FOTO: CLIMATERE ANALYZER/BBC |
Uma grande quantidade de água mais quente que o normal foi
identificada por pesquisadores, por meio de imagens de satélite, no oceano
pacífico, em deslocamento para a América do Sul. O fenômeno, apelidado de
mancha quente ou hot blob, em inglês, pode interferir no clima da região,
inclusive do Brasil e especialmente na vida marinha, se ela não se esfriar no
caminho, segundo os cientistas. Ela é tão grande que ocuparia um pouco mais da
metade do México e duas vezes a superfície do Estado de Minas Gerais. As
informações foram divulgadas pela BBC Brasil.
O descobrimento dessa área quente, por meio de imagens
tiradas por satélites, coincidiu com uma onda de calor que provocou graves
incêndios na Austrália. A mancha compreende uma área do oceano de cerca de 1
milhão de km² cuja temperatura aumentou entre 4°C e 6 °C, mais que o previsto
para essa região.
Esse fenômeno inesperado pode, segundo cientistas, ajudar a
explicar o forte aumento de gás metano na atmosfera. Sem contar com as zonas do
trópico, a mancha vermelha é a área com maior temperatura média na superfície
oceânica mundial, segundo informou à BBC James Renwick, chefe do Departamento
de Geografia, Meio Ambiente e Ciência da Terra da Universidade de Victoria, em
Wellington, na Nova Zelândia.
Riscos reais para a América do Sul
A revista Science deu um parecer ainda mais alarmante,
afirmando que exatamente por não ter precedentes, é impossível estimar o
tamanho do impacto ecológico e até a magnitude com que os efeitos poderão ser
sentidos no continente, ou seja, não sabem dizer o que pode acontecer, tampouco
a intensidade.
Há uma outra corrente de cientistas que afirma que a mancha
de água não deve alcançar a costa da América, mas a aproximação será muito
considerável. O especialista Renwick, ao ser consultado, disse acreditar que a
mancha esfrie assim que se aproximar da América do Sul.
O jornal "New Zealand Herald" diz que a mancha
começou a se formar em outubro, mas as temperaturas se mantiveram na média e
não cresceram de maneira significativa. No entanto, um aquecimento mais
acentuado em dezembro fez a mancha aumentar e a temperatura subir fortemente.
Segundo Renwick, vários fatores contribuíram para a
formação da "mancha quente", entre eles o "anticiclone", um
sistema natural de alta pressão que tem reduzido as correntes de vento nessa parte
do Pacífico.
"Temos tido pressões bastante altas, dias ensolarados
e ventos leves, o que favorece um aquecimento acelerado da superfície do
oceano", disse ele ao jornal "New Zealand Herald".
"Se os ventos são fortes, então tudo se dispersa. Se
não há essa dispersão, o aquecimento do sol é absorvido pela superfície do
oceano e gera essa capa de água muito quente", explicou.
Ou seja, sem ventos fortes, a temperatura da água aumenta e
essa corrente quente se move até perto das costas.
50 metros da superfície
Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos
Estados Unidos, as temperaturas do oceano podem variar em grandes proporções, e
um grau a mais ou a menos de diferença já é "preocupante" por
provocar efeitos adversos no clima do planeta como um todo.
De acordo com Renwick, a capa de água quente se estende por
50 metros debaixo da superfície. Os cientistas ainda vão pesquisar o impacto
que isso provocará na vida marinha dessa região.
Manchas quentes parecidas com essa foram identificadas há
cinco anos nas costas da Califórnia e do Alasca em setembro.
Risco à vida marinha
A expectativa dos cientistas, por hora, é de que a mancha
quente não terá impacto direto sobre o clima ou a vida na Nova Zelândia. Como
ela está a caminho da América do Sul, a expectativa é que se disperse e perca
parte do calor antes de chegar a qualquer zona povoada. No entanto, os
cientistas estão inquietos sobre as eventuais consequências para a vida
marinha.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados
Unidos adverte que o aquecimento das águas reduz os nutrientes no oceano, o que
altera a cadeia alimentar marítima.
Leões marinhos, por exemplo, precisam nadar até mais longe
para conseguir peixes e outros animais para se alimentar. Uma mancha quente
surgida na Califórnia em 2014 produziu a maior proliferação de algas tóxicas já
registrada na costa oeste dos EUA.
O aumento da temperatura também dificultou aos salmões
jovens encontrar alimentos de boa qualidade no oceano. Além disso, milhares de
leões marinhos que saíram em busca de alimentos apareceram encalhados nas
praias.
Diversas espécies de baleias, que também tiveram que ir até
perto da costa em busca de comida, acabaram presas em redes de pesca ou mortas
após encalharem nas areias das praias.
BBC
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