Nos dias atuais, não há nada incomum em encontros que deram errado, especialmente aqueles que são marcados através de aplicativos de relacionamento. No entanto, há um rapaz que é acusado de ter mais de cem encontros que deram errado. O motivo não foi um papo que não cola, ou até mesmo um eventual cecê, mas sim porque Diego Rogério Menezes da Nóbrega é um um dos maiores golpistas que estava em atividade no Brasil até quinta-feira (11), quando foi preso em um ônibus nas proximidades de Vitória da Conquista.
Se passando por engenheiro agrônomo ou analista da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Diego seduziu mais de uma centena de vítimas, espalhadas em estados do norte ao sul do Brasil. Com papo leve e fala solta, o golpista abusava da boa fé de seus “dates” para subtrair itens pessoais das pessoas, como anéis e joias. Ele também visava automóveis e altas quantidades de dinheiro.
O script do golpe segue uma linha padrão de abordagem: bem sucedido, após viajar por diversos locais do Brasil, o suposto engenheiro “acabou de chegar” numa nova cidade, onde não conhece ninguém. Precisando de ajuda para conhecer pessoas e encontrar apartamento, ele se aproxima de mulheres e homens que o ajudariam nessa missão. De acordo com relatos das vítimas ouvidas pelo CORREIO, apenas três ou quatro dias depois seu plano final vem à tona, sempre em busca de itens de valor.
Para dar fidedignidade ao seu roteiro, Diego afirma que trabalhou por anos na Petrobras, e até mesmo chega a extremos, como pagar aluguéis dos supostos locais onde irá morar. Aliás, o extremo não é problema para o criminoso: ele chegou a tatuar o nome de uma das vítimas antes de efetuar o golpe. Além disso, o golpista também inventa inúmeras histórias, que vão desde ajudas benevolentes desenfreadas e até mesmo que seria o grande herdeiro de uma fortuna deixada por sua mãe após a morte.
Um dos casos aconteceu com uma soteropolitana, residente em Aracaju. Ela contou ao CORREIO que conheceu Diego através de um aplicativo de relacionamentos. Após o “match”, combinaram alguns encontros, e ele pediu para que ela o ajudasse a encontrar um apartamento na capital sergipana. Lar encontrado, Diego demonstrou uma suposta gratidão generosa até demais, se oferecendo para ajudar a “amada” a trocar seu carro, que segundo ele era “problemático” e deveria ser vendido. Mesmo a conhecendo há poucos dias, ele se ofereceu para pagar a diferença entre o carro antigo e o novo, pois "possuía muito dinheiro que fora herdado”. Trâmites feitos, carro antigo repassado ao novo dono, xeque mate. O golpista some com o valor obtido pela venda do carro, feita de maneira completamente legal. O prejuízo estimado para a vítima foi de R$ 25 mil.
Os golpes não foram somente contra pessoas, mas também contra lojas e empresas: uma das especialidades de Diego era o roubo de veículos de locadoras de automóveis. Utilizando de um baratino — em bom baianês — refinado, o contraventor se apropriava dos veículos após reservar apenas uma diária. Sempre utilizando documentos falsos, Diego os revendia e embolsava o dinheiro da venda.
Utilizando o codinome “Mineirin” no Tinder, a ficha corrida de Diego inicialmente parte de cerca de alguns inquéritos, que o deixaram com mandado de prisão em aberto. Em sequência, cerca de 100 mulheres afirmaram que foram lesadas por ele. Hoje, nas redes sociais, em especial no Facebook, onde uma das vítimas criou um perfil do golpista, oferecendo recompensa por informações que levassem à sua captura, são relatados cerca de 400 golpes aplicados pelo homem.
Por ora, essa extensa lista resultará no indiciamento por estelionato, conforme definido pelo artigo 171 do Código Penal, crime que tem pena de reclusão de um a cinco anos, com multa. O artigo diz que é estelionato "obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.
Prisão
Diego foi preso em fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na BR-116. Um ônibus interestadual foi parado na altura do KM 860. Os agentes pediram documentos do motorista e de passageiros para verificar no sistema.
A CNH apresentada por um dos passageiros, natural de Piracicaba (SP), levantou dúvidas nos policiais. Eles confirmaram que o documento tinha sinais de falsificação. O passageiro usava um nome e identificação de outra pessoa para burlar a ação de fiscalização. Depois de uma conversa, o passageiro confessou que comprou a CNH por R$ 600 na Praça da Sé, em São Paulo.
A consulta no banco de dados pelo nome verdadeiro do passageiro revelou que ele estava com vários mandados de prisão em aberto por conta de estelionatos em diversos lugares. A voz de prisão foi dada no local e ele foi encaminhado para a Delegacia de Vitória da Conquista.
* O Correio com orientação da subeditora Carol Neves