O site Inumeráveis,
criado para homenagear as vítimas da Covid-19, destacou na sua página, o senhor
Olavo Gonçalves de Oliveira, que morreu no último dia 28 de julho em Senhor do
Bonfim, aos 99 anos, por causa do coronavírus. Uma semana antes, ele havia perdido
o filho conhecido popularmente como “Vavá”, também por covid.
Seu Olavo constituiu uma família
numerosa de filhos bastante conhecidos na cidade, como Washington Geová,
dirigente de clubes de futebol, ex-presidente da Copa Rural e técnico de
futebol amador; Olavo Geová, que já ocupou diversos cargos na prefeitura de
Senhor do Bonfim; Ailton Almeida, funcionário da Adab em Senhor do Bonfim,
dentre outros.
Confira a homenagem do site
Inumeráveis:
Olavo Gonçalves de Oliveira
1921 – 2020
Amante das tardes, olhava pro céu
e dizia: “hoje tá bonito pra chuva!”, e não é que chovia?
Não tinha quem passasse pela
Avenida Salvador, em Senhor do Bonfim, na Bahia, e não desse um “boa tarde” ao
Seu Olavo. Mas era o privilégio de vê-lo sempre lá, sentado em sua cadeira de
palha, que conferia às pessoas uma tarde boa.
Uma perna suspensa no apoio da
cadeira e a outra esticada e apoiada no chão; posição tão certa quanto a
presença daquele homem enfeitador de tardes, todo enfeitado com sua camisa de
botões, calças sociais, sandálias marrons e chapéu. Ah, o chapéu! Esse não
podia faltar ao baiano pronto para presente, que presenteava o povo e as tardes
com a sua presença.
Seu Olavo criou os filhos
trabalhando sob o sol forte e sobre a terra rachada do sertão. Lidava com a
terra com muita maestria; sabia que ali estaria o alicerce da construção de seu
grande legado. Mas esse mesmo homem forte e persistente, era também o que
exalava calma e serenidade. Assim, com equilíbrio, é que ia, com facilidade,
das reclamações às histórias de fazer chorar de tanto rir.
“Ele comia tomate com farinha na
hora do almoço e depois bebia água num copo de alumínio. Cuspia no chão pra
finalizar, mas quem abria a boca pra reclamar? Ele podia!”, conta a neta
Patrícia, que contrasta: “Ele também chorava muito de saudade de Dona Pequena,
sua companheira. Seu Olavo nunca mais foi o mesmo Olavo, nem o mesmo papai, nem
o mesmo dindinho depois que a pequena dele se foi. Ah, como ele pediu pra essa
pequena voltar!”, completa.
Ao lado de Dona Pequena, por quem
era muito apaixonado, ensinou os netos a lhe chamarem de “dindinho” e lhe
pedirem a bênção com a mão direita. Mãos múltiplas pegavam em sua mão e lhe
apresentavam ao novo. Sempre. Foi assim que ele aprendeu a usar o telefone.
Ligava para o filho na roça e perguntava: “tá chovendo aí, meu filho?”
Quando Olavo partiu, caiu uma
chuvarada. Senhor do Bonfim chorava. De tanto ouvir seu amor pedir, Dona
Pequena veio lhe buscar. A tarde de 28 de julho, mais triste, regava também o
final feliz de uma história de amor. Olavo não podia negar o pedido de dona
Pequena e foi morar com ela e com seu filho mais velho, Ostivaldo Gonçalves de
Almeida, também vítima do coronavírus.
São muitas as sementes que
crescem sob a luz do Sol Olavo. “Nós, familiares, choramos a dor da perda, mas
estamos fortalecidos, porque sabemos que seu Olavo está agora ao lado de quem
ele nunca aceitou ter saído. Cada um de nós tem um pouquinho de seu Olavo pra
compartilhar por aí.”
Olavo nasceu em Senhor do Bonfim
(BA) e faleceu em Senhor do Bonfim (BA), aos 99 anos, vítima do novo
coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de
Olavo, Patrícia Lais de Souza Gonçalves. Este tributo foi apurado por Rogério
Oliveira, editado por Irion Martins, revisado por Lígia Franzin e moderado por
Rayane Urani em 4 de agosto de 2020.
Seu Olavo também foi homenageado
no programa Fantástico da Rede Globo, edição deste domingo (16).
Blog do Eloilton Cajuhy