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A empresária Neila Lara Baragchum chegou a ser chamada de
louca por ter acionado o Corpo de bombeiros e denunciado as rachaduras no
prédio que desabou na última quinta, 6 em Taguatinga Sul – a meia hora de
Brasília.
Agora, depois que o edifício ruiu, ela agradece por ter
conseguido evitar a morte de mais de 50 famílias que viviam lá, a maioria de
aluguel: “Deus me usou para que nenhuma vida fosse perdida”, disse a
sobrevivente de desabamento em entrevista ao Correio Braziliense.
A empresária, que tinha um oficina no térreo do prédio,
conta que sentiu uma sensação estranha ao notar rachaduras nas paredes, por
isso ligou para o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) e
alertou sobre a possibilidade de o edifício desabar a qualquer momento.
A loja onde funcionava a oficina mecânica dela e do
marido, Rabib Baragchum, foi fundada por ele em 2001 e o imóvel era alugado.
Ela
pressentiu que algo ruim ia acontecer
Na quarta-feira (5/1), um dia antes de o prédio desabar,
Neila estava de cama em casa, em Samambaia Norte, por conta das fortes dores
causadas por pedras nos rins e não foi trabalhar.
Na quinta-feira (6/1), no dia do desabamento, mesmo
sentindo-se mal, a mulher decidiu acompanhar o marido. Por volta das 7h30,
quando Rabib abriu a oficina, percebeu que pedaços de cimento caíram no chão.
“Senti um incômodo grande e falei para o meu marido que
não queria ficar lá dentro para morrer com meu neto, pois Deus havia falado em
meu coração que o prédio ia cair”, relata.
Rabib não acreditou nas palavras da mulher e disse que um
prédio daquele não iria cair dessa forma tão rápido. O empresário, então, pediu
para que Neila acionasse um transporte por aplicativo e voltasse para casa.
“Ela disse que não iria embora, que era minha esposa e
que tinha que ficar comigo onde eu estivesse. Foi quando ela falou que iria
chamar os bombeiros, e eu disse para fazer o que achasse melhor”, confessa
Rabib.
Pedido
de socorro
Por volta das 8h, Neila saiu da oficina e acionou o Corpo
de Bombeiros.
“Disse que era urgente. Quando eles perceberam o
desespero por meio da minha voz, entenderam a gravidade do assunto. Por volta
das 11h30, eles chegaram e interditaram o prédio. Foi um sinal”, disse a
empreendedora, que é evangélica.
Os militares fizeram uma avaliação no prédio e
constataram inúmeras rachaduras.
A
interdição
A Defesa Civil chegou em seguida e deu a ordem para que
todos os moradores saíssem dos apartamentos imediatamente. Pouco tempo depois o
prédio ruiu.
“Eu fiquei muito assustado e, ao mesmo tempo, arrependido
por não ter dado ouvidos à minha esposa. Quando vi o prédio sendo evacuado,
perguntei se eu poderia tirar um equipamento de um cliente de dentro da
oficina, mas não deixaram e mandaram eu sair às pressas. Quando estávamos do
lado de fora, apontei o dedo para mostrar uma rachadura ao técnico. Quando
abaixei o braço, vi o prédio desmoronar”, lamenta Rabib.
“Nós perdemos tudo, mas o Senhor nos deu uma nova
oportunidade. Foi isso que aconteceu com cada um”, desabafa Neila, emocionada.
De acordo com o CBMDF, segundos antes de a estrutura
tombar, o prédio começou a ceder lentamente. Três pavimentos continuam
inteiros, porém a situação é crítica, e pode acontecer outro desabamento a
qualquer momento, segundo os militares.
Além dos órgãos fiscalizadores, cães farejadores foram
acionados para realizarem varredura no local a fim de verificar se há alguma
vítima que não tenha sido resgatada.
Animais
nos escombros
Seu Francisco das Chagas chegou desesperado ao local à
procura dos cachorros dele. Eles estão presos no apartamento desde
quinta-feira, dia que o prédio desabou. Mas o homem garantiu que ração e água
eles têm.
Agoniado para ver os animais e resgatá-los, Francisco
passou o dia conversando com a Defesa Civil e com os bombeiros para tentar
providenciar uma forma segura de retirar os pets.
“São três cadelas e um hamster que ainda estão lá dentro.
Uma tem 14 anos, outra 11 anos e a outra 10. Elas são mais velhas porque eu
adotei da rua. É ruim demais, parece que morreu alguém da família, minha vida
são os meus cachorros. Todo mundo que me conhece sabe o amor que eu tenho por
eles. Eu amo meus bichos. Tomara que eles consigam resgatar o quanto antes”,
pediu Francisco.
Com informações do Correio Braziliense