'Quando vocês pararem na sinaleira e derem seus trocados, lá continuarão crianças em vulnerabilidade', alerta delegada sobre exploração infantil

 

Foto: Itana Alencar/G1BA

A titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca) fez alertas sobre a exploração infantil, nesta sexta-feira (24). Na quinta (23), ela encaminhou mais de 20 crianças em situação de vulnerabilidade social, das ruas de Salvador, ao Conselho Tutelar.

                                                                

A polícia identificou pontos estratégicos que eram usados pelos adultos, para submeter as vítimas à exploração. As abordagens foram feitas nas regiões da Rótula do Abacaxi e na Avenida Paralela, além do bairro da Pituba.

 

“Basta sair às ruas, passar por sinaleiras e lá estão crianças vendendo balas ou qualquer outra coisa, ou em situação de mendicância. Nós achamos que isso é comum, só que essa conduta é crime. Isso é exploração do trabalho infantil", pontuou a delegada.

 

"Isso também é abandono moral e abandono intelectual também, porque a maioria dessas crianças, ao invés de estarem em escolas, estão nas ruas. Essas crianças, muitas vezes são locadas ou emprestadas para sensibilizar a população que passa nos semáforos”.

 

Das mais de 20 crianças que foram identificadas, cinco estavam "emprestadas ou alugadas" pelas famílias, algumas na companhia de outros menores de idade, adolescentes. As investigações levaram cerca de uma semana, segundo a delegada.

 

“A gente investigou e vimos lugares que, todos os dias da semana tinham crianças nessa situação. E ontem [quinta, 23] nós conseguimos tirar dessas ruas 20 crianças. Cinco delas não estavam com seus pais, estavam com terceiros: vizinhos ou outros parentes. Inclusive outros menores, adolescentes, acompanhando crianças nessa situação. Todos, crianças e adultos foram levados para delegacia", informou a delegada.

 

"Os adultos foram interrogados e os crimes que eu falei são crimes de menor potencial ofensivo, por isso eles não puderam ser autuados em flagrante, mas foi lavrado procedimento próprio e essas condutas vão ser apuradas, eles vão responder pelos crimes que cometeram".

Simone falou ainda que a contribuição financeira que a população dá a essas crianças coopera para que elas sejam mantidas em situação de exploração por parte dos adultos, já que o fato de serem pequenas comove as pessoas.

 

"Quando vocês pararem na sinaleira, e derem seus trocados e saírem com a consciência tranquila, lá ficarão e continuarão crianças em situação de vulnerabilidade", destacou ela.

"Peçam que a rede de proteção à criança tem um posicionamento mais firme em relação a isso, peçam que a população pense nessa situação e exija políticas públicas e que os órgãos estatais façam, efetivamente, políticas públicas para essas famílias".

 

O inquérito já foi aberto e os adultos responderão criminalmente. Depois de passar pelo Conselho Tutelar, as crianças foram encaminhadas sob responsabilidade de outros familiares. A polícia também direcionou as famílias para análise de integração em programas sociais da prefeitura.

 

A delegada destacou que, há um contexto de vulnerabilidade social que leva à exploração infantil, que não pode ser ignorado, apesar do crime.

 

"Que fique bem esclarecido que: você pode ter uma situação financeira difícil, você pode estar na informalidade, você precisa ir para as ruas, inclusive pedir esmolas. Mas você não pode se fazer acompanhado dos seus filhos. Isto é crime”

 

Fonte: G1

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