Primeiro a depor na CPI da Pandemia, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, admitiu que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não adotou ou encomendou qualquer providência para evitar que o Brasil atingisse a marca de 180 mil mortes em decorrência da Covid-19 durante o ano de 2020. No dia 31 de dezembro, dados do Ministério da Saúde registraram um acúmulo até maior: 194.949 vidas perdidas para a doença. Pouco mais de quatro meses depois, nesta quarta-feira (4), o país chegou a 408.622 mortes decorrentes do coronavírus.
Mandetta foi questionado sobre o assunto pelo senador Renan
Calheiros, relator da CPI, no início desta tarde. O parlamentar lembrou que o
próprio ex-ministro mencionou essa estimativa no programa Conversa com Bial.
Questionado sobre como chegou à previsão, Mandetta esclareceu aos senadores que
encomendou três cenários: um otimista, um realista e um pessimista.
O primeiro foi entregue pelo então secretário executivo do
Ministério, João Gabbardo, "imaginando que o Brasil fosse uma ilha como a
Nova Zelândia, com condição de fechar tudo". Se as medidas para conter a
transmissão fossem todas exemplarmente executadas, o país poderia ter entre 30
e 40 óbitos, segundo essa projeção.
O cenário realista foi projetado pelo então secretário de
Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira. Esse segundo levava em conta a
situação enfrentada pelo Brasil, com desigualdade social, estados e cidades em
condições muito diferentes, o próprio comportamento da população, além das
dificuldades de impor distanciamento. A previsão foi de 80 a 90 mil óbitos.
Então, Mandetta ouviu o infectologista Júlio Croda, a quem
pediu um cenário pessimista, sem testagem adequada, rastreamento de casos,
distanciamento social e estrutura de saúde. O médico estimou 180 mil mortes.
"Eu levei, expliquei [ao presidente Bolsonaro]. Pra
quem tinha menos de mil [óbitos, na época do levantamento], era um número
difícil de fazer uma assertiva dessa. (...) Acho que ali ficou dúbia porque
tinha ex-ministros de Saúde, deputados dizendo o contrário, acho que naquele
momento o presidente achou que aquelas previsões eram menos assertivas",
disse Mandetta, que evitou atacar a falta de posicionamento técnico por parte
da Presidência da República.
Renan Calheiros, então, insistiu que ele expusesse a reação
de Bolsonaro a sua apresentação. O ex-ministro disse que o presidente parecia
compreender a gravidade do cenário, "mas passava-se dois, três dias, ele
voltava para aquela situação de quem não havia compreendido, apostado",
pontuou, frisando que ainda assim nunca chegou a ter uma discussão
"ácida" com Bolsonaro.
Para confirmar a posição de Mandetta, o relator questionou,
mais uma vez, se houve providência por parte do presidente ao que Mandetta
admitiu que "não". "Aquilo dali ficou... Tem outras pessoas que
falam outras coisas, não foi aquilo que foi capaz de unir", admitiu.
Segundo ele, Bolsonaro também nunca apresentou uma solução,
além de insistir no uso da cloroquina e no "isolamento vertical", que
seria apenas para idosos. Tanto o medicamento quanto a medida de restrição não
são respaldados pela comunidade científica.
CPI DA
PANDEMIA
Após responder os questionamentos do relator, Mandetta
deverá responder às questões apresentadas pelos outros membros da CPI. Se o
cronograma for mantido, ainda nesta terça o médico Nelson Teich, segundo a
ocupar o posto de ministro no governo, será ouvido em seguida.
Amanhã estava previsto o depoimento do terceiro ministro, o
general Eduardo Pazuello. Mas o presidente da comissão, senador Omar Aziz
(PSD-AM), adiantou que o militar disse ter tido contato com duas pessoas
diagnosticadas com Covid-19 e, portanto, entrará em quarentena. A oitiva deve
ser adiada (saiba mais aqui).
A CPI prevê ouvir ainda o atual ministro Marcelo Queiroga e
o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres. O objetivo é investigar
as ações e omissões do governo federal no combate à pandemia.
Redação Bahia Noticias