A ausência de um isolamento
social mais rígido em Manaus pode criar condições para o surgimento de novas
variantes de coronavírus, alerta o cientista Lucas Ferrante, pesquisador do
programa de biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
“A circulação do vírus em Manaus está
desenfreada e isso pode propiciar inclusive novas mutações tornando uma
linhagem resistente à vacina”, afirmou Ferrante. “O caso de Manaus pode se
tornar um problema de saúde pública mundial”.
No ponto de vista do
pesquisador, a abertura atual está acontecendo em um momento em que o fechamento
deveria ser ainda mais rígido. Ele afirma que nunca houve, de fato, um
isolamento rigoroso na cidade e que as medidas restritivas não conseguem frear
a transmissão comunitária. Para Ferrante, a falta do isolamento social rígido
pode inclusive prejudicar economicamente a região a longo prazo.
“O estado do Amazonas deve sofrer um colapso
do turismo e da indústria por conta de medidas que não estão sendo aplicadas
para a contenção dessa crise de saúde pública. Nós precisamos frear o avanço
dessa pandemia, porque caso a gente tenha uma variante resistente à vacina
agora em 2021, nós vamos ver oportunidades de nível mundial se fechando
economicamente para Manaus”.
No dia 21 de janeiro, o
cientista conta que teve uma reunião com o prefeito David Almeida, recomendando
um lockdown extensivo para a cidade.
“O aviso da segunda onda estava amplamente
difundido, não dá para utilizar a desculpa que foi a nova variante que surgiu
que causou a nova onda, até porque essa variante surgiu entre agosto e janeiro.
Ela é muito recente para ter propiciado isso e os danos que essa variante vai
causar ainda serão vistos”, afirmou.
Para o restabelecimento
econômico de Manaus, o cientista defende que é necessário realizar um
isolamento social de 20 dias a um mês para que seja evitada a ocorrência de uma
terceira onda em 2021.
No ano passado, após a
primeira onda de Covid-19 em Manaus, Ferrante chegou a coordenar uma nota
técnica, a pedido do Ministério Público do Amazonas, para recomendar restrições
na circulação em junho - mesma época em que o governador havia decidido reabrir
o comércio no estado. Os modelos epidemiológicos que previam a segunda onda
foram apresentados para a Fundação de Vigilância em Saúde e em reuniões na
Assembleia Legislativa do Amazonas.
Ainda em junho, o grupo de
pesquisa do qual o cientista faz parte publicou um trabalho na revista Nature,
alertando que Manaus passaria por uma segunda onda de Covid-19 no final do ano
passado e início de 2021 justamente pela negligência de não adotar um isolamento
social rígido.
Por
Luciana Rossetto e Leandro Guedes, G1 AM