Na lutra contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2), pesquisadores e cientistas trabalham no desenvolvimento de medicamentos eficazes contra a COVID-19 e uma potencial vacina, capaz de barrar a pandemia. Nesse caminho, algumas teorias também são apresentados, como a sugestão de se tratar os pacientes com aplicação de ozônio por via anal feita por um prefeito do estado de Santa Catarina.
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Na segunda-feira (3), em live transmitida via Facebook, o prefeito da cidade de Itajaí, Volnei Morastoni, anunciou a possibilidade do município adotar a aplicação de ozônio por via retal — prática conhecida como ozonioterapia — no tratamento contra a COVID-19, em pacientes com diagnóstico positivo e sintomáticos.
"É uma aplicação simples, rápida, de dois ou três minutinhos por dia, provavelmente vai ser uma aplicação via retal. É uma aplicação tranquilíssima, rapidíssima, de dois minutos com cateter fino, e isso dá uma resultado excelente", afirmou o prefeito. "A pessoa tem que fazer durante 10 dias seguidos, são 10 sessões de ozônio, e isso ajuda muitíssimo, provavelmente, os casos de coronavírus positivo", completou sobre o possível tratamento.
Como o prefeito informou na live, a cidade está inscrita na Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), vinculada ao Ministério da Saúde, para integrar um possível protocolo de pesquisa sobre a ozonioterapia.
O que é ozonioterapia?
Considerado um gás corrosivo e formado por três átomos do elemento químico oxigênio (diferente do oxigênio que respiramos que é composto por dois), o ozônio é bastante usado para desinfetar ambientes, purificar água e como antisséptico. Isso porque o ozônio pode eliminar microrganismos por meio da corrosão, como o cloro, o sabão, o álcool gel e o detergente, em usos externos, como superfícies. Já a prática de ozonioterapia utiliza uma mistura de gás ozônio e oxigênio só que para fins terapêuticos em pessoas, através da inalação, infusão no sangue (em procedimento chamado auto-hometerapia) ou injeção anal.
Inclusive, o Ministério da Saúde a adota nas chamadas Práticas Integrativas e Complementares (Pics) no Sistema Único de Saúde (SUS). A iniciativa pública visa implementar tratamentos alternativos e complementares à medicina, "voltados para prevenir diversas doenças como depressão e hipertensão. Em alguns casos, também podem ser usadas como tratamentos paliativos em algumas doenças crônicas". Entre as Pics estão: constelação familiar; hipnoterapia; dança circular; meditação; e também a terapia com ozônio.
Tratamento aprovado?
Entretanto, não existem estudos científicos que atestem a eficácia e até mesmo a segurança do uso de ozônio contra a COVID-19 e nem para outros fins. Inclusive, o Conselho Federal de Medicina (CFM), desde 2018, aponta que a ozonioterapia não tem comprovação científica. "A ozonioterapia como um procedimento que pode ser realizado apenas em caráter experimental. Isso implica que tratamentos médicos baseados nessa abordagem devem ser realizados apenas no escopo de estudos que observam critérios definidos pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep)", explica o CFM.
Além disso, esses estudos clínicos com ozônio devem ser realizados com a "oferta de suporte médico-hospitalar em caso de efeitos adversos e a não cobrança do tratamento em qualquer uma de suas etapas", complementa o Conselho. "Infelizmente, não há evidências que o ozônio vá tratar ou prevenir a COVID-19", explica a infectologista Sabrina Sabino, professora de Furb (Universidade Regional de Blumenau) e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, em entrevista para o G1.
"Não existe embasamento científico que sustente esta prática. Precisamos parar com achismos, precisamos de apoio dos governantes para que a ciência possa ser nossa aliada. Estamos diariamente buscando estudos, buscando pesquisas para o tratamento da COVID-19. Então peço para que nos deixe trabalhar", alerta a infectologista.
Em abril, uma clínica localizada no Texas, nos Estados Unidos, foi proibida de oferecer a ozonioterapia como forma de tratamento para o combate da COVID-19. Nos EUA, conforme norma publicada pela Food and Drug Administration (FDA), a agência de estado que regulamenta o mercado de medicamentos e tratamentos de saúde, declarou em 2019 que o tratamento não tinha fins médicos.
“O ozônio é um gás tóxico sem aplicação médica útil conhecida em terapia específica, adjuvante ou preventiva. Para que o ozônio seja eficaz como germicida, ele deve estar presente em uma concentração muito maior do que aquela que pode ser tolerada com segurança pelo homem e pelos animais", afirmou a FDA.
Fonte: Conselho Federal de Medicina, FDA, G1, Questão de Ciência e Ministério da Saúde