Rogério Maria é uma das 73.912 pessoas que contraíram
Covid-19 em Campinas (SP). Entretanto, sua trajetória torna a recuperação uma
conquista ainda maior. Dos 68 dias internado, 42 foram em coma induzido,
entubado. A alta e reabilitação desafiadora dividiram espaço com a sorte,
ganhou num bolão parte do prêmio da Mega-Sena da Virada em 2020.
“Aprendi a viver mais feliz. Mesmo com todas essas
sequelas, mas ainda vou supera-las. Não desisti e não desisto jamais”.
Neste sábado (13), a cidade completa um ano do primeiro
caso confirmado de coronavírus, uma estudante de medicina que frequentou uma
festa na Bahia, onde outras pessoas se infectaram. Em 12 meses, 1.997 pessoas
perderam a vida para a doença, e muitas outras renasceram, como Rogério.
O analista de sistemas de 51 anos, pai de dois filhos,
foi infectado em julho, pico da primeira onda da pandemia. A piora no quadro
veio rápido e ele ficou hospitalizado na Casa de Saúde de Campinas.
“Sentei na cadeira de rodas e passei pelo corredor do
hospital. Essa é a última lembrança que tenho daquele dia, antes dos 42 dias em
coma”.
80% dos pulmões comprometidos
Rogério precisou de uma traqueostomia. Teve pneumonia e
infecção bacteriana em decorrência da baixa imunidade e do longo período de
internação. 80% dos pulmões ficaram comprometidos. Ainda apresentou trombose
generalizada e foi submetido a 28 dias de hemodiálise.
“Minha família foi chamada duas vezes para se despedir de
mim, porque os médicos não acreditavam na recuperação”.
Esposa, Iracema Teodoro passou apreensão, angústia e
dificuldades financeiras. “Era muito difícil passar as notícias dos médicos
para nossos filhos”. Mas a esperança veio com a melhora sucessiva do esposo.
Rogério acordou.
“Fiquei três dias sem dormir com medo de não acordar
mais. O medo de não sair de lá e a saudade dos meus filhos era demais. Eu
chorava todos os dias”.
27 kg a menos e sem andar
Rogério foi para casa em setembro com 27 kg a menos,
queda de cabelo e a pele escurecida pelos remédios que tomou. Teve perda de
memória recente e lesões nos nervos periféricos das duas pernas, que
impossibilitariam qualquer movimento por seis meses, segundo a previsão médica.
Durante a primeira quinzena em casa, tentava levantar da
cama e dar alguns passos, apesar das dores e da falta de ar. Logo conseguiu
caminhar pela casa, contrariando as expectativas.
“Pedi que levassem embora a cadeira de rodas, o andador e
a cadeira de banho, tudo que me lembrasse da minha condição, pois eu tinha que
superar o que estava passando. A partir daí, me arrastava pela casa, me apoiava
em tudo”.
Benefício negado no INSS e prêmio da Mega
Durante o coma, a família realizou um pedido de auxílio
por internação médica ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mas foi
negado. A justificativa do órgão, segundo Rogério, foi que ele estaria apto a
trabalhar, mesmo com o atestado de coma expedido pelo hospital.
Após novas tentativas, recebeu, até o momento, apenas uma
parcela do valor a que teria direito. O G1 questionou o INSS, que disse estar
analisando o caso para que os valores devidos sejam pagos corretamente. Alegou
que a documentação enviada em agosto não estava de acordo com o necessário e
que a perícia de Rogério está agendada para 31 de março.
“Na avaliação presencial, a perícia médica vai verificar
a data de início da incapacidade, podendo definir o pagamento retroativo do
auxílio.”, informou o órgão.
Em dezembro, a família recorreu a uma vaquinha online
para ajudar nas despesas com o tratamento. Não imaginavam que também teriam
sorte com um bolão da Mega-Sena da Virada. O grupo no qual Rogério estava
acertou cinco dezenas, e cada um recebeu o valor líquido de R$ 7.325,26.
O ano de 2021 ainda tem desafios. A capacidade pulmonar
foi restabelecida, ele recuperou 13 kg e ainda aprimora os passos, sob os olhos
de fisioterapeutas. Atualmente, Rogério já consegue pular, correr e fazer
exercícios de força. Um recomeço após a Covid-19.
“Sou um cara alegre, estou voltando a sorrir. É uma
batalha diária e minha superação está acontecendo. Tudo isso me fez dar valor
às pequenas coisas da vida”.
G1