O valor cobrado da bandeira
vermelha 2, o patamar mais alto desse sistema, deve subir mais de 60%, de
acordo com fontes que conhecem o assunto de perto. Como o GLOBO antecipou,
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai aumentar os valores das
bandeiras tarifárias, uma taxa extra que é acionada quando o custo da geração
de energia sobe, o que está acontecendo neste ano por causa da crise nos
reservatórios das hidrelétricas.
Os custos estão sendo
calculados e os novos valores devem ser anunciados ainda neste mês, para valer
a partir de julho.
Hoje, é cobrado R$ 1,34 a cada
cem quilowatts-hora (kWh) consumidos na bandeira amarela; R$ 4,16 na bandeira
vermelha 1; e R$ 6,24 na vermelha 2. Na bandeira verde não há cobrança
adicional.
Pelos cálculos conduzidos pela
Aneel, o novo valor da bandeira vermelha 2 deve ser de cerca de R$ 10.
Analistas do setor estimam ser
necessário algo próximo a R$ 12 na bandeira vermelha 2 para que ela consiga dar
conta de cobrir os custos extras decorrentes da geração de energia por
termelétricas.
Essa bandeira deve vigorar
pelo menos até novembro, quando tem início o período úmido.
Custo de geração de energia
A bandeira tarifária é um
adicional cobrado nas contas de luz para cobrir o custo da geração de energia
por termelétricas, o que ocorre quando o nível dos reservatórios das
hidrelétricas está muito baixo, como está ocorrendo neste ano por conta da
crise hídrica.
O mecanismo também serve para
o consumidor ficar ciente do custo da geração de energia, ao dividir o sistema
em três cores: verde, amarela e vermelha (que tem dois patamares).
Mesmo durante o período úmido,
o governo deve manter as térmicas ligadas, o que não é o padrão.
Geralmente, recorre-se às
térmicas quando chove menos ou no auge do período seco. O objetivo agora é
guardar água nos reservatórios das hidrelétricas e, quando chover, fazer com
que as barragens se encham, numa tentativa de evitar racionamento em 2022, ano
de eleições.
O governo rechaça a
possibilidade de racionamento de energia neste ano.
O Brasil tem batido recordes
de geração de energia por termelétricas desde maio, com o agravamento da crise.
Os dez dias com mais geração
de energia por termelétricas na História do Brasil foram registrados em junho
deste ano, de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
O país tem gerado cerca de 17
mil megawatts médios de energia por termelétricas diariamente neste mês, o que
equivale a cerca de 25% da geração total de energia elétrica do país. Isso
inclui térmicas a óleo e carvão, as mais caras e poluentes.
Limite para geração de
termelétricas
A geração por hidrelétricas
está girando em torno de 60% do total. O país ainda gera energia por meio de
usinas eólicas, solares e nucleares.
Atualmente, o Brasil conta com
22 mil megawatts (MW) de potência em geração térmica, segundo o ONS, porém
parte deste montante, cerca de 20%, está indisponível por diversas razões. Por
isso, há um limite técnico para a geração por termelétricas.
De acordo com cálculos do
Ministério de Minas e Energia, a geração extra por termelétricas irá custar R$
9 bilhões aos consumidores neste ano. É por isso que a
Aneel irá reajustar o valor
cobrado nas bandeiras tarifárias, numa forma de cobrir esses custos.
O reajuste que está sendo
preparado para as bandeiras será o primeiro aumento desde 2019.
Os valores foram mantidos em
2020 e a bandeira verde foi acionada de junho a novembro.
Neste ano, a conta das
bandeiras já está com um rombo de R$ 1,5 bilhão.
Todo o dinheiro arrecadado com
a sobretaxa vai para uma conta única, que repassa os valores para os geradores
de energia.
Mas o valor arrecadado a mais
ainda não está dando conta de cobrir o custo adicional.
Os dados da Aneel vão até
abril, quando era aplicada a bandeira amarela. Depois de abril, a geração por
termelétricas aumentou e atingiu recordes. E também foi acionada a bandeira
vermelha.
A Aneel defende as bandeiras
porque, sem ela, todo o custo extra seria repassado aos consumidores apenas no
ano seguinte, com valores corrigidos. Ou seja, o consumidor acabava pagando
juros, o que não ocorre com o acionamento das bandeiras tarifárias.
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O Globo