Foto: Jorge Hely/FramePhoto/Folhapress |
O número de
mortes e hospitalizações por Covid-19 na Bahia pode ser maior do que o
constatado pelo poder público. Isso porque a maioria das pessoas que morreram
com SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) no estado não tiveram o agente
causador dos sintomas identificado.
O boletim
epidemiológico da Secretaria de Saúde da Bahia aponta foram registradas no
estado 241 mortes por problemas respiratórios entre os dias 1º de janeiro e 28
de abril.
Deste total
de mortes, contudo, apenas 77 tiveram a causa identificada: 61 foram causadas
pela Covid-19, 13 por vírus do tipo influenza (gripo comum), nove por outros
vírus respiratórios e três por outros agentes causadores de problemas
respiratórios.
Outras 139
mortes por SRAG não tiveram a causa identificada. Ou seja, nenhuma doença foi
apontada após a realização de testes com amostras dos pacientes que morreram.
Até 28 de abril, ainda haviam 28 mortes sob investigação.
A proporção
é que, de cada dez mortes registradas este ano na Bahia por problemas
respiratórios, seis não tiveram a causa identificada. Um cenário que não é
novidade: no ano passado, a proporção de testes que deram negativo -ou seja,
não identificaram nenhuma doença- foi semelhante.
O que mudou
foi a proporção de casos de SRAG. O número de internações por problemas
respiratórios graves na Bahia é cinco vezes maior do que o registrado no mesmo
período ano passado.
Entre 1 de
janeiro e 28 de abril de 2019, foram notificados 401 casos de pacientes com
problemas respiratórios graves, número que saltou para 1.957 no mesmo período
deste ano.
São
notificados com síndrome respiratória aguda grave os pacientes que chegam a
hospitais ou unidades de pronto atendimento com um conjunto de sintomas
respiratórios que pode incluir falta de ar e febre.
As
internações e óbitos por esse motivo têm notificação obrigatória, que devem ser
encaminhadas para o Ministério da Saúde.
A diretora
de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde da Bahia, Márcia São Pedro,
explica que vários fatores podem levar a um resultado negativo em um indivíduo
infectado.
Entre eles
está a má qualidade de amostra, o manuseio ou envio inadequado da amostra, o
fato da amostra ter sido coletada em uma fase precoce da infecção ou razões
técnicas inerentes ao teste, como a mutação do vírus.
De acordo
com protocolo do Ministério da Saúde, em áreas onde a Covid-19 está amplamente
disseminada, o resultado negativo de um caso suspeito não descarta a
possibilidade de infecção pelo vírus SARS-CoV-2.
Por isso, a
orientação é que os testes não sejam usados como única base para tratamento ou
outras decisões de gerenciamento de pacientes. Os resultados negativos devem
ser combinados com observações clínicas, histórico do paciente e informações
epidemiológicas.
As amostras
de testes que deram negativo não são testadas novamente, pois não há essa
orientação nos protocolos do Ministério da Saúde para óbitos.
Em parte dos
casos, contudo, a Covid-19 pode ser registrada como causa da morte ou
hospitalização mesmo sem a confirmação por meio de testes. “A doença é
constatada por meio de critérios clínicos”, explica Márcia São Paulo.
A diretora
de Vigilância Epidemiológica ainda afirma que crescimento do registro de casos
de SRAG neste ano também pode ser explicado por aumento da sensibilidade de
notificação das equipes de saúde.
“Como é um
ano epidêmico para influenza e tivemos a ocorrência da pandemia de Covid-19,
está todo mundo mais atento”, explica.
O cenário de
forte avanço de casos de síndrome respiratória aguda grave não é exclusivo da
Bahia. Conforme revelado pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 30 de abril, houve
um forte crescimento dos casos de SRAG no Brasil este ano em comparação com o
mesmo período do ano passado.
Dados do
Ministério da Saúde apontam que 72 mil pessoas foram hospitalizadas por
problemas respiratórios graves desde o início do ano até o dia 28 de abril. No
mesmo período de 2019, esse número foi de 13,5 mil –um aumento de 430%.
Para
identificar casos do novo coronavírus, o estado da Bahia tem adotado o teste do
tipo RT-PCR, considerado mais confiável do que os testes rápidos.
O Ministério
da Saúde recomenda que o teste seja coletado entre o 3º e 7º dias de início dos
sintomas, preferencialmente, quando a carga viral é maior, podendo ser coletado
até o 10º dia.
A secretaria
de saúde da Bahia informou que a maioria das amostras das mortes por síndrome a
respiratória aguda agrave não especificadas “foram coletadas até o sétimo dia do
início dos sintomas, ou seja, dentro do prazo oportuno”.
Ainda de
acordo com a secretaria, o percentual de casos com SRAG com causa não
identificada segue o mesmo padrão de anos anteriores. Em 2019, 60,6% das
amostras coletadas dos pacientes que morreram por problemas respiratórios deram
negativo, ou seja, não tiveram causa identificada.
Por outro
lado, nem todos que morreram com problemas respiratórios graves foram testados
para Covid-19. Das 92 mortes por SRAG não especificada registradas até o dia 23
de abril, 15% não foram testadas para a doença causada pelo novo coronavírus.
No último
boletim epidemiológico, divulgado na quinta (14) pela Secretaria de Saúde do
estado, a Bahia havia registrado 6.955 casos da Covid-19 e 262 mortes pela
doença.
Redação: Varela Notícias