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O lavrador José Raimundo Costa, de 60 anos, ficou conhecido como “morto-vivo”, em Pedrão, cidade onde mora, a cerca de 142 km de Salvador. O homem ganhou esse apelido depois de uma descoberta inusitada: aos 55 anos, cheio de saúde, descobriu que estava morto após uma consulta no cartório do município.
Na pequena cidade de pouco mais de 7.300 habitantes, é difícil encontrar alguém que não conheça essa história. O “morto-vivo” de Pedrão não é nenhuma lenda ou “causo” do município que fica no interior baiano.
A “morte” do idoso não tem causa e nem registro nos cartórios, mas tem data: 19 de agosto de 2011. O nome de José Raimundo consta no Sistema Informatizado de Controle de Óbitos (Sisobi), mas para a Receita Federal, o documento Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) está válido.
No entanto, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), os bancos e o Sistema Único de Saúde (SUS) usam os dados ofertados pelo Sisobi. Com isso, a vida do lavrador virou um pesadelo.
É da terra que José Raimundo tira o sustento da família. Na roça, ele planta milho, feijão, mandioca e cria alguns animais.
Para o trabalho duro no campo, que dá conta sozinho, ele está bem vivo. A experiência de mais de 40 anos como lavrador rendeu a ele a habilidade de reconhecer, de longe, uma safra perdida, mas quando isso acontece, o fato de estar oficialmente morto impede que ele tenha acesso ao Seguro Safra ou a empréstimos em bancos.
José Raimundo sempre dependeu dessas soluções para enfrentar os períodos de má colheita. Atualmente, o idoso teme não conseguir se aposentar.
Além disso, não conseguiu receber o auxílio emergencial oferecido durante a pandemia da Covid-19 e tem dificuldade para ter acesso a remédios e atendimento médico na rede pública de saúde.
A única coisa que conseguiu fazer durante a vida “pós-morte” foi renovar a carteira de identidade.
Divanêre Batista virou esposa de José Raimundo e ficou viúva ao mesmo tempo. A aposentada conta que se casou com o “morto” sem saber da situação que ele enfrentava.
Em 2020, o INSS disse que o erro aconteceu porque o CPF do lavrador foi colocado na certidão de óbito da mãe dele e orientou que o idoso procurasse o cartório para alterar os dados. José Raimundo cumpriu a orientação, mas a medida não foi suficiente para “trazê-lo a vida novamente”.
O lavrador tenta através da Justiça a tão sonhada “ressurreição”. Fora do cemitério, onde devia estar enterrado se realmente estivesse morto, o lavrador aproveita para fazer uma oração: não passar pela “porta do céu” tão cedo.
Por g1 BA e TV Bahia