A morte trágica da cantora e
compositora Marília Mendonça e de outras quatro pessoas em um acidente aéreo
nesta sexta-feira (5) trouxe à tona novamente a discussão sobre o índice de
incidentes envolvendo a aviação particular no país.
Além de Marília, morreram no
acidente o produtor Henrique Ribeiro, o tio e assessor da cantora, Abicieli
Silveira Dias Filho, o piloto e o copiloto do avião, cujos nomes ainda não
foram confirmados.
Aviões particulares - em
geral, de menor porte, como o usado pelo cantora - estão envolvidos na maior
parte dos incidentes ou acidentes de aviação no país.
Para um especialista
consultado pela BBC News Brasil, uma série de fatores podem explicar essa
diferença, como uma menor especialização de pilotos, menos manutenção em
relação a grandes aeronaves e também exigências mais brandas em comparação com
o que é solicitado para grandes companhias aéreas (leia mais abaixo).
Entre 2010 e 2019, o Brasil
registrou 1.210 acidentes com aviões, segundo dados do Centro de Investigação e
Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Em média, ocorreram 121
acidentes aéreos no Brasil por ano no período, mas a maior parte deles sem
grandes consequências.
De acordo com o órgão, 46% dos
acidentes no período ocorreram com aviões do segmento particular. Já 20% eram
com aeronaves agrícolas e 14,72% eram de instrução. A aviação regular, também
conhecida como comercial e que tem aeronaves de grande porte, foi responsável
por 1% dos acidentes.
Segundo dados de 2019 da Anac,
equipamentos particulares são maioria esmagadora no país. Naquele ano, o Brasil
tinha 22.219 aeronaves registradas - 47% delas são particulares. Apenas 3%
pertencem à aviação regular, conhecida como comercial.
No período, 524 pessoas
morreram em acidente aéreos no país entre 2010 e 2019 - em média, 53 vítimas
por ano.
Entre as causas dos acidentes
envolvendo aeronaves particulares, 44,3% do total ocorreram por "falha do
motor em voo", "perda de controle em voo" e "perda do
controle em solo"
Segundo o Cenipa, 53% das
pessoas que estavam em aviões acidentados (entre passageiros, tripulantes e
terceiros) saíram ilesas. Outras 17% morreram e 16% tiveram ferimentos leves.
Já 8% se feriram gravemente.
Por que aviação particular tem
mais acidentes
Presidente da Vinci
Aeronáutica, o engenheiro aeronáutico Shailon Ian explicou à BBC News Brasil
que há três fatores principais que tornam os acidentes com pequenas aeronaves
mais comuns: a certificação, a operação e a manutenção das aeronaves.
Segundo ele, é muito mais
complexo fazer o registro de uma aeronave que leva centenas de passageiros do
que uma particular, para fins agrícolas ou fotojornalismo, por exemplo. O que
define um avião comercial é o peso da aeronave e a quantidade de passageiros
que ela pode carregar - acima de 19 assentos.
Quanto mais pessoas, maiores
são os níveis de exigência nas avaliações e fiscalizações da Anac.
"Existem níveis
diferentes de requisitos em função da capacidade do avião. Quanto mais leve e
menos gente a aeronave carregar, mais brandos são os requisitos. Se o uso for
particular, há uma exigência, mas se o dono for fazer táxi aéreo, haverá mais
requisitos porque ele vai vender serviços e transportar leigos em aviação, por
exemplo", afirmou o especialista.
O segundo ponto citado por Ian
é a operação, que exige diferentes níveis de preparo e experiência do piloto,
de acordo com o tamanho da aeronave. Ele explica, por exemplo, que é necessário
que o piloto tenha mais especializações e uma quantidade de horas de voo muito
maior para ser habilitado a pilotar aviões comerciais, com centenas de
passageiros.
"Um piloto que trabalha
com uma aeronave para fins agrícolas, por exemplo, não precisa de tanto
treinamento e horas de voo que um piloto de táxi aéreo, que leva outras
pessoas, ou um Boeing, com centenas de pessoas", afirmou o presidente da
Vinci Aeronáutica à BBC News Brasil.
Shailon Ian explica que as
exigências também são diferentes porque cada aeronave está preparada para um
tipo de voo. E o piloto deve ter treinamentos e experiências diferentes para
ser autorizado a pilotá-la.
"Muitos acidentes
acontecem porque, muitas vezes, o piloto ou aeronave não estão preparados para
aquele tipo de situação. Por exemplo, se um piloto está fazendo um voo visual e
o tempo fecha. Se nem ele ou o avião estão preparados para aquela situação, a
chance de acontecer um acidente é maior. Na aviação comercial, isso não
acontece porque é exigido um nível mais alto de experiência do piloto e
instrumentos e tecnologia da aeronave", afirmou.
Por BBC News