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A crise hídrica que castiga
parte da região Nordeste já levou mais de 500 municípios a decretar situação de
emergência. É só o carro-pipa começar a abastecer a caixa d´água comunitária
para ter início o vaivém dos baldes e a disputa por espaço nas torneiras.
“Até a última gota, porque
ele passa três, quatro dias sem vim. Todo mundo pega água. Quem pegou, pegou.
Quem não pegou, fica sem pegar”, diz a agricultora Gilvanilza Pinheiro da Paz.
A não ser quando um comerciante generoso deixa água do próprio poço à
disposição dos moradores.
Já faz dois meses que os
moradores de Pedra Branca, a quase 300 quilômetros de Fortaleza, enfrentam esta
situação em plena área urbana.
Com a chuva insuficiente no
começo do ano, o único açude que abastece a cidade ficou totalmente inviável
para o fornecimento de água. Os mais de 18 bilhões de litros que ocupavam uma
área de oito quilômetros, agora se resumem a isso, e os carros-pipa têm que
buscar água a mais de 150 quilômetros do local.
As opções diminuem conforme
a seca se prolonga. Em todo o estado do Ceará, os reservatórios estão, em
média, com 24% da capacidade.
“A palavra de ordem é
economizar, e aguardar o próximo período chuvoso. Principalmente a partir de
fevereiro, que é quando, em algumas regiões do estado, começam os reservatórios
a ter aporte. Mas, sobretudo, em março e abril”, afirma Francisco Teixeira, secretário
dos Recursos Hídricos do Ceará.
Até lá deve aumentar a
quantidade de municípios em situação de emergência no Nordeste. Já são 537,
quase um terço de toda a região que, em 2021, recebeu quase R$ 600 milhões do
Ministério do Desenvolvimento Regional.
Apesar da situação de
emergência decretada, Santa Quitéria, no sertão do Ceará, só tem três
carros-pipa para atender toda a área rural – que já contou com 18 em anos
anteriores.
“Os carros-pipa botam na
cisterna, mas aí quando acaba, que demora pros carros vir, a gente vai pegar
nos barreiros”, relata Antônia Mesquita Batista, agricultora.
Barreiro é lugar de água
turva, como um no município de Irauçuba. É onde Dona Francisca vai diariamente,
quando não tem nenhuma outra fonte para abastecer a casa.
“O carro-pipa coloca uma
‘carrada’ por vez, mas aí às vezes seca, passam oito dias, nove dias, pra eles
poderem voltar e botar de novo. A gente é esquecido aqui”, desabafa Francisca
Garcia Batista, agricultora.
Sobre o município de Santa
Quitéria, o Ministério do Desenvolvimento Regional afirmou que deu instrução
para o Exército iniciar a operação carro-pipa. Os caminhões que atendem a área
rural da cidade atualmente são contratados pelo próprio município.
Jornal Nacional / Foto
Agencia Brasil arquivo