve análise de balneabilidade no Nordeste, 35,4%
foram consideradas boas por estarem próprias durante todo o ano.
Outros 28,3%
das praias estavam regulares, 12,4% ruins e 23,9% péssimas. A maior parte das
praias ruins e péssimas está concentrada em capitais como Salvador, Recife,
Fortaleza e São Luís.
No Ceará,
praias turísticas como Jericoacoara e Canoa Quebrada conseguiram manter-se como
boas. Do total de 66 praias monitoradas, apenas 13,5% das são enquadradas como
péssimas –todas estão em Fortaleza.
No litoral
baiano, as praias consideradas boas estão concentradas no norte e no sul do
estado. Cerca de 35% são consideradas péssimas, com destaque para Salvador e
Ilhéus.
Em Alagoas,
na badalada praia de Maragogi, a poluição de alguns trechos se junta às
consequências do derramamento de óleo, que também atingiu a região.
Os efeitos
do óleo são sentidos no baixo movimento de restaurantes na beira da praia e na
reclamação de pescadores e jangadeiros que levam turistas para as piscinas
naturais.
“A praia
está limpa, mas o povo ficou com muito medo. Um sol bonito, o mar lindo, com um
verde impressionante, e o movimento não é nem a metade para esta época do ano”,
reclama Renato Maciel, agente de passeios turísticos em Maragogi.
Dos dez
pontos com análise de balneabilidade, há dois locais classificados como
péssimos que ficam na foz dos rios Salgado e Persinunga.
Em
Pernambuco, a turística praia de Carneiros, no litoral sul, é classificada como
ruim. O mesmo ocorreu com a praia de Porto de Galinhas, uma das mais famosas de
Pernambuco.
“Sempre
falam sobre esse problema do esgoto, mas tomo banho aqui faz muito tempo. O sal
daqui cura tudo”, brinca o ambulante José Farias Santos.
Das 50
praias monitoradas em Pernambuco, não existe uma sequer que atingiu a
classificação boa. Do total, 58% das praias são classificadas como péssimas, o
que significa que elas estiveram impróprias em mais da metade do ano.
O biólogo da
UPE (Universidade de Pernambuco) Clemente Coelho Junior diz que o resultado não
é surpresa e que o saldo ruim é resultado da falta de tratamento de esgoto por
várias décadas.
Ele afirma
que grande parte dos efluentes domésticos é lançada nos rios e,
consequentemente, atinge vários canais que os ligam às praias: “Comparado a
países europeus, temos saneamento básico do século 19”, afirma.
Folhapress
Tópicos:
NORDESTE