A professora Carla Santos Pinheiro, da Escola Municipal do Loteamento Santa Júlia, em Lauro de Freitas, cidade da região metropolitana de Salvador, foi a vencedora na categoria Educação Infantil do prêmio Arte na Escola Cidadã, do Instituto Arte na Escola, com o projeto “Uhuru! Procura-se Representação”.
O projeto desenvolvido pela baiana trabalha música, teatro, artes visuais e dança com os alunos, e trata sobre ancestralidade e pertencimento, e proporcionou para crianças uma jornada de descobrimento e valorização de suas raízes afro-brasileiras. O resultado saiu no dia 25 de novembro, por uma live.
“O resultado dos projetos finalistas saiu em 20 de agosto. E o resultado dos vencedores seria em 28 de agosto, pois, o evento de premiação acontecia – até então – em novembro, na cidade de São Paulo. Mas, em decorrência da pandemia, fez-se necessário alterar esta dinâmica e o resultado aconteceu por meio de live iniciada às 19h do dia 25 de novembro de 2020”.
O professor autor do projeto premiado de cada categoria recebe R$ 10 mil e, a escola, equipamentos eletrônicos. Todos os inscritos – premiados ou não – ganham do Instituto Arte na Escola um material educativo impresso e um percurso formativo totalmente online, inspirados na obra de Siron Franco – o artista homenageado da edição 2020.
Segundo Carla Santos, a premiação por ter criado o projeto representa o enfoque quanto à educação antirracista.
“Além da experiência poder constituir-se como inspiração na abordagem quanto às relações étnico-raciais, a trajetória teve por amparo a efetiva relação escola/família/comunidade. Além de itinerários que privilegiou a cultura da infância e o protagonismo infantil para a construção da identidade racial positiva'”, disse.
Carla Pinheiro lembra que após alguns anos de realização, o Prêmio Professores do Brasil, feito pelo Governo Federal, foi cancelado, em 2019, sob a justificativa de que seria reestruturado e ainda não foi retomado na gestão atual.
“Enfim, se o Estado – por meio de posturas objetivas e subjetivas – invisibiliza nossas práticas que se impõem como mecanismos capazes de concretizar um projeto de nação alicerçado na democracia, em contrapartida, há outros itinerários a serem seguidos para não permitir que silenciem nossas vozes”, contou.
Importância do projeto
Ao G1, Carla Pinheiro contou que o impacto do prêmio na escola acontece de formas distintas, potentes e eficazes.
“A princípio, houve a reflexão e ressignificação de identidades em suas múltiplas e complexas dimensões. Repensamos sobre nossas identidades individuais e coletivas, sobre o nosso modo de ser, de pensar, de agir e de existir”, disse.
Além disto, segundo a professora, o recebimento de um prêmio pela comunidade escolar e local repercute na autoestima, nas possibilidades de mudanças de alguns quadros – sobretudo de violências materiais e simbólicas.
De acordo com a professora, o projeto buscou tocar, por meio pedagógico, o exercício da cidadania como forma de mudar a sociedade, em especial, quanto a presença do município em índices de violência divulgados, dentre outras ferramentas, pelo Mapa da Violência e pelo Atlas da Violência.
“Neste contexto, tem os jovens negros e as mulheres como principais vítimas, mas, que, sabemos é a causa da violação de direitos de outras pessoas, em especial, das famílias e da comunidade”.
Prêmio ‘Arte na Escola Cidadã’
Mesmo com as dificuldades provocadas pela pandemia da Covid-19 na educação, a 21ª edição do prêmio recebeu o maior número de projetos inscritos em toda a sua história: 1.488 professores de todas as regiões do Brasil compartilharam suas práticas, apresentando trabalhos que envolvem uma ou mais linguagens artísticas (música, teatro, artes visuais, dança), e foram realizados entre 2018 e 2019, em escolas de ensino regular, públicas ou particulares, com turmas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A participação de Carla Pinheiro na seleção do XXI PAEC contou com inscrição, que aconteceu entre 20 de março a 19 de abril, em que precisou informar dados pessoais, formação acadêmica e profissional, dados da escola onde trabalha, relação com a Rede Arte na Escola e com o Prêmio Arte na Escola. A professora, no entanto, não tem relação com a Rede, mas, submete projeto ao Prêmio desde 2017.
Além da baiana, o professor Sérgio Tück, da cidade de Bom Jesus dos Perdões (SP) venceu a categoria Ensino Fundamental 1 com o projeto “Músicas do Mundo”; a professora Caroline da Silva Barbosa foi premiada na categoria Ensino Fundamental 2 com “Histórias ficcionais em busca de protagonismos reais: O teatro como lugar de fala”.
O professor Emanuel Alves Leite, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – Campus Pau dos Ferros, venceu a categoria Ensino Médio com o Projeto Artes Cênicas: Pulando o muro da escola. Por último, Fellipe Eloy, responsável pelo Projeto: Memória, identidades e patrimônio, em São Paulo, na categoria Educação de Jovens e Adultos.
G1/BA