Em poucos minutos, um
patrimônio sacro de mais de 50 anos virou um amontoado de cacos. As quatro
únicas imagens religiosas da Capela de São Roque, do povoado de Tanque da Laje,
a oito quilômetros de Itatim, região central da Bahia, foram totalmente
destruídas no começo da manhã da última quarta-feira (18).
Segundo testemunhas, um jovem
evangélico arrombou a porta pouco depois das 6h, entrou na igrejinha e quebrou
tudo. Após um vizinho ouvir o barulho das imagens sendo destruídas, moradores
vizinhos começaram a se dirigir à capela.
No chão, viram espalhados
pequenos pedaços das imagens de São Roque, padroeiro da capela, a de Santa
Luzia, Nossa Senhora da Conceição e um crucifixo de madeira e metal fundido. A
mais antiga delas era a de São Roque, que estava no local havia mais de 50
anos. As outras, tinham mais de 40 anos.
A paróquia ainda não conseguiu
estimar o prejuízo material. Enquanto destruía as peças, o homem usava palavras
para reforçar o ato de intolerância religiosa: “Pra que santo?”, “Santo tem
boca, mas não fala”, “Deus não mandou fazer imagem”, “Católico fica adorando
imagem” e também citou alguns versículos da bíblia.
Em nota, a paróquia diz que o
homem “insultou a fé católica com palavras agressivas e de agravo à nossa fé”.
O ato chocou a comunidade, que correu para ver o cenário de destruição deixado
no local.
Quando chegaram lá ainda
encontraram o jovem. Algumas pessoas quiseram linchá-lo, mas membros do
Conselho Pastoral Administrativo da Comunidade (Compac) impediram. “Pedi para
que não fizessem isso porque a gente precisa mostrar ao mundo a face do amor e
do perdão”, explicou o padre José Barreto de Farias Filho, pároco da Igreja de
Nossa Senhora da Conceição de Itatim, paróquia a qual a capela está vinculada.
Ele diz que nunca viveu isso em quase 19 anos de sacerdócio. Já conviveu com
roubos nas igrejas, mas ato de intolerância religiosa é a primeira vez. E a
sensação, ele diz, não tinha como ser pior. “Quando entrei na capela e vi tudo
destruído, não suportei, chorei. A sensação era que lá dentro tinha um corpo,
uma pessoa morta.
Foi um sentimento muito ruim”,
diz o padre José Barreto. Ministra da eucaristia da capela, Eliete da Silva
Mascena Souza, 42 anos, diz que o sentimento é de muita tristeza. “Foi um baque
muito grande. Quando eu vi o barulho e a porta da igreja arrombada, com tudo no
chão quebrado, deu um aperto no peito. Foi um baque muito grande não só para
mim, mas para todo mundo que faz parte da igreja”, conta. Uma ministra da
palavra, que mora um pouco mais distante da capela, foi chamada para ver o
estrago e, quando chegou lá, não conteve a emoção. “Ela chegou a passar mal,
foi hospitalizada pela emoção que ela ficou. É um sentimento de muita
tristeza”, traduz Eliete. A comunidade suspeita que o ato tenha sido
premeditado, já que o jovem, que não teve a identidade divulgada, já teria
tentado arrombar a porta da capela no começo da noite de terça-feira (17). Um
morador teria conseguido impedir. “Ele teria dito que as imagens levavam os
católicos para o inferno, que é culto a ídolos”, contou o padre. O jovem é de
uma família evangélica e mora na cidade de Itatim. Moradores do povoado contam
que, aparentemente, ele não possui nenhum distúrbio. “Ele parece ser uma pessoa
normal, é trabalhador, tem uma moto e trabalha com divulgação de publicidade”,
conta o padre.
Procurada, a Polícia Militar
(PM) informou que a 27ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM),
unidade que atende à região, foi acionada por populares na manhã de
quarta-feira (18) após um homem ter arrombado a porta de uma igreja católica e
danificado os objetos encontrados no interior do santuário. “Ao chegarem, os
PMs constataram a veracidade do relatado.
O homem foi detido e
encaminhado à delegacia para o registro da ocorrência”. Já a Polícia Civil
informou que não encontrou registro da ocorrência na Delegacia de Santa
Terezinha.
O padre informou que o ataque
foi registrado na manhã dessa quinta-feira (19). Após as medidas burocráticas
terem sido adotadas, o esforço agora é para voltar a ocupar os altares com
novas imagens dos santos, já que não será possível recuperar as que foram
destruídas. No local ocorre missa uma vez por mês, mas todo domingo tem
celebração da palavra.
Na última segunda-feira, os
fiéis se reuniram na capela em missa festiva para celebrar São Roque, o
padroeiro da casa. Agora, o altar está vazio. Mas a paróquia começa a se
mobilizar para fazer uma campanha para que o altar volte a ser ocupado. Quem
quiser ajudar pode fazer uma doação na conta bancária da paróquia: agência
0240-2/ Conta 27.707-x – Banco do Brasil.
Fonte: Correio