Foto: Reprodução / Ricardo Stuckert/ Instituto Lula |
Principal rival de Jair Bolsonaro para as eleições de 2022,
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou a aproximação do
Planalto com o centrão para criticar a contradição no discurso do atual
mandatário.
"E o Bolsonaro que ficava falando que ia acabar com a
'a velha política'... Qual é a nova política dele? Ficar refém do centrão? Não
cumpriu uma coisa que ele falou", escreveu Lula em rede social, onde
divulgou também uma entrevista concedida à Rádio Difusora de Goiás.
Nesta manhã, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos
líderes do centrão e ex-aliado de Lula, anunciou que aceitou o convite de
Bolsonaro para assumir a Casa Civil.
O ex-presidente petista, que também governou com apoio de
congressistas do centrão, ainda mencionou a mensagem de Fabrício Queiroz, que
se queixou de aliados de Bolsonaro e escreveu em rede social "minha
metralhadora tá cheia de balas. kkkk". Queiroz é apontado com operador de
esquema da rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) na
Assembleia do Rio.
"Falava tanto de corrupção... Ainda ontem a noite eu
vi o Queiroz ameaçando ele", afirmou Lula.
O petista ainda ironizou pedidos para que, em nome de uma
união contra Bolsonaro em 2022, ele aceite ser candidato a vice.
"Quem tá pedindo pra eu ser candidato a vice deveria
se lançar candidato a presidente...", escreveu. "Quem quiser evitar
polarização, se candidate. É simples. Eu lembro que em 89 entrei como azarão,
disputando com 12 candidatos. E fui pro 2º turno... Cada partido que tiver
incomodado, basta lançar candidato."
Lula exaltou papel do vice um dia após Bolsonaro se queixar
do vice-presidente, general Hamilton Mourão, e dizer que por vezes ele
atrapalha.
"Um candidato a vice precisa ser parceiro. De
confiança. Se eu for candidato, quero um vice que dê complementariedade nas
funções do governo. Quero um vice atuante. E que seja uma pessoa que eu gosto,
que eu vá dormir tranquilo. Sabendo que ele também vai cuidar do país",
disse.
O convite de Bolsonaro para que Ciro Nogueira vá para a
principal pasta do Palácio do Planalto é a jogada mais robusta que o presidente
fez até aqui para assegurar o apoio de partidos e da base de congressistas ao
seu governo.
Aliados também esperam que Ciro Nogueira costure as alianças
políticas necessárias para a campanha de reeleição de Bolsonaro.
Sobre o ex-presidente, Ciro já chegou a dizer que
"Lula foi o melhor presidente da história, principalmente para o Piauí e
Nordeste". O senador mudou radicalmente o seu discurso a respeito de
Bolsonaro, que já foi correligionário e colega de Câmara dos Deputados.
"O Bolsonaro eu tenho muita restrição, porque é um
fascista, tem um caráter fascista, preconceituoso, é muito fácil você ir para a
televisão, dizer que vai matar bandido. É um discurso muito fácil, mas isso não
é para a Presidência da República", disse Ciro Nogueira em uma entrevista
de 2017 ao Programa Agora, da Rede Meio Norte, a mesma em que elogiou Lula.
Ao trazer o senador para o coração do governo, Bolsonaro
sela seu casamento com o centrão -grupo de legendas fisiológicas que, na
campanha de 2018, era frequentemente criticado pelo então presidenciável.
O episódio que marcou o discurso contra a velha política na
campanha foi protagonizado pelo atual ministro do GSI (Gabinete de Segurança
Institucional), Augusto Heleno.
"Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão",
cantou o general num ato partidário de 2018. Em sua versão, ele canta
"centrão" no lugar de "ladrão", que consta na letra
original composta por Ary do Cavaco e Bebeto Di São João.
Pouco mais de dois anos depois, o discurso mudou
radicalmente. "Eu nasci de lá [do centrão]", afirmou Bolsonaro nesta
quinta-feira (22), também em entrevista. "Eu sou do centrão."
Atualmente, pesquisas indicam aumento na reprovação do
governo e favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o
pleito do próximo ano.
Lula cravou 58% a 31% em simulação de segundo turno,
segundo a pesquisa mais recente do Datafolha.
Por Folhapress