Baianinho de Mauá: ex-servente de pedreiro se transforma em lenda do bilhar no Brasil


Um ex-servente de pedreiro de Paulo Afonso, interior de Bahia, é apontado como um dos maiores fenômenos do bilhar no Brasil. As jogadas de Josué Ramalho da Silva, 45 anos, o Baianinho de Mauá –apelido adquirido no tempo em que morou na Grande SP nos anos 1990–, já foram vistas por quase oito milhões de pessoas, em um único das dezenas de vídeos sobre ele no YouTube.

O Bruxo, como é chamado na internet, vive de suas vitórias, pois recebe cachê para rodar o país e ser desafiado. E, quando demora para vencer, admite, é para não desestimular o oponente e manter as apostas, claro.

“Quando percebo que o jogo pode acabar rápido, erro de propósito para ter emoção”, diz ele, que recebeu o Agora no último dia 7 em um boteco de Ribeirão Preto (313 km de SP), cidade onde mora.

Ele é especialista no jogo em que uma pessoa mata bolas pares e a outra, as ímpares. E não esconde modéstia para dizer que neste tipo de partida é imbatível.

Sinais

Baianinho lembra ter dado as primeiras tacadas aos 8 anos, numa mesa de brinquedo que apoiava no colo.

A estreia oficial considerada por ele –e o primeiro sinal de que poderia se dar bem com os tacos– foi aos 14 anos. “Venci o melhor jogador de Paulo Afonso, conhecido como Rato. Ganhei o jogo e muita confiança”, afirma Baianinho, na época conhecido como Mulungu, em referência ao bairro onde morava.

Após a vitória triunfal, foi um desafio atrás do outro até se mudar para Mauá, aos 19 anos, para trabalhar na construção civil.

Com o pagamento do primeiro mês de salário na mão, lá foi ele gastar em um bar de sinuca. O então servente de pedreiro, porém, não só não colocou a mão no salário mínimo e meio que recebeu na obra, como saiu famoso do boteco.

“Em duas horas, ganhei o equivalente a dois meses de trabalho”, conta ele, que decidiu ali viver de sinuca.
Baianinho de Mauá lembra ter precisado subir em um caixote para enxergar as bolas de sinuca na mesa quando tinha 10 anos, mais ou menos a idade quando parou de ir à escola –ele estudou até a quarta série.

Casado e pai de dois filhos, um de 13 e outro de 21 anos, Baianinho afirma não ter mesa de sinuca em casa, apenas jogo de dominó. Afinal, trabalho é trabalho e diversão é diversão.

Estados Unidos e Europa são os próximos desafios

Muitos dos vídeos de Baianinho de Mauá são publicados por anônimos ou por canais de sinuca que faturam com a audiência de suas jogadas espetaculares.

Ele diz não ganhar diretamente com a fama virtual, mas tira proveito dela.

Atualmente, tem dois patrocínios: de uma empresa de biscoitos e de um fabricante que produz tacos sob encomenda para ele.

O jogador, que afirma conhecer todas as capitais do país com convites para jogar sinuquinha, como são chamados os jogos não profissionais, está tirando visto norte-americano. “Há convites para desafios nos Estados Unidos e na Europa”, diz.

Um de seus segredos, conta, foi sempre procurar jogar com os melhores, para aprender as táticas.

Já em Ribeirão Preto, aos 21 anos, sem saber, numa dessas ocasiões, foi derrotado duas vezes por Walfrido Rodrigues dos Santos, o “Carne Frita”, lenda da sinuca que morreu no último dia 29, aos 90 anos.

Como a grana estava curta, Baianinho bancou apenas aquelas duas partidas, sem saber para quem havia perdido –só soube quem era o adversário quando voltava para casa.

Para Rui Chapéu, amigo  é o melhor na sinuquinha

José Rui de Mattos Amorim, 79 anos, o Rui Chapéu, que fez fama na TV, afirma acompanhar o trabalho de Baianinho de Mauá. “Ele é o maior expoente da sinuquinha no Brasil”, afirma.

O mestre da sinuca pondera, no entanto, que há uma ameaça que pode futuramente colocar a coroa de Baianinho em risco.

“Tem um rapaz, o Maicon de Teixeira de Freitas, que chega perto dele”, diz.

Há vídeos de confrontos entre Maicon e Baianinho, jogando “bolinho”, em que é possível constatar o equilíbrio entre os dois jogadores.

Baianinho, porém, afirma que Maicon “só dá trabalho” neste tipo de partida. “Em outros tipos de jogo, eu me garanto”, ressalta.

Rui Chapéu nunca encarou Baianinho, mas disse ser amigo do jogador de Mauá.

“Se ele jogasse na mesa grande, seria um craque ainda maior”, afirma a lenda da sinuca brasileira, que usa o futebol para diferenciar a sinuquinha da sinuca.

“A primeira seria como o futebol de salão e, a outra, como o de campo”, explica Rui Chapéu.

Fonte: Alfredo Henrique/ São Paulo Agora/ Folha de São Paulo

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